Capítulo 9 - Eu posso ficar?...

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Aproximei a agulha de meu braço, o sangue saindo com facilidade e dificultando a visão.

– Deveria usar alguma coisa para parar isso. – Olhei novamente para a maleta e avistei um elástico amarelo muito usado pelas enfermeiras na hora de coletar sangue, alcancei o mesmo passei por debaixo do braço, peguei um lado com a boca e o outro fiz um nó, aquilo ajudou a diminuir o sangramento. Como meu corpo estava agitado e meu sangue quente era normal sair uma quantidade maior não era como se tivesse cortado uma veia afinal nem estaria aqui para começo de conversa, limpei a ferida com água e novamente peguei a agulha já com a linha.

– Vamos lá é só pensar que estou costurando uma blusa rasgada. – Como se costurar uma blusa ou um casaco fosse o mesmo que costurar pele humana, concentrei minha mente e foquei meus olhos no espelho para ter uma visão melhor.

Passei o primeiro ponto era uma dor chata, como se a enfermeira estivesse coletando meu sangue diversas vezes no mesmo lugar, talvez um pouquinho pior.

– Isso que ganho por me meter na vida dos outros. – Consegui fazer três pontos, me sentindo aliviada por acabar, limpei todo o sangue e guardei o que usei, podendo por fim tomar banho.

Coloquei uma regata e uma calça de moletom, meu cabelo castanho-claro estava molhado, batia na altura do meu peito, peguei a toalha e secando o máximo que podia, jogando a mesma de lado dentro na cama e adormeci. Estava novamente naquela casa, a mesma estava escura mais não havia sinal dos corpos da minha irmã e de Alessa, estava úmido e frio, parada entre a sala e a cozinha me vi perdida quando meu corpo não se moveu, olhei para baixo vendo algum tipo de líquido viscoso agarrar meus pés me sugando em sua direção, tentei puxar o mesmo não tendo resultado algum, aquele líquido foi subindo em meu corpo e um forte cheiro de sangue entrava em minhas narinas me deixando completamente enjoada, entrei em pânico quando notei que o líquido não era nada, mas e nada menos que puro-sangue.

– Por favor, me deixe sair! Me deixa acordar! – Tinha total consciência de que aquilo era meus pesadelos, os mesmos estavam tentando me afundar cada vez mais em culpa e desespero então fazia de tudo para poder acordar e gritava para alguém me despertar, mesmo sabendo que não era possível afinal morava completamente sozinha em meu apartamento de solteiro.

– Você está sozinha, Ava! – Uma voz baixa e ruidosa ecoava, me assustando e me fazendo olhar para os lados atenta ao que podia vir.

– Está com medo? Nós também estamos! – Outra voz um pouco mais melodiosa sussurrava ecoando pelo espaço amplo.

– Você nos deixou sozinhas! – A voz ruidosa falou, liberando um estalo em minha mente.

– Fica com a gente. Avi. – A voz melodiosa era minha irmã apenas ela usava meu nome assim, era meu apelido, ela estava muito perto, sentia como se estivesse atrás de mim ecoando baixinho em meu ouvido, como uma leve brisa de inverno que entrava pela fresta da janela.

– Eu posso ficar? Sim, ficarei com vocês! Não vou deixá-las! – Sentia meu corpo pesado, enquanto minha mente começava a ficar enevoada.

Aquele líquido já me cobria por inteiro era como se a casa estivesse dentro do mar, porém tudo continuava em seu lugar, a minha frente duas silhuetas se fizeram presentes as duas usavam vestidos brancos seus cabelos dançavam flutuando naquele líquido onde tudo era vermelho vivo, apenas as duas se destacavam, seus pés descalços não tocavam o chão, e em seus rostos um pequeno véu os cobria, da mesma forma que era usado em uma noiva na parte de trás só que nesse caso estava invertido, impossibilitando a visão de seus rostos.

As duas silhuetas estenderam seus braços, estavam me chamando, meu corpo se movimentou voluntariamente em suas direções, meu braço esquerdo se levantou sozinho enquanto apenas via aquela cena, sentia um formigamento em minha espinha, mas decidi ignorar, enquanto ia me aproximando o braço direito se levantou ansiando para alcançá-las, ao mesmo tempo que parecia ser uma curta distância no outro parecia que era longe como o atravessar de uma longa ponte, quando quase podia alcançar a ponta de seus dedos algo me prendeu, olhei para meus pulsos e pesadas correntes o circulavam, segui com os olhos até onde seria o começo delas, e na ponta de cada uma estavam duas silhuetas de homens, um ódio imenso cresceu em meu ser me consumindo por inteiro, afinal sabia de quem os mesmos se tratavam.

– GRRRR! – O grito das mulheres me assustou completamente fazendo meu coração bater duas vezes mais rápido, olhei para elas a tempo de vê-las partir em desespero.

— NÃO-OO POR FAVOR VOLTE! – Gritei desesperada enquanto tentavam em vão alcançá-las, quando sumiram meu peito foi consumido pelo vazio.

– Estou sozinha de novo? – Sussurrei já sabendo a resposta.

As correntes foram chacoalhada e a risada macabra dos dois homens preencheu todo o espaço, minha casa antes banhada naquele sangue agora era apenas uma extensão daquela ponte, meu corpo tremeu caindo no chão cansado, novamente as correntes tilintavam e novamente aquela risada assustadora ecoou seguida de um puxão forte fez meus braços estalarem um grunhido de dor saiu de minha garganta, e então em um estalo fui puxada para mais perto deles.

Gritei quando fui obrigada a chegar, mas perto, as silhuetas vestia uma calça jeans manchada de sangue, seus peitos subiam e desciam rapidamente e seus rostos estavam distorcidos em uma careta assustadora como se estivessem sedentos por alguma coisa enquanto de sua boca escorria sangue, fui colocada deitada no chão enquanto me contorcia, não era mais necessário que os mesmo me segurassem as correntes agora estavam presas nas paredes da ponte mantendo meus braços tão abertos que era dolorido respirar.

– Me deixa sair! Me solta, agora! – Me debati, porém, seus sorrisos apenas se alagaram ainda mas.

– O que vocês querem?

– Me deixa sair!

– Grr! Me solta! – Gritava e falava em vão, eles apenas permaneciam parados com aqueles sorrisos assustadores o da direita passou a língua pelos lábios enquanto me olhava como se fosse um caçador faminto olhando para a sua caça estirada no chão impotente.

Mas naquele olhar ao, mas se fazia presente não havia apenas o desejo de matar e devorar a caça, havia algo a mais. Quando entendi o que iria acontecer comecei a berrar e a me debater mais forte e mais rápido, enquanto ele se aproximava lentamente alcançando minha cintura e a apertando em seguida, cravando grandes unhas afiadas, gritei de dor, mas o mesmo não parou até que vi sua outra mão livre vindo em direção ao meu pescoço, fechei meus olhos chorando temendo o que fosse acontecer, só queria sair dá li.

– Por fa-vor al–guém me ajuda–a. – Implorei praticamente sem voz alguma soluçando de desespero.

Ava - VIVER OU MORREROnde as histórias ganham vida. Descobre agora