Capítulo 2 - Hospício.

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O prédio de três andares na cor azul, decorado com árvores baixas em um jardim em formato de arco, apenas para dar um ar mais acolhedor ao lugar que para mim não tinha nada de agradável tamanho era o ódio que sentia ao estar ali me fazia sentir que o mundo era injusto e aqueles que mereciam o pior não chegavam nem perto desses locais, um nome requintado que daria para aquele hospício hospital de lá cruz, onde os psiquiatras, psicólogos, e o que mais for médico da cabeça ou chamada saúde mental ali se reuniam, um grande hospício para polícias com traumas psicológicos.

Sem muita escolha, respirei o, mas fundo possível e caminhei até a entrada, assim que meus pés chegaram a frente da porta de vidro e quando minha mão direita tocou a maçaneta fria e puxei meu estômago embrulhou o cheiro de desinfetante barato e com aqueles perfumes que se encontra dentro de carros que apenas parece agradável, mas, na verdade, é um dos piores cheiros possíveis para se colocar em um automóvel se encontrava ali.

Sem mais e nem menos cheguei até a recepção e com o olhar da recepcionista sobre mim como se estivesse me analisando me forcei a dar um sorriso simpático na qual a mesma retribuiu.

- Ava Antonelli, consulta com o doutor Lee. - Foi o suficiente para fazer a recepcionista de aparentemente trinta anos, loira vestindo uma roupa branca, característica de alguém de um hospital checar em seu computador meu horário.

- Senhorita Antonelli, bem na hora, já pode entrar, o doutor já está à sua espera. - Falou ainda olhando para o monitor à sua frente, como já sabia o caminho automaticamente me movi para o elevador e chamei o mesmo. Dei uma olhada em volta apenas para notar que era uma das únicas pessoas naquele horário, aparentemente a maioria preferia dormir mais um pouco ou apenas deixar uma consulta para depois, havia algo mais importante em suas vidas, ou talvez só preferia eliminar aquela parte não essencial dos seus preciosos tempos limitados.

Entrei no elevador inventando novos xingamentos, coisa que era normal toda vez que entrava naquele prédio, a subida sempre era tão rápida quase não dava tempo de pensar, assim que dava por mim já estava batendo na segunda porta do corredor azul, ouvi o "entre" e assim que coloquei a mão na maçaneta minha expressão mudou para totalmente animada, respirei fundo e entrei.

- Senhorita Antonelli que bom que chegou! - O doutor, que aparentava ter cerca de trinta e cinco a quarenta anos com uma aparência chinesa, me cumprimentou antes de poder entrar completamente na sala.

- Bom dia, doutor Lee estava ansiosa para a sessão de hoje! - "Ansiosa, eu tava era de pular daqui de cima. Talvez meus pensamentos também não ajudavam muito em minha situação."

- Fique à vontade, hoje vamos apenas conversar. - Graças a Deus é horrível quando tenho que fazer a sessão de psicanálise, me deixa terrivelmente desconfortável. Caminhei até o sofá vermelho que ficava ao lado do divã igualmente da mesma cor, odiava deitar naquele treco. Assim que me senti relaxada, o doutor começou.

- Me conte como foi a semana anterior? - Isso mesmo hoje já era segunda, na verdade, nem me lembrava disso.

- Foi muito bem doutor, segui tudo o que o senhor me recomendou. - Sim, era uma mentira, como se sair com novas pessoas fosse realmente ajudar alguém como eu, isso poderia ser para qualquer outra pessoa, mas não para mim de forma alguma.

- E seus pesadelos? - Perguntou enquanto ainda anotava algo no caderno.

- Há algum tempo que não tenho, acredito que esteja melhorando. - Como se hoje de manhã mesmo não tivesse acordado de um.

- O que tem feito antes de dormir para evitá-los? - Novamente apenas continuou escrevendo.

