Quando você devolveu minhas asas

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Nada aconteceu entre elas naquela noite, mas ainda assim tudo mudou. Carla sabia que elas estavam flertando mais abertamente do que nunca, e que isso deveria assustá-la. Apesar disso, ela sorria todos os dias.

O resto de janeiro passou voando e, quando as aulas voltaram, Carla sentiu o vazio de não ter mais Adele como sua colega. Elas combinavam de almoçar juntas no restaurante universitário às vezes, mas era um período de tempo muito curto para aproveitarem a companhia como gostariam.

Outra coisa que havia mudado era o relacionamento de Carla com seus pais. Sua mãe não protestou tanto quanto ela esperava, quando sua saída de casa foi anunciada. A postura da mulher, contudo, transparecia que ela pensava ser apenas mais uma fase de rebeldia da filha. Carla realmente não planejava morar com o pai a longo prazo, mas era a melhor alternativa no momento, agora que estava solteira de novo.

Luana não mentiu sobre o unfollow, porém Carla não estava bloqueada, e ocasionalmente esbarrava em postagens da ex. Ela ficava tentada a curtir ou comentar, mas queria respeitar o espaço que Luana pediu. Se pudessem ser amigas de novo, seria mais do que Carla merecia.

Algo que ainda rondava a mente dela em todos os momentos ociosos era a conversa com Julia sobre a formatura. Desde aquela noite, Carla passou a ter pesadelos onde revivia a situação e acordava chorando desesperada. Todas as vezes, ela abria sua conversa com Adele pra se certificar de que ainda estavam em bons termos e que ela não havia imaginado toda a reconciliação.

Ela havia acordado de mais um desses pesadelos quando percebeu seu celular tocando com uma ligação. Era a mãe dela.

— Alô? — Carla enxugou o suor da testa e pressionou os olhos enquanto a cabeça latejava.

— Não vai voltar pra casa mesmo, não? — A mãe foi direto ao assunto. — Sabe que tem muito material teu aqui que você vai precisar pra faculdade, não sabe?

— Eu vou aí buscar. — Ela respondeu e segurou a garganta quando a percebeu ressecada. — Hoje.

A mãe suspirou fundo e Carla sabia que ela estava zangada.

— Para de teimosia. Eu sou uma mãe tão ruim assim?

— Não é sobre você. — Carla se levantou da cama procurando por um copo d'água ou chiclete de menta.

— Por que você prefere morar com seu pai?

— Eu não prefiro. — Ela mentiu, para encurtar a conversa e amenizar a situação. — Ele precisa mais de mim.

— Ele nunca cuidou de você. — A mãe rebateu e começando a se exaltar. — Eu entendo que você não vai abandonar seu pai, mas por que tá abandonando sua mãe?

— Eu não tô te abandonando. — Carla encheu um copo e deu um longo gole. — A gente conversa sobre isso mais tarde, quando eu estiver aí.

— Carla...

— Até mais tarde, mãe. — Ela manteve a firmeza. — Também te amo, xau.

Após desligar antes de ouvir algum grito, Carla arremessou o celular numa superfície macia e resmungou revirando os olhos. Uma enxaqueca ia se formando.

Carla preparou o almoço do pai antes que ele acordasse, tomou banho e se arrumou pra sair. Se ela demorasse demais, perderia a coragem de ir, e era melhor acabar logo com aquilo.

Andar novamente pela rua da casa da mãe era esquisito. O coração acelerava de novo e ela tremia de nervosismo. Carla sabia que não era a reação normal e saudável de se ter à própria mãe. Ela inspirou fundo quando passou em frente à antiga casa dos pais de Adele e parou de andar.

Quando Eu Ainda Amava VocêWhere stories live. Discover now