Capítulo 11 - Obrigada

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A uns quinze metros de distância um homem tentava puxar uma mulher de aproximadamente vinte cinco anos para dentro da reserva, o homem tentava a todo custo cobrir a boca da mulher, naquele horário do dia não passava muita gente, pois era usado mais para lazer, principalmente na parte em que estávamos, na qual era, mas próximo à floresta e já que a maioria da cidade estava indo trabalhar ou estudar era quase escasso o número de pessoas no parque seria fácil se realmente não tivesse ninguém ali provavelmente o homem não tinha me visto.

Coloquei o celular atrás na barra da calça para não arriscar cair e principalmente quebrar, afinal não estou nas melhores condições para se comprar qualquer coisa nova, ter um teto sob minha cabeça já era um luxo, corri em suas direções a toda velocidade, enquanto o homem continuava a puxar a moça de costas para floresta, para mim eles estavam de lado, era possível ver suas duas mãos, me dando a liberdade de agir como bem entendesse claro que seria tudo com cautela para a mulher não sair ferida.

– Ei! SOLTA ELA! – Gritei puxando o braço esquerdo do homem que cobria a boca da mesma enquanto puxava a mulher para trás de mim.

– CHAMA A POLÍCIA! – Comandei assim que a mulher estava livre e segura e vendo que a mesma ainda mantinha a sua bolsa nas mãos.

Antes que desse, alguma chance para o homem fugir, girei meu corpo para trás do mesmo,  lhe dei uma chave de braço, o homem grunhiu enquanto tentava se soltar sem lhe dar, mas chance o derrubei no chão com uma banda, o fazendo cair de peito, coloquei o joelho esquerdo sob suas costas o pressionando ainda mais sob o solo frio da manhã.

– Sua vagabunda… não deixa eu te achar, vou te matar! – Vociferou cuspindo sobre a grama.

– Matar? Você acha que tenho medo? Eu vou estar esperando! – Sussurrei em seu ouvido, achando bastante engraçado como um preso poderia me matar.

– Ei garota! – A mesma me olhou assustada segurando o celular no ouvido.

– Quero que vá até atrás daquela árvore e apenas espere a polícia ali! – Apontei para a árvore mais próxima que tinha à nossa frente.

– Ma-s e vo-cê! – Perguntou tropeçando nas palavras visivelmente assustada e trêmula.

– Apenas vai, e não olhe mesmo que escute um pedido de ajuda. – Ela concordou com a cabeça e correu até a árvore enquanto falava no telefone, provavelmente com a polícia. Assim que constatei que ela não estava olhando, me abaixei perto do ouvido do homem e voltei a sussurrar.

– Quando você sair da cadeia vai se lembrar de nunca mais encostar em outra mulher! – Com o homem de costas para mim levantei seu braço o fazendo se contorcer de dor, não  dei chance alguma para que o mesmo gritasse, soquei sua boca com a outra mão livre, coloquei seu braço em meu ombro e sem nem pensar o quebrei, o mesmo berrou tão alto que mesmo os moradores de dez quilômetros de distância poderia ouvir, virei seu corpo para cima imediatamente o desgraçado segurou seu braço berrando de dor e enquanto me xingava de todos os nomes possíveis ou o quanto seu vocabulário pobre permitia.

– Acha mesmo que acabou? – Antes dele responder dei um soco em sua boca, seguido de repetidas vezes até arrancar ao menos dois dentes e deformar de vez seu nariz feio, assim que ele parou de tentar reagir o larguei me levantando, limpei o sangue das minhas mãos, em sua camiseta, e me levantei satisfeita com o resultado, vendo seu corpo magrelo sem qualquer reação, sabia que ele não estava morto já que seu peito ainda se movimentava.

– Acredito que vai se lembrar né? – Cuspi no chão ao lado do seu corpo e sai em direção à mulher, a encontrando tapando os ouvidos, toquei seu ombro e a mesma se assustou soltando um gritinho.

– Sou eu. – A tranquilizei, ela me olhou e tentou olhar para o homem caído.

