Capítulo 1 - Viver.

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Podia sentir o suor escorrer em meu rosto e costas, a arma em minha mão estava trêmula após tentar disparar e a mesma falhar, entendi que ali a minha vida havia acabado, como podia ser, aquela não era a minha arma? Minha visão estava turva, mas podia ver a cicatriz que tinha em seu pescoço descoberto pela máscara, o ar não chegava em meus pulmões, meu ouvido estava zumbindo, mas ainda podia ouvir a respiração do segundo homem em minha nuca, não estava acreditando, fui treinada para esse tipo de situação, já passei por isso diversas vezes, mas agora diferia, alguma coisa estava diferente o cheiro de sangue era aterrorizante, mas o que podia ser feito? Quero gritar, quero lutar, mas porque não consigo? Como isso aconteceu?

Aquela arma, ela disparará de novo, já vi isso antes, quantas vezes já vi esse cenário? Será agora. O som será seguido por uma dor aguda em meu ombro, mas será de raspão será o suficiente para fazer parecer que não tentei fazer absolutamente nada. E de novo meu corpo cai em câmera lenta. Por que fiquei viva? Queria muito ter morrido nesse dia, assim que meu corpo bateu no chão acordei abrindo apenas os olhos no susto, o teto na cor bege apenas com uma lâmpada.

Mais uma noite atormentada por aquele pesadelo, até quando viverei assim? Passei a mão em meu rosto suado e joguei a coberta de lado, obriguei meu corpo morto a levantar da cama e sentar, alcancei o criado mudo e peguei o frasco de remédio amarelo no qual sou obrigada a tomar regularmente a um mísero ano, mirtazapina para os que preferem um nome chique para antidepressivo, após despejar uma pílula em minha mão e jogá-la na boca alcancei a garrafa enchi a boca e engoli sentindo a cápsula descer.

Antes de me levantar da cama completamente olhei para a janela, nada havia de bonito, muito menos especial, apenas a vista para outro prédio no sexto andar, um prédio cinza, em algumas janelas roupas penduradas, algumas com plantas, outras com algum animal de estimação latindo, ou miando, a vida estava insuportável, talvez me jogar daqui de cima seja o melhor, não há mais ninguém para sentir minha falta. Me levantei e me aproximei da janela, pelo menos seria uma morte rápida, mas se morrer quem vai vingá-las? Antes de dar um fim em mim, preciso matar aqueles dois.

Fechei a cortina e segui para o banheiro, me olhei no espelho e observei o quanto minha imagem estava decaída, meus olhos no tom azul vivo estava como a cor de uma piscina suja, tinha olheiras profundas, não dormia bem a dias, meu rosto estava magro e meus lábios estavam pálidos não me alimentava nos horários certos, mas o que podia ser feito? Fui largada com algum tipo de auxílio para polícias com problemas mentais, isso nem é dinheiro de verdade, como uma família sobrevive com o mínimo no banco de horas, precisa trabalhar muito para receber ao menos mil e duzentos dólares, e em dias reduzidos que se trabalharia menos? Tudo que usamos precisamos pagar, há me lembrei esse foi o resultado de ser considerada uma policial que não cumpriu os seus deveres, estou recebendo o valor mínimo por não ter família, é quase que reduzido do valor que deveria receber. Então do que estou reclamando só tenho que lavar a cara, pegar minha jaqueta e seguir para aquele hospício como se fosse me ajudar obrigada pelo tribunal.

E foi o que fiz, terminei de lavar o rosto, amarrei meu cabelo castanho escuro em um coque frouxo, coloquei um coturno e saí de casa no corredor com um papel de parede marrom na metade da parede na parte de baixo e na metade de cima um tom mais claro da mesma cor, caminhei pelo carpete cinza até a porta do elevador sem pressa alguma, afinal de contas naquele mesmo horário a senhora do, seiscentos e quatro sairia de casa e também pegaria o mesmo elevador se entrasse no elevador antes dela, a mesma gritaria da porta para a esperar, e por menos extraordinário que isso pareça ela conseguiu fazer isso apenas nesses dias em específico, não é possível que uma velinha de sessenta e cinco anos com o cabelo grisalho, rosto já marcado pela idade e corpo um pouco acima do peso fica esperando alguém sair de casa para pegar a vítima no elevador, é como se fosse um castigo ter que acompanhá-la a passos de tartaruga e ainda ter que ouvi-la falar dos netos aproveitadores como se eles a amassem de verdade, pobre senhora, mas isso já está ficando torturante, como ela consegue fazer isso nos mesmos dias que preciso ir naquele lugar? Por acaso ela marcou em alguma agente? Droga, isso me deixa ainda mais irritada.

Assim que chegamos no elevador, felizmente o Senhor do, seiscentos e dois também iria entrar, assim não precisaria respondê-la durante todo o nosso trajeto, afinal o senhor aparentava ter a mesma idade que a idosa, e falava igualmente ou ainda mais. Vê-los juntos era algo reconfortante, pareciam ser um casal que havia envelhecido juntos, combinavam, tinham quase a mesma altura, o senhor só era alguns centímetros mais alto, e um pouco mais magro, mas sua maneira de se vestir, o jeito de se comportar eram parecidos ambos tinham, qual seria a palavra adequada para se dizer? Etiqueta, talvez seja comportamento de gente velha. Mas ainda era bom vê-los juntos.

"Queria ter isso, poderia ser feliz? Era em momentos assim que meus pensamentos se tornavam sem sentido, como poderia ter isso? Sou apenas uma policial louca e incapaz."

Assim que o elevador se abriu não esperei os dois saírem passei pelo meio e segui até a saída do prédio, era angustiante estar perto deles, para dizer a verdade era aterrorizante ficar perto daquelas pessoas, assim que coloquei os pés na entrada já podia sentir o calor do sol penetrando minha pele e queimando meus olhos, apenas respirei fundo e segui até a rua, tantos prédios em volta tantas pessoas saindo para trabalhar, ou levando seus filhos para escola, parece que a sociedade não sabe a sorte que tem em poder ter apenas a capacidade de fazer coisas simples.

Caminhei até o ponto de ônibus, e peguei o primeiro que se aproximava, já que o bairro que precisava ir não era muito longe, apenas um dos muitos centros comerciais da cidade velha. Paguei minha passagem e sentei no quarto banco no lado direito do ônibus, segui o caminho observando as muitas pessoas e os vários prédios residências passarem.

Estava tão imersa em meus pensamentos que se não fosse uma criança sentada com sua mãe no banco ao lado chorando, não teria percebido que meu destino já havia chegado, levantei quase que no susto enquanto o ônibus parava em seu ponto. Assim que desci, parei e observei o prédio de três andares à frente.

Ava - VIVER OU MORREROnde as histórias ganham vida. Descobre agora