Quando eu conheci você

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No dia seguinte à noitada no bar, Adele acordou no apartamento de Julia e, quando as memórias a alcançaram, ela afundou o rosto no travesseiro constrangida. Não que ela tivesse feito algo tão cabuloso, mas Adele havia prometido para si mesma que trataria Carla com o mesmo grau de indiferença. Graças à bebida, ela havia feito papel de idiota, e não queria encarar ninguém pelo resto da eternidade (ou, sendo mais realista, por um dia).

Apesar do sentimento de fracasso, Adele achou que as mensagens de Carla referentes ao trabalho pareciam mais calorosas, até mesmo amigáveis. Ela também estava demorando consideravelmente menos para responder. O ápice do bizarro, porém, foi quando Carla curtiu a nova foto de Adele no Instagram.

— Tô te dizendo, ela tá me deixando encucada — Adele confessou para Julia.

— Minha filha, você tá procurando pelo em ovo? Ela só curtiu sua foto — A amiga lixava as unhas despreocupada.

— Tá, mas você viu a foto em questão?! — Adele abriu o aplicativo e balançou a tela do celular no rosto da amiga.

— Ah, massa. Isso muda tudo. Você com a maquiagem que eu fiz e meio de lado. Com certeza tem um significado profundo por trás disso.

Adele corou antes de fechar o celular. Ela revirou os olhos, sabendo que soava patética.

— Eu tava usando meu corpete de renda preto, tá bom?

Assim que a amiga terminou a frase, Julia parou de lixar as unhas e girou o corpo para encará-la. Seus olhos se arregalaram enquanto ela levava uma das mãos ao queixo.

— Cara, eu bem que suspeitei. Você tem uma quedinha por ela.

Essas palavras foram como um disco arranhando para Adele. Era a mesma sensação de ser flagrada gazeando aula ou riscando a parede do quarto. Ela sentiu como se não tivesse pra onde fugir.

— Não! — Adele percebeu que soava muito defensiva e mudou de tom — Não. Tipo, eu já... Eu talvez já tenha tido uma queda por ela. Mais ou menos. Mas, tipo, não agora. De todo jeito, ela tem namorada.

— E...? Isso não impede você de ter uma queda por ela, como você obviamente tem.

— Para com isso. Sério, não me deixa constrangida. Eu preciso encarar ela todas as semanas — Adele baixou os olhos e se deitou no sofá, chateada.

— Amiga, desculpa. Eu tava só tirando com a sua cara — Julia se sentou na frente do sofá — Mas, só entre nós, você gosta dela?

Adele respirou fundo. Ela não sabia a resposta para aquela pergunta. Carla não saía dos seus pensamentos, isso era verdade, mas o que ela sentia dessa vez não parecia com o que ela sentia alguns anos atrás. Antigamente, qualquer interação com a garota deixaria Adele nas nuvens e sorrindo o dia inteiro. Agora, causavam apenas indigestão e ansiedade.

— Não acho que essa seja a palavra mais apropriada. Eu ainda tô confusa — Ela ergueu as sobrancelhas — Eu fico aguardando a gente se encontrar, só que ela me deixa mais irritada que qualquer outra coisa. Isso não pode ser gostar.

— Ah, pode sim. E como pode — Julia retrucou, enfatizando as palavras — Mas eu entendo que você ainda não saiba como se sente. Às vezes é mais complicado. Tu precisa tirar um tempo pra refletir.

Julia fez um carinho na cabeça da amiga, que sorriu de volta. Ela não era muito boa em introspecção. Adele não era programada para pensar em si mesma. Só processava os próprios sentimentos quando já era tarde demais pra tomar alguma providência. Havia coisas mais importantes acontecendo na vida dela o tempo inteiro, como garantir a vitória do seu time de vôlei, ou consolar Carla nas brigas com a mãe, ou dar orgulho pros seus pais adotivos. Para Adele, cuidar de si mesma era quase egoísmo.

Quando Eu Ainda Amava VocêWhere stories live. Discover now