– Ele não vai levantar, a polícia já tá chegando? – Perguntei desviando seu olhar para mim novamente enquanto estendia minha mão em sua direção, acredito que seria melhor que a mesma não visse, assim ela não seria acusada de nada.

– S-sim. – Respondeu aceitando a mesma e se levantando, podia sentir sua mão molhada com um suor frio.

– Leve ao menos um borrifador na bolsa, nunca se sabe quando vai precisar. – Respondi tirando meu celular de trás da calça colocando os fones e assim podendo voltar finalmente para casa, queria que a mesma nunca precisasse se preocupar com isso, mas sei que nessa cidade isso nunca será possível.

Assim que saí do parque o que não levou nem dois minutos a polícia chegou, já que sempre havia policiamento por perto era fácil e rápido resolver uma ocorrência em algum lugar perto mesmo que isso nunca fosse garantia de nada, dois polícias um feminino e outro masculino saíram do carro e passaram por mim indo em direção à mulher, pareceram não notar que estive com ela, o que me livrava de uma enorme dor de cabeça, assim que deram distância voltei a minha corrida só que agora de volta para casa, levei o mesmo tempo, assim que atravessei o portal fui parada pelo porteiro barrando meu caminho.

– Senhorita dos seiscentos e cinco, sua correspondência, a Senhorita me poupou uma caminhada. – Brincou com um sorriso amigável o porteiro no qual nunca lembrava o nome, sempre estava com uma calça social e uma blusa branca, porém não usava gravata, era branco e cabelos pretos, rosto marcado pela idade parecia ter entre os quarenta a cinquenta, seu cabelo já continha traços de fios grisalhos, e seu sorriso já estava amarelado, e suas roupas tinha um leve odor de cigarro mesmo que tentasse disfarçar com o forte odor de perfume masculino, era baixo e magro, uma pessoa que passaria despercebida por qualquer um entre a multidão.

– Obrigada. – Peguei as cartas de sua mão seguindo para a escada, passando uma por uma notei serem apenas contas e mais contas, parecia ter umas quatro, passei para a última que era o aluguel.

– Odeio essa vida. – Bufei, agora dando passos mais largos, ansiando por voltar mais rápido para casa.

Talvez esteja reclamando de barriga cheia, minha vida deve ser boa aos olhos de outras pessoas, só não devo enxergar, voltei para o meu apartamento, retirando meus tênis de corrida, quando levantei o braço para tirar o casaco senti o mesmo latejar, como meu casaco era preto não apareceu a mancha vermelha de sangue que escorria por meu braço, era de se esperar aquilo após bater tanto naquele cara.

– Pelo menos era preto. – Resmunguei indo ao banheiro e desenrolei a gaze vendo que os pontos haviam todos se soltado.

– Parabéns para mim, ninguém mandou exagerar. – Bufei lavando o braço na pia, deixando o sangue escorrer se misturando com a água caindo direto no ralo.

– Esquece pelo menos a garota tá bem. – Era muito comum conversar alto em casa, talvez fosse uma mania que adquiri por ficar muito tempo sozinha, mas quem ligava para isso? Não tinha ninguém para ouvir mesmo.

– Há! Não vou fazer outro ponto que se dane isso. – Terminei de lavar o braço, coloquei um curativo novo, não me importava em ficar com outra cicatriz, seria apenas mais uma sem contar que seria doloroso fazer tudo aquilo de novo, voltei para a cozinha já que a fome falava mais alto que aquela dor.

Andei até a geladeira a abrindo, não havia muita coisa, apenas uma dúzia de ovos, alguns pacotes de comida instantânea, duas bananas e várias garrafas de água, eram as únicas coisas que, mas consumia, sem contar das vezes em que apenas ia dormir ou que nem ligava se estava com fome. Sabe, minha vida nem sempre foi assim, ninguém gostaria de viver apenas para comprar o básico e pagar até o ar que respira. Peguei um pote de comida instantânea, macarrão com queijo, o coloquei no micro-ondas, puxei uma garrafa de água, a abrir tomando um longo gole, sentindo minha garganta melhorar da secura que sentia, parei no balcão em pé enquanto apreciava a maravilhosa vida que tinha.

Ava - VIVER OU MORRERWhere stories live. Discover now