"O que faço antes de dormir? Continuo lendo o relatório que consegui pegar antes de ser demitida. Era inevitável pensar aquelas coisas enquanto conversava com o psicologo, claro sabia que terapia realmente me ajudaria nesse momento, mas não agora, não com ele."

- Tenho lido livros. - Acho que mentir estava sendo algo natural em todas as minhas sessões, até mesmo na psicanálise.

- E qual foi o livro que te chamou a atenção? - "Qual o livro que li? Boa pergunta, nem mesmo sei deixe-me lembrar de algum. Me perguntei internamente"

- Irmãos Grimm, principalmente sobre a chapeuzinho vermelho. - É pelo menos me lembrava da história, mesmo que vagamente.

- Interessante porque logo essa? - "Por quê? Talvez seja porque tem muito lobo por aí, principalmente os que se disfarçam de velhinhas inofensivas. Queria tanto me expressar naquele momento"

- Porque, a chapeuzinho é uma boa pessoa, mesmo sendo enganada pelo primeiro lobo, o segundo não teve nem chance de sentir o cheiro da vovó. - "Era um bom conto, a menina e a vovó tiveram sua vingança. Completei enquanto olhava para a janela. A vista do céu estava muito azul, parecia tranquilo lá fora, pena que aqui dentro tudo estava turbulento."

Após vinte minutos de perguntas, aquela interminável sessão de tortura acabou, quando pus a mão na maçaneta, a voz do doutor Lee ecoou até meus ouvidos.

- Senhorita Antonelli, você está indo muito bem, acredito que poderá voltar para a corporação se desejar. - Disse com um sorriso no rosto de satisfação.

- Obrigada doutor! Até a próxima! - Fechei a porta e surpreendentemente foi a primeira vez que aquele caminho foi efetuado mais lentamente que o normal.

"Voltar para a corporação? Ainda posso ser policial? Acho que gostaria de voltar a ativa. Minha mente naquele momento entrava em uma grande dúvida."

Quando dei por mim a entrada do hospital já havia chegado, voltei todo o caminho para casa tendo diversos pensamentos aleatórios, era tão estranho que passei um ano pensando que nunca mais poderia ser policial.

- Ava, você avistou o salmão em algum lugar? - Uma voz baixa ecoou despertando meus devaneios.

- Ahn? O quê? - Perguntei olhando para os lados até ver Sophia, a garotinha de sete anos de pele morena e olhos grandes que morava no, seiscentos e um, era tão fofa.

- O salmão fugiu, mamãe disse para olhar no corredor. - Disse enquanto mexia na barra da blusa rosa.

- Não vi mais se o achar levo na sua casa. - Disse-me abaixando acariciando o topo da sua cabeça, olhando em seus olhos e sorrindo, ela sacudiu a cabeça positivamente e saiu.

Olhei em volta, finalmente reparei que estava na frente da minha casa, o número seiscentos e cinco em destaque na porta de madeira no tom marrom. Abri a porta de casa no mesmo momento em que minha barriga resmungou olhei em volta minha casa não era suja nem bagunçado, mas não era um lugar considerado uma casa, não tinha sala era literalmente onde usava para olhar meus arquivos de casos anteriores uma pequena mesa de centro e uma televisão de tela plana na qual ficava no chão, minha parede estava lotada de fotos, mapas e registros de jornais e outros recortes, minha cozinha que estava ao lado da mesma tinha apenas um fogão pequeno uma geladeira pequena e uns poucos armários embutidos na parede a ilha estava sendo usada principalmente de enfeite, pois nunca comia ali, meu quarto estava de frente para sala e ao lado da cozinha no qual tinha apenas uma cama de solteiro um pequeno guarda-roupa com algumas poucas roupas, a porta do banheiro ao lado do mesmo. Essa era a casa de um ex-policial que serviu a sua cidade sendo jogada no lixo descartada por um ser que nem valia a pena existir nesse mundo.

Ava - VIVER OU MORRERWhere stories live. Discover now