Quando eu e você passamos uma tarde constrangedora juntas

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O silêncio já reinava na sala de estar de Carla há vinte minutos quando Adele soltou um suspiro frustrado e foi até a cozinha. Ela estava terminando de revirar a geladeira da ex-amiga em busca de uma lata de refri no momento em que Carla apareceu na porta, intrigada.

— O que tu tá fazendo?

Adele abriu a lata em resposta e deu um longo gole antes de oferecer a bebida.

— Quer Coca?

— Não — Carla levantou a sobrancelha, estranhando o nível de intimidade de Adele. Para a maioria das pessoas, invadir a geladeira da sua rival sem permissão é falta de noção ou de vergonha na cara — Vamos andar com a pesquisa pra que isso termine logo.

As duas voltaram para a sala e sentaram em lados opostos do sofá. Carla abriu o notebook e cruzou as pernas. Os poucos segundos de concentração foram interrompidos por um telefonema. Adele olhou rapidamente para o celular da outra garota e viu o nome "Luana" na tela, com um coração vermelho ao lado.

— Amor? Aconteceu alguma coisa? — Carla atendeu — Ah, ufa. Eu? Nada, só tô fazendo um trabalho da faculdade.

Adele não sabia o que fazer então fixou seus olhos em seu próprio celular e ficou rolando a tela como se estivesse realmente lendo alguma coisa. A lata de refrigerante em sua mão parecia ainda mais gelada.

— Eu te ligo quando eu acabar, então. Beijo — Carla desligou e colocou uma mecha atrás da orelha, inquieta.

Adele ainda estranhava o novo corte de Carla. Ela sempre manteve o cabelo ondulado extremamente longo e selvagem, daí, quando passou no vestibular, resolveu cortá-lo rente à nuca, e só agora ele voltava a alcançar o queixo.

— Então... — Adele tentou quebrar o gelo — O nome da tua namorada é Luana?

Carla só balançou a cabeça em afirmação, sem tirar os olhos do notebook. Ela não parecia interessada em nenhum papo. Pelo visto, seria uma longa tarde.

Depois de mais dez minutos de silêncio, Carla finalmente virou o rosto para encarar Adele, tão concentrada em suas anotações que não notou estar sendo observada. Carla suspirou. Fazia mais de um ano que ela não via aquela expressão no rosto de Adele e, apesar do clima estranho, a familiaridade era reconfortante. O hábito de morder a ponta do lápis ainda estava lá. Adele era tão idiota, deixando a borracha coberta de baba.

— O que foi? — Adele perguntou, fazendo Carla tomar um susto.

Ótimo, agora estava esquisito porque ela ficou encarando ao invés de falar o que tinha pra falar.

— Ah, hum... Mainha vai chegar de oito horas e disse que pode te deixar em casa, se você ainda estiver aqui quando anoitecer — Carla prontamente desviou o olhar dessa vez.

Adele abriu um leve sorriso, mas o substituiu por uma expressão de deboche para perturbá-la como costumava fazer no passado.

— Ótimo. Uma pena que vai ser bem desconfortável já que ela terminou com o meu pai, hein?

Foi a vez de Carla segurar um sorriso.

— A culpa foi toda do seu pai por ser grudento.

Sem aviso, Adele deu um chute de leve em Carla, que foi pega completamente desprevenida. Após um instante de choque, as duas engataram numa breve guerra de almofadas, como se tivessem catorze anos de novo. Carla teve que botar o notebook na mesinha de centro para se dedicar à vitória sem medo. Porém, quando parecia estar com a vantagem, parou.

— A gente não tá aqui pra ficar de brincadeira — Carla fechou a cara. Adele pareceu finalmente se recompor, um tanto quanto envergonhada.

— É... Bem, quer ler o que eu anotei?

Quando Eu Ainda Amava VocêWhere stories live. Discover now