Capítulo 24: O povo não sabe lidar com a verdade

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— Eu exijo uma exoneração! — o líder da Fossa das Marianas exclamou, sua voz potente soando no salão de altas reuniões no Triângulo das Bermudas. — Tínhamos um acordo de casamento que você não cumpriu!

— Pela última vez em três longos anos que me diz a mesma coisa, — Castiel começou a resposta, já no auge de sua paciência, exausto daquilo. — O acordo de casamento era uma medida insensata que não iria resolver o problema. Rompi o contrato em prol da segurança dos sereianos.

— Ainda assim, me deve sua mão. Foi prometido a mim, é meu por direito.

Ao lado do marido, Dean cerrou os punhos, resistindo bravamente a vontade de arrebentar o filho da puta na porrada.

— Estamos a um passo de ingressar em outra guerra e está preocupado com casamento? — o supremo rei criticou, recebendo murmúrios de concordância do povo que assistia a audiência. — Você não é meu dono. O antigo rei ofereceu minha mão, ele não governa mais. Se chegar a se atrever a dizer uma gigantesca merda como essa de novo a aliança com seu povo será rompida e entraremos em guerra. Veja bem, você tem guerreiros fortes, mas mesmo com o problema dos humanos ainda superamos em números e nossas defesas são inegavelmente melhores. Vai querer arriscar?

O outro líder, Bartholomeu, franziu o rosto em evidente ódio, mas não contestou a questão do casamento.

— Já que chamou atenção para o problema dos humanos, o que pretende fazer sobre isso?

— Os humanos estão presos em suas terras, alguns reis impossibilitados de voltar para seu povo. O comércio está paralisado e tem nações sem a supervisão de seus reis. Logo vão ceder pela pressão. — o moreno respondeu, erguendo os ombros.

— E os rebeldes? — um dos telespectadores gritou a pergunta para ser ouvido.

— Essa é uma questão mais complicada. — o supremo rei admitiu, encarando as pessoas que compunham sua nação com intensa sinceridade. Dean admirou o marido ainda mais. — Não tenho vergonha de admitir que não faço do que eles querem. Mandei alguns diplomatas para tentar conseguir uma audiência com o líder deles. Se tudo der certo, vou saber o que querem e o porquê de estarem atacando. Será o primeiro passo para resolver o problema.

— E o que vossa majestade pretende fazer sobre os sereianos que morreram na guerra? — uma sereia perguntou, segurando a mão de um garotinho que se escondia atrás da calda dela.

— O que já estou fazendo, que é também a única coisa que posso fazer, infelizmente. A coroa apoirá suas famílias para que voltem a se erguer com dignidade.

— Não, Gabriel está apoiando as famílias. Você está brincando de formar uma família com seu pirata!

Um burburinho de vozes furiosas iniciou e Castiel suspirou pesadamente, relaxando um pouco quando Dean segurou sua mão por debaixo da bancada do palanque.

Alguns guardas recomendaram que o rei saísse da vista do público, mas Castiel negou. Jamais se esconderia de seu povo.

— Minha filha é obrigada a velejar de um lado a outro, sem um lar fixo, enquanto eu resolvo os problemas de vocês.  — apontou, aplacado por uma maré repentina de fúria, silenciando o povo.  — Meu marido quase morreu resolvendo os problemas de vocês. O que é? Como rei eu não mereço ter uma família? Eu não estou passeando quando saio naquele navio, estou arriscando meu próprio pescoço para que garantir que vocês não morram. Alguém aqui acha que faria um trabalho melhor do que eu? — silêncio se fez presente, até que alguém teve coragem de desafiar o rei.

— Transformou um pirata em um de nós.

— Dean salvou minha vida antes mesmo de me conhecer, me deu moradia e comida, me ajudou a salvar a vida de Gabriel, arriscando sua própria. Ele me levou pelo oceano enquanto eu procurava os pedaços do tridente, ele me deu o mapa, ele me ajudou a pegar os fragmentos e, como já disse antes, quase morreu por isso. Me ofereceu ajuda mesmo depois de tudo isso e ainda hoje me auxilia enquanto tento manter a paz. Não me arrependo de tê-lo transformado, na verdade tenho orgulho de tê-lo feito. Parece que faltam tritões de bom caráter por aqui, é bom ter um para variar.

O silêncio do povo foi unânime enquanto Castiel os encarava com sua melhor expressão de desafio. Ele não queria incitar medo no povo, nunca, mas eles tinham que entender que o rei não era mole. Entendia as represálias das pessoas, mas não ficaria muito tempo no poder se abaixasse a cabeça.

— Essa audiência está encerrada. — disse, se voltando para onde o líder das Marianas e dos Errantes estavam sentados lado a lado. — Espero que façam uma boa viagem de volta.


Castiel suspirou alto, sabendo muito bem que o que estava prestes a fazer era um erro. Ele não sabia se tinha outra opção, no entanto. Se tinham alguém que sabia como conquistar o povo, esse alguém era ele.

O rei tritão parou em frente a porta da cela, franzindo o cenho em desgosto ao ver o nível exacerbado de luxo no aposento. Chuck era um criminoso como qualquer outro mas, como fora rei, tinha de ser mantido em condições superiores para não gerar revolta do povo.

— Olha só, — Chuck comentou assim que o viu, se aproximando das grades. — eu sabia que o veria mais cedo ou mais tarde, só não sabia que seria tão cedo.

— Fazem três anos que está aí, Chuck. — Castiel respondeu, vendo o lampejo do momento em que o antigo rei arregalou os olhos. — Perdeu a noção do tempo?

— Não é algo difícil. O tempo passa voando aqui em baixo.

— Imagino. — o atual rei concordou, mantendo a postura quando fez a pergunta: — Seria muito abuso lhe pedir um conselho?

— Considerando as circunstâncias... — o mais velho concordou, indicando sua cela com um movimento de mão. — Mas ao contrário do que você pensa, eu me importo com o povo. Diga o que quer.

— Como você conquistou a aprovação do povo? Ainda hoje tem pessoas leais a você. Como?

— Está tendo dificuldade em conquistar a confiança do povo? — Chuck perguntou, sorrindo com escárnio. — A solução para isso é muito simples: não diga a verdade a ninguém.

— O quê?

— O povo não lida bem com a pressão do problemas que os assolam. Não deixe que saibam dos problemas, faça-os acreditar que tudo está perfeito e resolva por debaixo dos panos.

—  Não vou me esgueirar de minha própria nação.

— Então não serve para ser rei. Sabe como o povo acha que é feito um bom rei? De um reinado sem problemas. Eles não conseguem entender que um bom rei é na verdade aquele que resolve tais questões.

— Isso é doutrina. — Castiel apontou, horrorizado com as palavras que estava ouvindo. Ele sabia que Chuck não era um homem lá muito honesto, mas mentir para as pessoas assim? Quantas vezes ele já não havia mentido para o próprio Castiel?

— É necessário. Garoto, uma pessoa é fácil de convencer, mas as grandes massas vão pelo lado de quem gritar mais alto. Se um estiver insatisfeito, vai conseguir fazer os demais acreditarem que também estão.

— Isso foi um erro. — o atual rei afirmou, virando as costas e nadando para longe do mentiroso real.

— O POVO NÃO SABE LIDAR COM A VERDADE! — Chuck gritou para ser ouvido, suas palavras assombrando Castiel por um longo tempo.

O Príncipe Tritão E O Lorde Pirata// Destiel MpregOnde as histórias ganham vida. Descobre agora