Quando colocamos um ponto final

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Carla acordou no dia seguinte determinada. Na verdade, Carla acordou com uma enxaqueca debilitante, e quando lembrou da conversa com Sayuri quase vomitou no travesseiro. Depois de um Tylenol e duas horas refletindo sobre o tópico, Carla estava realmente determinada a terminar com Luana.

Acontece que Carla nunca havia terminado com alguém antes, e ela gostava muito de Luana. Terminar com alguém que te fez algo terrível no calor do momento parecia mais fácil. Agora ela precisava desvendar como fazer doer o mínimo possível, ciente de que estaria partindo o coração da única pessoa que se importou de ensinar ela a amar. Não que Adele não tivesse ajudado a seu modo em algum passado distante, mas eram situações diferentes.

Quando elas começaram a namorar, Carla estava apavorada. Relacionamentos não são simples, nem vêm com manual de instruções, e a maioria das pessoas oferecendo conselhos não têm a menor ideia do que estão falando. Os pais dela eram divorciados e o mais próximo que ela tinha chegado do amor havia sido aquele desastre indefinido com sua "melhor amiga". Então, Carla fez o que qualquer pessoa sensível faria e comunicou tudo isso à Luana. Talvez a confissão fosse o bastante para afugentar a garota e deixar Carla na sua zona de conforto, solitária para sempre. Ela quase se convenceu de que era a intenção dela, mas seria mentira. Carla queria ser amada de volta.

— Talvez eu esteja me metendo em uma fria, é isso? — Luana riu franzindo o nariz quando escutou. — Ah, Carla, todo mundo tem a sua primeira vez. Você também merece a sua, ok? É só irmos com calma.

E com calma elas foram. Quando Carla estava confortável com beijos e andar de mãos dadas, elas começaram a experimentar a palavra "namorada". Parecia um termo alienígena no começo e Carla travava quase toda vez que falava ou ouvia, mas ela se acostumou. Sexo também era cheio de gatilhos por um tempo, associado a algumas memórias ruins e salpicado de culpa quando Carla lembrava algum comentário da mãe. Luana obviamente nunca a forçou a nada. Muitas noites elas estavam contentes em apenas ficarem de conchinha, fazendo cafuné e aproveitando o silêncio antes de caírem no sono.

Eventualmente, Carla sentiu que havia dominado esse lance de namorar. Ela conseguiu o que parecia impossível ao se tornar uma boa namorada. Carla não era sonsa, sabia que se não tomasse cuidado poderia ser tóxica. Às vezes sua mente passava um replay das vezes que ela havia sido babaca, mas era como um interruptor que Carla não conseguia controlar e que a fazia ceder aos seus impulsos sem filtro. Ela imediatamente se arrependia enquanto as palavras saíam da boca, mas sempre era tarde demais. Luana atenuou esse lado dela, de alguma forma mágica. Carla se sentia menos zangada no geral.

Carla era tão, tão grata à Luana. Mas e agora?

As duas dançaram ao redor dessa questão por tempo demais. Houve tentativas de reparar a relação por parte de ambas. Acontece que o problema estava um pouco fora do controle delas. Às vezes, você pode fazer tudo certo e ainda assim o relacionamento acabar. Carla não acreditava que tinha feito tudo certo, mas sabia que não haveria tanta diferença se fosse o caso.

— Pai, como se termina com uma pessoa? — Ela mal notou que havia pegado o celular e ligado para o pai até ele atender com a voz rouca.

— Você perguntou pra pessoa errada. Eu nunca soube fazer isso sem levar um tapa na cara. — Ele riu e ela pressionou um sorriso contra o celular. — Vai terminar com a menina?

— É. — O coração de Carla acelerou, porque quanto mais ela falava sobre isso, mais real ficava.

— Ela te fez algo?

Carla quis rir. Talvez seu pai quebrasse a perna de quem partisse seu coração. Ela sempre quis ver seu pai ficando super protetor com os sentimentos dela, como num clichê adolescente. Infelizmente, era mais provável Carla ser quem precisasse de uma surra.

Quando Eu Ainda Amava VocêWhere stories live. Discover now