pode confiar

6.3K 586 80
                                    

MALU

Medo e raiva, era tudo que eu sentia. Eles já me machucaram tanto que eu nem sei se vou aguentar até o Coroa e a tropa me buscarem.

- Por favor. - disse com dificuldade encolhida na cama - Preciso de água.

A essa altura já não estávamos mais no Jacarezinho, eles me trouxeram pra uma casa que em outro momento diria ser muito confortável.

- Toma aí. - jogou uma garrafa na cama - Caraí, tu tá mal mermo. Eles fizeram contigo.

O cara que o tal do Th botou pra ficar na minha cola é legal na medida do possível. Na verdade, ele é fechado e procura trocar o mínimo de conversa comigo.

- Eu só quero sair dessa, me ajuda. Por favor. - olhei pra ele chorando

- Ih, vem com essa não. - negou tirando o baseado da boca - Tu tá ligada que eu não posso fazer essas paradas, aí é assinar contrato com a morte.

- Tu me ajudando, abrigo não vai faltar. - tentei sentar na cama - Te garanto que Coroa ia te abraçar.

- Garota, esquece essas paradas. - negou - Tu marola demais.

Concordei enquanto sentia as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. Eu só queria que tudo isso acabasse, seja comigo viva ou morta.

Já tentei entrar na cabeça do tal do Jorel mas sem sucesso.

- Tu ia fechar comigo mermo? - chamou minha atenção - Bagulho de me dar mais oportunidade.

- Sim. - balancei a cabeça - Eu vi o jeito escroto que o Th te trata e tu parece ser fechado cem porcento com ele.

- Ainda. - concordou com um bico - Tu já tá fudida mermo, vou contar. O cara só pensa nele, tendeu? Só colei com ele porque tava precisando e esse foi o caminho mais fácil. Colei com Th novinho mermo mas o cara sempre foi ruim, tô só esperando juntar uma grana pra me sair dele.

- Tu quer sair do crime?

- Quero mermo. - abaixou a cabeça - Quero terminar os estudos, tá ligada?

- Eu te ajudo. - me olhou - De verdade, eu quero te ajudar.

Eu sentia que ele estava falando a verdade e também senti a vontade de o ajudar sem nenhum interesse, mas claro que iria usar isso ao meu favor.

- Como vou saber se tu tá falando a real?

- Cara, eu já tô fudida. Não tenho motivos pra mentir, te dou minha palavra.

- Sei não. - me olhou desconfiado

- Por favor. - disse chorosa

- Se teu coroa aparecer aqui, eu ajudo. - apontou pra mim - Se tu tiver de gracinha, tá fudida. Vão ser dois querendo te matar.

- Pode confiar.

Saber que de uma certa forma ele estava do meu lado também me deu uma paz a mais.

Th me trouxe pra essa casa que eu não faço ideia de onde fica, ele tapou meus olhos. Isso me gerou uma preocupação a mais, não sei se o Coroa iria me achar.

-

Tu acha que ele vai te achar?

- Não sei. - disse pensativa - A gente tá onde?

- Porra, você só sabe sugar mermão. - levantou - Vou te contar não, vai que tu abre a boca pro Th na hora dos teus deboche.

- Vou falar nada não, prometo.

- E vai mudar o que pra tu? Tem nem pra quem falar, num fode.

- Eu não tenho, mas você tem. - pisquei - Tu poderia mandar mensagem pro meu pai, isso faz parte do nosso acordo.

Jorel me olhou com uma cara estranha e eu já tava entendendo aquilo como um não.

- Jae então, mas num vou falar quem é não. - parou mais perto, na minha frente

- Mensagem anônima, sabe como é?

- Sei não. - entregou o celular - Faz tu, vou ficar de vigia na porta.

Concordei pegando seu celular, Jorel ficou encostado na porta enquanto eu mandava a mensagem. Perguntei pro homem que estava comigo no quarto onde estávamos.

Joatinga.

Nunca passaria pela minha cabeça esse lugar, inclusive, achei que estava em alguma outra favela. O cara é esperto, me trouxe pra um lugar onde o acesso não é tão fácil. Ele tava atrás de guerra e se depender do Coroa, é isso que ele vai ter.

- Pronto. - estendi o celular - Agora é esperar.

- Vou tentar desenrolar um bagulho pra tu não apanhar mais não, jae? - concordei - O bagulho é a garota lá, ela fica na mente do Th pra descer a porrada em tu.

- Ela me odeia. - respirei fundo - Nunca fiz nada pra ela.

- Oh, tô contigo. - deu um sorriso mínimo - Gostei de tu, da pra ver que tu não gosta de se envolver nessas parada.

Sorri em resposta e na hora que ia falar algo, abriram a porta.

- Papinho com a puta tá bom? - Th deu um sorriso nojento

- Que isso, chefe. - se afastou de mim - A garota disse que tava passando mal e eu dei uma água.

- Hum. - me encarou - Cadê o filho da puta do teu pai, hein? Acho que tu não tem tanta importância assim.

Eu sentia que ele tava tentando me deixar mais desestabilizada ainda, mas eu não vou ceder mesmo sem saber o que ele ganha com isso. Acho que ele ama ver o sofrimento dos outros, deve sentir prazer nisso.

- Coe, chefe. - chamou a atenção do Th que virou pra ele - Ela vomitou sangue hoje, num quer ela viva por mais alguns dias não? Se ela tiver morta, o Coroa vai nem querer saber mais.

Aquele homem nojento me encarou novamente e concordou com as palavras do Jorel que me encarou balançando a cabeça minimamente.

- Entrada proibida pra Gisele, a infeliz quer matar a garota a todo custo. - disse saindo do quarto e Jorel concordou o seguindo.

Fiquei um bom tempo ali sozinha que já estava pegando no sono. Tava quase dormindo quando escutei uma rajada de tiro.

Era ele. Era o meu pai.

+1 p compensar o sumiço.

já sabem né? a meta 🤍 vou parar de cobrar mas mesmo assim só vou postar qnd bater a meta

OUTRA DIMENSÃO  • MC CABELINHO Where stories live. Discover now