Pintar o céu de outra cor

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Sua cabeça latejava com força total, engoliu o comprido de ressaca sem nenhum copo de água. Sentou-se na poltrona bege claro do quarto, respirando pesadamente. O sol entrava no quarto como se estivesse cara a cara com uma praia no calor das 15h da tarde. Tinha que começar a montar as malas, afinal, é o Brasil. Se ali estava tão calor no fim do inverno, imagina no fim do verão lá no país tropical. 

Levou a mão na cabeça, acariciando as têmporas, seus pensamentos estavam embaralhados e confusos. Sinceramente, estavam milhares de gritos. Sirius odiava amar beber. Foram anos sem uma gota de álcool na boca, e as crises de abstinências por álcool só não eram piores que as por cigarros. Mas ele não sentia mais necessidade por cigarros, e ele também andou evitando. Na noite anterior, o cara do bar lhe ofereceu - e Sirius, depois, pensando nesse assunto, se sentiu extremamente ofendido por acharem que a aparência dele é de fumante -, ele quase aceitou, mas depois de encarar aquele pacotinho por alguns segundos, ele quase pode sentir a dor da fratura que fez na cabeça uma vez em Azkaban. 

Mas a bebida... Ah, a bebida. O gosto acariciava sua língua na mesma intensidade que se lembrava dos beijos de Remus, e talvez fosse por isso que ele gostasse tanto. Sirius sabe que depois de alguns copos, o que sobra é apenas seus momentos dramáticos, sem aquela sensação gostosa. Mas mesmo assim, ele fica procurando. Procura as pistas de danças, nas outras pessoas, em mais festas, em mais drinks. 

Abriu os olhos, na mesa de escrivaninha havia a clássica bandeja de café da manhã. Seus olhos se franziram, havia uma caixa de madeira ao lado, relativamente grande, como um baú. Levantou-se com cuidado, e foi em direção a mesa. Sirius mordeu um pedaço de torrada com geleia enquanto abria a caixa.

A primeira coisa que viu foi um papel com uma letra caprichada, então já excluiu o Remus da cabeça - não que tivesse esperanças... é claro. Franziu as sobrancelhas "Six, você é incrível, meu amor. Se cuida, por favor. Fiz uns cronogramas de comidinhas pra ti, eu sei o quanto você ama cozinhar então também tem um livrinho de receitas ao lado. Lembra quando fazíamos limpeza de pele juntos pra ir pras festa? Hoje em dias tem uns produtos muito melhores no mercado, então aproveite. E no cantinho Six, tem algumas comprimidos de vitaminas. Com amor, sua Marie." 

Sirius deixou escapar um riso com assinatura. Mary nunca foi de ninguém, e provavelmente nunca vai ser, mas ela também nunca muda. Bebeu o copo de suco enquanto lia a ordem dos comprimidos vitamínicos, então tomou eles. Foi para o banheiro e passou aquelas coisas no rosto. 

E quando ficou sozinho em casa, cozinhando pra si mesmo. Levou os olhos para a sala vazia e por alguns segundos, se sentiu tão bem quanto como tinha seus quinze anos. Não feliz, bem. Se sentia bonito como não se sentia muitos meses, se sentia tranquilo como a muito não ficou. Talvez - e ele não queria admitir -, Marie estivesse certa, talvez ele precise se reencontrar, recomeçar... De novo.  

Parte do seu problema depois, foi quantos teve um surto de produtividade e planejou cada detalhe pra se renovar, fez uma lista de livros das prateleiras de Lily. Fez um desenho se um apartamento pra si e pensou em um emprego que goste. Arrumou a baderna do quarto e prometeu não beber mais nenhuma gota. E ao se jogar na cama, pensou pela primeira vez "Foi por mim, não pelo Remus." E esse pensamento o depreciou, sentiu um balde de água fria cair em cima de si mesmo, como se destruísse seus sonhos completamente, já havia escurecido e Sirius quis ir até o bar mais próximo. 

Trocou as vestes bruxas por vestes trouxas, pegou sua carteira com identidade falsa e prendeu os cabelos. Desceu as escadarias com pressa:

— Sirius! — exclamou a voz de Harry, animadamente. Sirius se sentiu ser atingido por um abraço apertado. Mal conseguiu reagir, estava surpreso e assustado. Harry estava bem ali na sua frente e Sirius estava saindo, isso fez ele se sentir culpado. Hermione, que entrou ao lado de Harry, sorriu sem graça.

𝐂𝐚𝐫𝐫𝐢𝐧𝐡𝐨 𝐝𝐞 𝐦𝐚𝐝𝐞𝐢𝐫𝐚. - 𝐌𝐚𝐫𝐨𝐭𝐨𝐬.Onde as histórias ganham vida. Descobre agora