Capítulo 15 - Permita-me...

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– Vamos. – Nós dirigimos até a entrada do prédio, parei no meio do hall de entrada, enquanto David ia falar com o porteiro, pude notar que o prédio era muito inferior aos outros, mas não era sujo ou prejudicado, apenas parecia mais velho, nada que uma reforma não resolveria.

– Ela mora no sexto andar. – David me informou assim que se aproximou, chamando a minha atenção.

– Certo. – Nós nos aproximamos do elevador, quem o chamou foi meu amigo, na qual não demorou em chegar, a porta se abriu, e apenas entramos, era um lugar um tanto quanto pequeno, talvez houvesse espaço para cinco pessoas, mas que isso só espremendo.

A porta ia se fechando quando uma voz carregada pela idade pediu que parasse, coloquei a mão na porta a impedindo de fechar enquanto via uma senhora se aproximar a passos lentos, carregando uma bolsa de mulher marrom de couro, no braço direito, enquanto puxava um carrinho de compras com o esquerdo, usava um vestido florido em tons de verde e um chalé branco sob os ombros, o cabelo preso em um coque baixo, carregava um sorriso gentil.

– Muito obrigada, meninos. – Agradeceu gentilmente nos dando uma boa olhada.

– Qual andar, senhora? – David perguntou já que os botões estavam do seu lado direito.

– Vou pro mesmo que vocês. – Respondeu olhando o painel, a porta se fechou e assim começou a subir.

– Vocês têm namoradas? Eu tenho uma neta muito bonita, posso apresentar um de vocês? – Perguntou enquanto olhava para frente como se fossemos conhecidos, Olhei para David que havia ficado vermelho, de fato não tínhamos, e nem tempo para isso sobrava.

– Temos, sim, sinto muito. – Respondi no automático, era mais como uma resposta na ponta da língua.

– Vocês querem ver a foto dela? Ela é tão bonita. – Disse revirando a bolsa.

Porque esse elevador não chega logo! Estava achando essa velhinha muito simpática, agora tá ficando chata.

– Senhora, não há necessidade, não perca seu tempo. – David falou curto e grosso, deixando a vergonha de lado. Iria acrescentar algo, porém o elevador parou e a porta foi aberta, para o alívio de todos.

– Permita-me! – Indiquei a porta lhe dando total passagem, a senhora saiu um pouco a contra gosto.

Revirei os olhos quando a senhora se distanciou e meu amigo bufou, era muito comum esse tipo de cena onde mulheres se jogavam e senhoras queriam empurrar suas familiares em nossas direções, era um tanto quanto incômodo, por muita das vezes evitava aparecer em público, para não me irritar, podíamos ter a mulher que quiséssemos, poderíamos literalmente escolher, mas depois as mesmas se sentiriam em algum tipo de pedestal e que seria a dona de tudo.

"Apenas irritante. Tudo isso para mim era desnecessário."

Saímos do elevador, andamos na mesma direção que a velha, andou em uma boa distância esperando que a mesma entrasse em uma daquelas portas, a mesma parou na casa seiscentos e quatro, a abriu e fechou assim que entrou, olhei para David que fez não com a cabeça seguindo em frente. Meu amigo parou na próxima porta, deu três batidas e esperou, parei ao seu lado, olhando para os lados reparando na cor do corredor e o quanto parecia velho e sem vida, apenas um tom de marrom, num carpete sujo e desbotado pelo tempo. Ouvi passos ao meu lado e uma voz muito doce ecoando até meus ouvidos.

– Quem são vocês? – Era uma garotinha de pele morena, olhos grandes e um belo vestidinho azul segurando um gato persa laranja em seus pequenos braços.

– A tia Ava não gosta de visitas. – Acrescentou, olhando para a porta.

– Não se preocupe garotinha, somos conhecidos da sua tia, vínhamos cumprimentá-la. – A respondi abaixando e ficando o máximo possível a sua altura.

– Que gato bonito, qual o nome dele? – Perguntei enquanto olhava em seus olhos, não sabia qual era a relação da criança com a mulher, mas não queria parecer ameaçador para uma pequena criança.

Para uma criança ser bonito não é tudo, crianças sabem quando alguém é mal, parece que conseguem se sentir assim como uma animal. A pequena ia responder se a porta ao meu lado não tivesse sido aberta tão abruptamente, e um par de pernas vestindo calça de moletom não se abaixasse e puxasse a criança para si, olhei para cima, vendo olhos azuis, extremamente hostis num rosto terrivelmente delicado lançar em minha direção, segurava os ombros da pequena, que não entendi nada do que estava acontecendo.

Me levantei enquanto a mulher de cabelos amarrados de qualquer jeito terminava de se abaixar na altura da criança, olhei para David que me respondeu com as sobrancelhas arqueadas, talvez ela soubesse da nossa intenção, ou apenas não gostava de visitas realmente.

– Princesa, o que você acha de ir brincar com o salmão em casa para ele não fugir hem? – Perguntou com uma voz totalmente aveludada e carinhosa, enquanto ajeitava o vestido que já estava perfeitamente ajustado no corpo da criança. A pequena concordou com a cabeça

— Tia Ava, a mamãe fez biscoitos, vou pegar para você comer. – Respondeu com uma expressão muito fofa no rosto.

"Quem resistiria a uma criança dessas? Me questionei sabendo que a mulher estava apenas mandando a criança embora, para a própria segurança."

– hum biscoitos! Vou querer muitos, então mais tarde a gente come um monte deles, pode ser? Agora gostaria de conversar com esses senhores, okay? – Respondeu depositando um beijo em sua testa, vendo a garotinha que saiu pulando enquanto ainda mantinha o gato nos braços.

Observamos a criança seguir pelo corredor até chegar em uma porta no tom marrom escuro quase que no final do mesmo, enquanto nós estávamos parados no mesmo lugar, a criança abriu e entrou logo em seguida.

"Tão fofa. Seria bom ter uma criança. Mas que merda você tá pensando se concentra. Me repreendi mentalmente por perder o foco."

– Quem são vocês? – Perguntou chamando nossa atenção, só então notei que a mulher já estava em pé, com os braços cruzados e lançando um olhar irritado em nossa direção, como se tivéssemos cometido algum grande erro.

– Você salvou nosso amigo, foi comigo que você falou pelo celular na noite do acidente, me chamo Klaus Campbell, gostaríamos apenas de trocar algumas palavrinhas com a senhorita. – Me apressei a falar, não querendo perder a chance de conversar com ela, já que precisávamos muito de sua cooperação.

Ava - VIVER OU MORREROnde as histórias ganham vida. Descobre agora