Quando saberemos se foi a escolha certa?

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Luana estava atrasada. Ela respirou fundo ao entrar no ônibus, pensando que era um péssimo dia para chegar tarde ao seu encontro. Afinal, as coisas não iam muito bem com Carla. Mesmo assim, a jovem tinha a sensação de que não iria importar, e que a sua namorada só daria de ombros com um sorriso conformado. Às vezes, Luana se perguntava como era possível se sentir tão solitária em um relacionamento e como as coisas ficaram daquele jeito.

Sendo estudante de psicologia, Luana nem sempre resistia à analisar a própria namorada. Era acidental e acontecia antes que ela percebesse o que estava fazendo. Quando Carla não estava brigando com a mãe, o relacionamento delas era frio e distante. Sempre foi assim.

— Uma vez, eu disse pra minha mãe que queria que ela tivesse tido uma filha que pudesse gostar — Carla desabafara no colo dela em certa ocasião — Primeiro, ela disse que eu tava insinuando que queria outra mãe. Depois, ela falou que me amava do jeito que eu sou.

Carla se sentou, interrompendo o cafuné de Luana, e baixou a cabeça.

— Existe uma diferença entre amar e gostar. Eu amo a minha mãe e não gosto dela. Ela também é assim, só não admite. Mas não gosta de como eu me visto, de como eu arrumo o cabelo, do curso que eu faço, de... — Ela pausara bruscamente — De quem eu gosto. Não tem como gostar de mim se não gosta de nada sobre mim.

Luana sabia que não era aceita pela sogra. As poucas vezes que elas se viram foram bem no início do rolo dela com Carla, e ela havia sido apresentada como uma amiga. Mas Dona Rosa sabia a verdade. A mãe de Carla a tratou com frieza em todas as vezes. O que Luana não sabia era que ela também brigava com a filha depois, dizendo: "Pra quê tu traz essa sapatão até mim? É pra me afrontar? Tu quer me ver morta?"

— Amor, tá tudo bem. Eu entendo que não dá pra ir na sua casa e tudo mais — Luana tentara consolá-la.

— Tu merece muito mais que isso. Eu queria poder te ter em reunião de família, eu...

Quando ela ficava à beira de lágrimas, Luana a abraçava e mudava de assunto. Para ser sincera, a situação realmente a machucava. Parecia um romance proibido, secreto, e ela estava velha demais pra brincar de "Romeu e Julieta", mas Luana jamais culparia Carla por isso. No mais, ela queria livrar a amada de toda a ansiedade que aquele namoro a causava, e se sentia culpada por... insistir em tê-la, talvez.

Desde antes do primeiro beijo, Luana sabia que queria estar com ela. Carla podia aparentar ser agressiva, explosiva, confiante e decidida, mas ela era tão frágil.

— Lu... Eu preciso ter uma conversa bem sincera com você — Carla soltara quando as coisas estavam começando a ficar sérias entre elas. O coração de Luana parou por alguns segundos. Nunca era bom sinal, e ela já estava se apaixonando rápido demais para frear — Antes de tu aparecer, tinha uma garota.

— Carla, antes de tu aparecer tinham várias garotas. Eu não me importo.

Mas Carla permanecera séria.

— Não é o que eu quero dizer. É sobre como eu me sentia por ela. Sobre como...

— Sobre como tu se sente agora? — Luana engolira em seco. "É inevitável. Eu sempre esbarro nas meninas que não superaram a ex," pensara.

— Lu, eu vou te contar a história completa com essa garota, porque não acho justo avançar contigo sem tu saber no que tá se metendo comigo. Quero que saiba que eu me importo contigo.

Carla contara tudo. Toda a versão dela da história. Em alguns momentos, Luana sentira vontade de chorar. Em outros, terminou chorando. Adele não parecia uma má pessoa, mas as circunstâncias eram tão cruéis. Não a surpreendia que Carla estivesse tendo dificuldades para superar, e não era difícil entender porque ela se apaixonou por Adele.

Quando Eu Ainda Amava VocêWaar verhalen tot leven komen. Ontdek het nu