presente

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Corri para o salão de festas, tentando não virar o pé enquanto subo as escadas levantando o vestido e segurando o chapéu da beca.

Obviamente estou atrasada, como em todos os momentos importantes da minha vida. Até nascer de 10 meses eu nasci! Mas isso não importa, o que importa é que realmente tropecei. E quase cairia, se não fosse por duas mãos fortes que me seguraram pelos braços.

– Meu deus Nobara, toma cuidado! – disse Yuuji, me equilibrando. Merda, queria que fosse Maki. O clichê da escada se repetindo, imagine só!

Me desvencilhei de seu toque e alisei minha roupa.

– Estou atrasada!

– Eu sei. Vamos, Maki tá tendo uma úlcera de tanto te esperar.

Voltamos a correr apressados, e no caminho ele me fala que, na realidade, estava indo me procurar e não só passear. Solto um riso nasalado e tento manter o passo junto ao dele, o que não é tão fácil já que o menino é uma maquina humana.

Finalmente chegamos no salão, onde a Zenin vem direto para me encontrar.

– O que houve? Você se atrasou bastante! Mas está linda, amor, perfeita como sempre! – ela diz e segura meus cotovelos.

– Demorei a me arrumar! Obrigada, anjo, mas eu tô parecendo uma freira com essa beca, nem tente mentir!

Ela ri, me girando um pouquinho.

– Não reclame, você fica linda de qualquer jeito. Tô ansiosa pra minha vez de usar essa roupinha...

– Quem mandou ser mediciner, né, amor?

Ela novamente solta um sorriso e Itadori limpa a gargante, falando que já estão formando a fila de entrada. Dou um beijo estalado em Maki e vou direto para meu lugar, esperando que não se importem de que eu tenha que furar a fila alfabética. Yuuji, obviamente, vai até o final dela me deixando sozinha no meio de pessoas que eu não conhecia. Isso me deixa meio nervosa mas havíamos treinado mil vezes essa entrada. Eu não posso errar.

Olhei a multidão de cabeças no pequeno espaço onde entraríamos e procurei meus pais, achando-os do lado de minha namorada, a qual estava conversando com eles animadamente junto de seus próprios pais.

Sorri. Ela tem esse dom de contagiar todos com qualquer assunto.

Como já cheguei atrasada, não demorou muito para começarem a famosa enrolação. Um monte de blá-blá-blá, nossa instituição pra ali, nossa instituição pra cá. A baboseira normal de toda formatura. Confesso que vi muitas pessoas se emocionando com esse discurso meia boca, mas nada que fosse mudar minha expressão neutra sobre isso.

Por fim, as luzes diminuem sua intensidade e um holofote se aponta para a primeira pessoa, que anda pelo tapete azul que rolaram até o palco enquanto dança alguns passos de alguma música da Katy Perry. Ok, isso foi engraçado, mas precisariam esperar até minha música para ver o que seria bom de verdade.

Algumas palavrinhas emocionantes depois e fomos pra próxima pessoa.

Nunca quis tanto me chamar Armanda ou Amber ou até Alehja, qualquer nome esquisito com "A" que diminuísse minha ansiedade de chegar até o pequeno palco e terminar logo com tudo isso e finalmente olhar o resultado da aplicação de trabalho em uma grife que mandei currículo - o qual chegou o e-mail hoje de manhã mas não tive coragem de olhar por medo de estragar meu dia.

As músicas vão passando e é possível ver a diferença de gostos, os ritmos variando entre kpop, pop, rock e pagode, tudo o que se tem direito em uma formatura ótima.

Por fim, faltavam duas pessoas em minha frente, e ai comecei a ficar nervosa.

Tipo, eu realmente estou pronta? Se formar não era pra ser algo da vida adulta? Por que me sinto tão nova? Nunca achei que me formar cedo seria um problema mas, realmente, minha idade parece me puxar um pouquinho para a realidade da situação de agora.

Me vejo com uma pessoa apenas me separando do palco, do diploma e tento acalmar minha respiração. Busco o olhar de Maki na multidão e sei que ela me encara. Confirmo isso quando nossos olhares se encontram e ela vê minha expressão piorar a medida que a última pessoa que me separa começa a andar ao som de Conan Gray e eu percebo que é real. É agora. Ela balbucia um "você consegue" e isso me faz me concentrar na imaginação do tom de voz dela, que seria meio rouco ao me falar isso, com certeza.

A última pessoa acaba seu discurso falando um obrigado, o que faz os holofotes se virarem pra mim. No mesmo momento abro um sorriso e fecho os olhos, esperando as primeiras notas de "DADDY" do psy tocarem antes de entrar fazendo a coreografia, dessa vez ainda com medo do palco, mas curtindo o tapete que treinei tantas vezes com meu melhor amigo. Começo a fingir que Yuuji está ao meu lado, e consigo ver a cara chocada de Sukuna ao me ver praticamente sarrando no refrão da música. Fazer o quê, é um clássico.

Subo as escadas e aperto as mãos de cada um de meus professores antes de apertar a do diretor e segurar meu diploma para falar no microfone. O abaixo um pouco antes de falar.

– Bom, boa noite primeiramente! Quero ser rápida falando com vocês porque sei o nervosismo que as pessoas da fila estão passando, mas quero também ser capaz de mostrar a gratidão que tenho por toda a universidade por ter me dado a oportunidade de estar aqui hoje, com um diploma, com meus amigos que com certeza estão orgulhosos de mim, com meus pais que me apoiaram cem por cento em todo o trajeto – olha, uma mentirinha não dói, né? – e, principalmente, pela minha namorada que está me olhando como se eu fosse a jóia mais perfeita que ela já viu. Talvez eu seja, mas isso não vem ao caso. Com essas pessoas da faculdade, com os professores e o ambiente, cresci muito mais do que imaginei que iria. Essa experiência, a experiência de passar por tudo isso e valer a pena é indescritível. Todo esse tempo tive altos e baixos. Aprendi bem mais do que design e moda na faculdade e muitos dos meus valores agora vem das pessoas que me ensinaram. Por isso, agradeço a todos vocês, professores, sem excessão. Obrigada por tudo o que fizeram por mim, por nós! Viva la vida, Baby, do que adianta ser bonita e ser analfabeta?!

Ouvi alguém na plateia completando com o "eu sou formada mas só falo merda", mas essa pessoa foi engolida por aplausos. Desci da plataforma tremendo um pouco, e encontrei minha namorada na base da escada, com os braços abertos e segurando um buquê de flores. Me joguei em seu abraço e a dei um beijão na bochecha - só para não assustar os pais.

– Você foi incrível – ela sussurrou – Finalmente tudo o que você queria, certo?

– Quase tudo – falei, tirando o celular do bolso – falta uma coisinha.

Abri o e-mail.

"Cara senhorita Kugisaki,

É nosso prazer informar que analisamos seu currículo e, por mais que seja recém formada e não possamos te aceitar na vaga que você aplicou, te damos a honra de participar do nosso grupo jovem, desenvolvendo ideias e designs com outros jovens para..."

Fiquei boquiaberta e Maki estalou os dedos na minha cara.

– Ei, o que foi?

– Eu sou oficialmente contratada, baby, finalmente minha vida tem um rumo!!

Ela me beija de verdade dessa vez, sem conter a empolgação.

Vejo meus pais se aproximando lentamente, e ouço muito bem eles me parabenizando imensamente. Estou feliz. Estou mesmo. Estou em casa

[...]

– Mas e então... O que fazemos agora? – Itadori me pergunta, sentado na cadeira gordurosa da única sorveteria 24h na nossa cidade. Estamos todos de roupas de gala, comendo hambúrgueres e milkshakes às 4 da manhã. Sukuna arrota e leva um tapa de Mahito. Me reencosto em Maki. Itadori tem sua mão entrelaçada à de Megumi.

– Sei lá. – respondeu seu irmão.

– A gente vive. – falei, encarando o sol nascendo.

University • nobamaki Where stories live. Discover now