Capítulo 8 - Quem está falando?

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"Talvez possa usar o chip separadamente. Pensei enquanto analisava o aparelho, ao longe ouvi as sirenes ficando aliviada no mesmo instante, sabia que não levaria, mas tanto tempo para mim poder voltar para casa, retirei o chip e o inseri no meu celular, se deixasse para os socorristas fazerem isso talvez não pensariam em usar apenas o chip."

"Ou eu apenas não confie mais em vocês. Não, era algo de se espantar há muito tempo, não confiava no sistema de segurança quanto de saúde da cidade."

Assim que meu celular reiniciou, os bombeiros já haviam chegado, e já se preparavam para apagar o fogo no carro, a ambulância foi o segundo no qual os socorristas já desciam com os "kits" de primeiros socorros, vindo em nossa direção, me levantei assim que os mesmo se aproximaram.

— Batida na cabeça, uma ferida mais séria na perna esquerda, de resto apenas feridas leves pelo corpo. — Esclareci aos socorristas que começaram a examiná-lo, colocando um torniquete e o movendo para a maca.

— A senhora está ferida, nos acompanhe ao hospital. — A socorrista feminina que havia acabado de examinar a perna do homem ao meu lado notou e já começava me tocar, eu mesma já havia me esquecido, então apenas recuei, não queria meu nome envolvido com aquelas pessoas nem com o hospital.

— Não há necessidade, apenas um corte superficial. — Claro, também não gostava de hospital, então qualquer oportunidade que tivesse de fugir seria usado.

— A senhora tem que acompanhar seu marido de qualquer forma, então podemos tratá-la também, logo se sentirá melhor — Não entendi de onde ela tirou isso, mas não tive chance de retrucar já que a mesma me empurrava até a ambulância, às vezes essas pessoas conseguiam ser insistentes.

Me sentei no banco obrigatoriamente e logo depois dos socorristas, ficando de frente para a maca já que era a primeira a entrar no veículo, e sem demorar olhei de volta para meu celular que já portava os números do mesmo em seu armazenamento, às vezes a tecnologia podia atrapalhar, mas do que ajudar, mas nesses casos realmente era de grande ajuda. Procurava por algum número que indicasse sua família, mas o mesmo continha apenas os nomes, rolei mais um pouco para baixo e encontrei um que estava nomeado com irmão, acredito ser quase um dos únicos contatos que tinha uma forma de tratamento ao invés do nome e sendo assim, apertei em cima e esperei chamar, enquanto ouvia o som da chamada pude olhar o rosto do homem com mais calma, rosto quadrado, olhos fundos, nariz pontudo, sobrancelhas grossas, e cabelo levemente ondulado com um corte raspado do lado e alto em cima.

— Alan! Mano onde você está? Estamos te esperando há um tempão já... — Uma voz grossa e grave ecoou do outro lado, parecia com pressa.

— Seu amigo está com problemas. — O interrompi com calma em minha voz.

— Quem está falando? — Perguntou, parecia surpreso.

— Para onde vocês estão nos levando? — Perguntei à socorrista do meu lado, não tinha muita paciência para conversar com estranhos, e também não havia necessidade de prolongar esse assunto.

— Hospital geral de la cruz. — Respondeu, esse seria o hospital fundador, ele ficava no centro da cidade, era só ter pensado um pouquinho que a resposta viria sem muito esforço.

— Estamos indo para o Hospital geral de la cruz, seu amigo sofreu um acidente, não parece ser nada grave, mas como não o conheço não posso tomar partido de nada. — Respondi desligando o celular, não gostava de conversar com pessoas que não conhecia, então sempre que precisava falar com outras pessoas de fora, era falado apenas o extremo necessário.

— Me desculpe, pensei que fosse seu marido. — A mulher falou, lembrando do que disse antes de me arrastar para o carro.

— Se tivesse me ouvido antes, saberia. — A repreendi não conseguindo evitar ser grossa, a deixando constrangida. — já estamos chegando? — Perguntei olhando para o horário no celular.

— Sim, estamos. — Respondeu ainda com constrangimento na voz.

