Quando a Rainha Pede

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Ryland estava em seu escritório redigindo um comunicado oficial para Snöland, afim de informar sobre a chegada da carga brasileira. Sentia que, a cada palavra que escrevia, parte desse peso escorria de seu corpo como sujeira sendo lavada da pele.

Ele já tinha enviado uma mensagem ao Banco Nacional informando que estes deveriam desbloquear os benéficos dos funcionários, para que eles pudessem recebe-los novamente.

Assim que terminou, Ryland saiu de seu escritório e do castelo, para tomar um ar. Caminhou pelo gramado próximo ao penhasco, onde se podia sentir o vento marítimo balançando seus cabelos escuros, que chicoteavam contra suas bochechas e sua testa. O cheiro de sal invadiu sua narinas, e Ryland inspirou fundo. Gostava do cheiro de maresia, do vento e do sol brilhando no alto de sua cabeça.

Seria melhor se não fossem pelos seis guardas que o seguiam de longe. Costumavam ser apenas dois, mas depois do atentado contra Lynae, sua mãe fizera questão. Não dá pra questionar a rainha.

Ao longe, Ryland viu seus irmãos, Oliver e Steven praticando esgrima com o instrutor. Stevvy era visivelmente mais habilidoso, o que parecia irritar Ollie profundamente. O instrutor o repreendia toda vez que ele usava métodos pouco éticos na tentativa de acertar Stevvy, que ria.

Quando Oliver avançou, com a espada reta apontada para o irmão, Stevvy girou o pulso de uma forma precisa, enroscando a lâmina da espada na de Ollie e arrancando-a da mão de seu irmão caçula.

Ryland, que já estava próximo deles, bateu palmas, o que chamou a atenção dos seus irmão e do instrutor para si. Rapidamente o professor de esgrima fez uma reverencia, formal até demais.

– Alteza.

– O que faz aqui, Ryland? – disse Oliver de forma hostil.

Embora o príncipe regente já estivesse acostumado com a costumeira hostilidade de Ollie para com ele, isso não fazia com que ele deixasse de ficar chateado. Um dia ele vai entender, era o que Mitchell sempre dizia a Ryland, mas parecia que esse tal dia não chegava nunca. Ele sabia que Oliver tinha tanta raiva porque, assim como sua mãe, ele "abandonara" Ollie. Ele queria dizer ao seu irmão que não queria ser príncipe, que não queria nunca ter tempo, mas parecia só mais uma desculpa, como todas as outras.

– Eu não posso assistir a sua aula? – perguntou Ryland, cruzando os braços, em seguida.

– Achei que você tivesse que salvar o mundo, ou sei lá o que. – Na boca de qualquer outra pessoa, isso soaria como um elogio, mas parecia mais uma praga vinda de Oliver.

Stevvy encolheu os ombros, como se pedisse desculpas, o que só fez Ryland sorrir.

– Não. Eu estou livre agora, nós poderíamos...

– Não – cortou-o Oliver.

– Não? – Ryland franziu o cenho.

– Não faça isso. Não diga que tem tempo para logo em seguida alguém surgir do nada fazendo você ir embora. Você não tem tempo, Ryland! É uma coisa que você não tem já faz anos. Só espero que você não tenha filhos pra não fazer o mesmo com eles.

– Príncipe Oliver, onde está sua disciplina? – ralhou o instrutor com uma expressão severa.

Oliver não deu ouvidos. Jogou a espada no chão com força, virou e saiu pisando forte.

Ryland suspirou pesarosamente.

– Com sua licença, Vossa Alteza – O instrutor fez uma mesura e saiu quando Ryland assentiu com a cabeça.

– Não leve para o pessoal – disse Stevvy, com tristeza no olhar – É por causa da mamãe. Ela anda mais distante e agressiva do que nunca. Ontem, Ollie foi falar com ela e ela o dispensou, como se ele não fosse seu filho. Isso reflete no comportamento de Oliver, que acaba ficando arredio. – Ele passou a mão nos cabelos loiros, tal como Mitch e o próprio Ryland faziam. – Estou tentando animar ele. Achei que ele pudesse gostar de fazer esgrima comigo – Steven olhou para a espada fina em sua mão – Acho que me enganei.

A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora