Dia Nublado e Águas Claras

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Jonathan havia chegado ao castelo D'Mers dois dias antes do príncipe Mitchell e da princesa Lynae, mas não os tinha visto durante aquele meio tempo.

Tinha conseguido fazer o que queria, expulsar Zolkin da Grã-Francia. Não foi fácil e muito menos tranquilo. Jonathan tinha quase certeza de que pagaria por isso um dia. Tinha mostrado à ela as provas que reunira contra sua pessoa e, Zolkin ficara tão vermelha quanto seus cabelos e com os olhos injetados de raiva.

– Não pode me ameaçar, principezinho – rosnou a general.

– Engraçado você dizer isso, porque eu acabei de ameaçar.

Zolkin bateu a mão com força na mesa, bem diante de Jonathan e o príncipe teve que se segurar muito para não dar um pulo de susto. Seus guardas estavam por perto, mas ele conhecia a fama de Zolkin, sabia que ela podia aniquila-los sozinhas, se assim quisesse, até matar Jonathan de uma forma que demoraria um tempo para acha-lo. Ainda assim, Jonathan estava confiando na consciência de Zolkin de que seria uma enorme estupidez matar um monarca herdeiro do trono, isso era o mesmo que declarar guerra. Mas era muito arriscado confiar na sanidade de uma pessoa que tramava golpes de estado com a mesma facilidade com que alguém corta um bolo.

– O que te fez mudar de ideia, Jonathan? Estava tão determinado antes – ela falou com desprezo escorrendo de sua boca.

– É Alteza, Zolkin, não se esqueça do decoro. E eu não gosto dos seus métodos. Poderiam acabar causando uma guerra que, francamente, não seria nada bom para meu país.

– Você sabe que não pode impedir meu superior de continuar com os planos. – ela arqueou uma sobrancelha perfeitamente desenhada, desafiando Jonathan.

– Não, mas posso fazer você voltar para seu país com o rabinho entre as pernas. – Jonathan tirou uma passagem do bolso de seu paletó e o jogou na mesa, bem diante dela. – Não precisa agradecer, mas tomei a liberdade de comprar sua passagem.

– Não pode impedir o inevitável, Jonathan. Isto é, que a Grã-Francia imploda e que Snöland e meu país entrem em guerra.

– Suponho que eu terei que pagar pra ver.

Zolkin não discutiu mais e, embora estivesse tentando muito soar calma e controlada, Jonathan percebia todo o ódio contido nos olhos escuros e assassinos dela. Sentiu um frio congelante passar por sua espinha quando ela se virou e saiu, mas, assim que Zolkin passou pela porta, ele sentiu um imenso alívio e soltou a respiração que nem sabia que estava prendendo.

Isso foi há uma semana e Jonathan ainda pensava nisso com frequência.

Embora estivesse aliviado por Zolkin ter possivelmente deixado o país, ficou seriamente perturbado com o fato de que estava de volta à estaca zero, não tinha nada que pudesse fazer a Grã-Francia se submeter. Mas estava determinado a achar meios mais diplomáticos e dentro da lei para conseguir o que tanto almejava.

Lars voltaria naquele dia para o castelo D'Mers e Jonathan estava tentando esconder de si mesmo o quão empolgado estava. Mas era difícil quando sua perna não parava de balançar loucamente desde que acordara.

Ele estava em um corredor próximo do hall de entrada em frente a uma janela aberta, a brisa fresca matutina atingia seu rosto e a fumaça de seu cigarro se espiralava pelo ar, saindo para fora. Jonathan estava sentado no parapeito e um sorriso se formou ao se lembrar da vez em que Lars o vira fumando e destruíra seu cigarro.

Era mais um hábito do que um vício propriamente dito. Jonathan não fumava vários maços por dia, na verdade, se fumasse dois cigarros por semana era muito. Porém, quando estava excessivamente nervoso ou ansioso, Jonathan gostava de pegar o maço, tirar um cigarro, colocar lentamente entre seus lábios, acende-lo com um isqueiro que levava sempre no bolso esquerdo de seu paletó e tragar, vendo o fogo consumindo o cigarro, a fumaça cheia de nicotina deixar sua boca quando ele a assoprava. O ritual acabava sendo mais importante do que os entorpecentes contidos no cigarro.

A Ascensão do ReiOnde histórias criam vida. Descubra agora