Assim que chegamos no hospital fomos levados para o pronto-socorro onde o tal Alan foi recebido por um médico de aparência coreana, Old City era uma cidade cheia de estrangeiros, pois era muito fácil viver na mesma, o médico prestava total atenção a todas as informações que um dos socorristas fornecia, o homem foi levado até uma das cabines enquanto uma enfermeira se aproximava de mim.

— Venha, me deixe examinar seu braço, seu esposo está em ótimas mãos, o Doutor Eun Ji é ótimo. — Outra... Respirei profundamente com toda a paciência se esvaindo do meu corpo, da onde que esse povo tira essas conclusões tão precipitadas.

— Não precisa apenas pegue o número do irmão dele, estou indo embora, uma caneta por favor. — Me aproximei do balcão pegando a caneta da mão da enfermeira atrás do mesmo, anotei o número e o nome que o outro homem o chamou e apenas saí do local.

A noite estava fria, mas era agradável estar ali fora, o tumulto no pronto-socorro era sufocante, caminhei pelas ruas movimentadas até o ponto de ônibus, assim que cheguei algumas pessoas pareciam assustadas, talvez meu estado não fosse um dos melhores naquele momento, mas não me sentia incomodada nem um pouco apenas continuei esperando a condução enquanto recolocava os fones de ouvido. Coloquei minha jaqueta suja para cobrir o ferimento em meu braço e arrumei meu cabelo, alguns minutos depois o ônibus chegou me deixando aliviada, estava ansiando por um banho naquele momento.

Me sentei novamente atrás do banco do motorista e ali nem havia percebido haver dormido, fui acordada pelo toque do celular que ecoava pelos fones, era James desliguei não sentindo vontade de falar com ninguém no momento, olhei para a janela e notei que já chegava na parada, me levantei e dei sinal de que iria descer, assim que o fiz caminhei para o prédio a frente iluminado pelas luzes dos apartamentos, decidi pegar a escada contra a minha vontade, mas não queria abrir espaço novamente para mais perguntas de vizinhos enxeridos, então apenas caminhei até o estacionamento e entrando na porta que levava para a mesma.

Nesses momentos que me amaldiçoava por morar no sexto andar, porém entre esse e o sétimo já estava em vantagem, ou talvez fosse apenas uma maneira de dizer que estava melhor que alguma pessoa nessa cidade, seria como dizer que minha situação poderia ter um lado positivo, o que era muito difícil de acreditar.

Com os passos ecoando pelas escadas alcancei meu andar tranquilamente sem as conversas no elevador, andei apressadamente até a porta de casa, entrei na mesma já retirando os sapatos e jogando a jaqueta no chão, andei até o banheiro enquanto soltava o cabelo, tirei a blusa quando entrei no quarto, me lembrando da arma em minha cintura apenas a retirei colocando em cima da cômoda ao lado da porta.

— Depois dou um jeito em você. — Disse sem dar muita importância, desabotoei as calças e a tirei jogando a mesma no chão, entrei no banheiro e pude me olhar no espelho tendo uma noção do meu estado, minha blusa branca estava completamente marrom parecendo que aquela cor era a original, olhei meu braço notado o quanto estava sangrando, felizmente não era o suficiente para respingar pelo chão tirei minha blusa a jogando fora, ela não teria salvação alguma de voltar a ser como antes.

Liguei o chuveiro com a ideia de retirar toda aquela sujeira e o sangue seco para assim ter uma visão melhor, assim que consegui, fui até embaixo da pia no armário e de lá retirei meu "kit" de primeiros socorros, sempre mantive um, no caso de emergências, porém até o momento era usado para cortes leves nada que precisasse de muitos pontos. Retirei o álcool e joguei em meu braço, ardendo no processo.

— Grrr! Que droga! — Aquilo ardia como um inferno, não que já tivesse experimentado a sensação.

Retirei um pequeno "kit" de sutura da maleta vermelha, colocando a linha na agulha e me preparando mentalmente para o próximo passo. Respirei fundo e olhei para a ferida que escorria sangue quente, com meu coração disparado, não fazia aquilo com frequência, mas não como se nunca tivesse feito. Respirei fundo novamente.

Ava - VIVER OU MORRERWhere stories live. Discover now