A Cor Da Raiva

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Lars podia ter acabado de começar uma guerra sem saber. É claro que ele não pensava que Emilie fosse tão burra de iniciar um confronto com Snöland. A Grã-Francia já tinha vencido uma vez, mas isso era quando tinha o território que hoje é a Nova Bretanha ao seu lado.

O que o príncipe fizera foi apenas garantir a aliança consolidada, não só com o matrimonio de sua prima com o regente grão-francês, mas também com um contrato assinado. Rainha ou príncipe, não fazia diferença, contrato era contrato, sobretudo se era assinado por ambos.

As pessoas, no geral, achavam que os monarcas estavam acima da lei, que nada se aplicava a eles, afinal, eles eram a Lei. Mas isso era uma ideia equivocada. Reis e rainhas também tinham que se submeter a justiça, como qualquer um.

Lars desceu do carro e ajeitou seu paletó. Subiu as escadas que davam para o hall do castelo e sentiu o olhar dos guardas recaírem sobre ele, como se do nada Lars fosse tirar uma arma da cintura e assassinar o primeiro membro da realeza que visse. Era como se, apenas por ser um snölês, ele fosse tramar contra a Grã-Francia ao respirar.

Caminhou pelo hall vazio e silencioso em direção ao amplo corredor que levava até os quartos de visita. Via a escada logo a frente, mas uma fumaça pairando no ar chamou a sua atenção. Parado, em frente a uma janela aberta, próximo a uma poltrona e uma mesinha decorada com um vaso de flores, estava Jonathan segurando um cigarro entre os dedos.

– Eu não sabia que você fumava – disse Lars ao se aproximar.

– Eu não fumo – falou Jonathan ao levar o cigarro a boca e dar uma tragada, sem olhar para Lars.

Ele encava a fonte que ficava em frente à entrada do castelo, onde havia a estátua de uma sereia segurando um jarro. A luz da lua cheia entrava pela janela banhando o chão e o rosto de Jonathan. Assim, na luz prateada, a pele do príncipe britânico parecia neve e seus olhos claros, gelo fino.

– E pode fumar aqui dentro? – Lars olhou ao redor, mas não havia nenhum guarda por perto para reclamar.

Jonathan deu de ombros e tragou mais uma vez soltando a fumaça pela janela.

– Eu creio que não. Você saiu. Parecia bastante irritado, mas está tranquilo agora. Onde você foi?

Lars apoiou o quadril no parapeito da janela, cruzou os braços e sorriu.

– Fala como se fossemos casados.

– Só se você me pedir com um anel bonito – Jonathan esticou os lábios em um sorriso sedutor.

O príncipe snölês franziu o nariz quando o cheiro acre de cigarro preencheu sua cavidade nasal. Ele olhou atentamente quando Jonathan tragou mais uma vez e soltou a fumaça, que foi levada pela brisa noturna para o pátio com a fonte, cujo som de água calmante podia ser ouvido da janela.

– Posso? – Lars ergueu a mão indicando o cigarro com o queixo.

Jonathan alargou seu sorriso e o entregou a Lars. O snölês pegou o cigarro e enfiou a ponta acesa na parede do castelo, apagando-o, colocando, em seguida, dentro de seu bolso o resto que sobrara.

O britânico franziu o cenho, olhando para Lars com indignação por perder seu cigarro. Lars apenas o olhou com inocência.

– Alguém já te disse que cigarro causa problemas respiratórios?

– Você jura, Lars? Eu jamais tinha ouvido tal coisa. Obrigado, você é meu herói – despejou Jonathan jorrando sarcasmo. – Você não disse onde esteve. Está fugindo do assunto, nórdico.

– Eu estava com uma prostituta. Gosto de fazer sexo quando estou irritado.

A boca de Jonathan veio abaixo e, por um mínimo momento, Lars podia jurar que ele tinha ficado mais pálido. Mas, tão rápido quanto o espanto veio, ele deixou o rosto de Jonathan, que fechara a cara cobrindo-a com sua costumeira expressão de indiferença.

A Ascensão do ReiWhere stories live. Discover now