Capítulo 10 - Por que?

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– Triim triim…


Abri os olhos no susto e me sentei na cama em um pulo, meu coração estava disparado, senti minha roupa completamente molhada de suor, minha respiração estava irregular enquanto olhava desorientada procurando o celular que tocava loucamente no criado-mudo. Olhei o visor e o nome de James estava gravado nele não queria atender, mas sabia que se não fizesse o mesmo viria me incomodar em minha casa, respirei fundo tentando controlar minha respiração, tentando disfarçar qualquer coisa que pudesse parecer suspeita, e alcancei o mesmo notando que minhas mãos estavam trêmulas, ou melhor, meu corpo inteiro estava tremulo e arrepiado, claro não era nada fora do comum aquela era uma cena quase que tipica das minhas manhãs.

– Alô? – Minha voz saiu mais baixa do que gostaria, então apenas torcia para que o homem do outro lado pensasse que era porque acabei de acordar.

– Você está bem? Ontem eles saíram da linha, pensei que você ia matar alguém. – Não era como se nunca tivesse passado por isso, então já era normal, só fiquei com raiva naquele momento porque era o aniversário de Sara.

– Claro que estou, não é como se nunca tivesse ouvido esse tipo de coisa, esqueceu? Saiu nos jornais. – Respondi passando a mão no cabelo e levantando no processo. Andei até a janela abrindo a cortina vendo o sol brilhar no céu azul.

– É verdade, mas como foi aqui em casa Helena ficou preocupada. – No fundo da sua voz podia sentir que o mesmo também estava incomodado com o ocorrido, respirei fundo antes de responder.

– Sara gostou do brinquedo? – Mudei o assunto de propósito, sabia que o mesmo arrastaria o ocorrido até ficar ainda mais chateado.

– Nossa, aquela coisa que toca e gira?! – Perguntou com voz de escárnio, era sua maneira de tentar mudar o clima, parece que nem precisava me esforçar para o mesmo entender que não queria conversar.

– Sim a coisa que toca e gira, ela gostou? – Perguntei novamente olhando para baixo vendo uma família de três andar de mãos dadas com uma criança minúscula no meio.

– Ela adorou! Desde que acordou aquilo não para de tocar, já estou ficando irritado. – Respondeu claramente indignado, poderia até mesmo ver sua cara naquele momento.

– Então meu objetivo foi concluído. – Conclui desligando o aparelho e saindo de perto da cortina.

James era meu amigo, mas estar perto dele era como se estivesse em uma avaliação onde todos os meus movimentos estivessem sendo analisados para no futuro usar contra mim, ele teria que relatar constantemente os meus passos, existiam outras pessoas que estavam de olho em mim incansavelmente dia e noite, claro não era como se fosse seguida na rua, mas era uma força daquele canalha ficar de olho em mim, caso quisesse me vingar. Porém, ele deveria estar de olho mesmo, pois o dia em que colocar minha vingança em prática será o dia em que o mesmo será completamente destruído, por enquanto terei que aguentar a humilhação e esperar sua guarda baixar, por sorte ele não sabia da nossa relação de amizade então poderia relaxar sessenta por cento ao seu lado.

Andei até o banheiro retirando minha roupa e indo direto para o chuveiro, o cheiro de suor em meu corpo era muito forte parecia que tinha passado sal por cada canto do mesmo, meu cabelo estava completamente encharcado e oleoso, assim que senti a água gelada meu corpo tremeu não de frio, mas parecia com arrepios, foi quando me lembrei do pesadelo da noite passada, os olhos daqueles monstros não saiam da minha mente, a sensação da sua mão agarrando minha cintura e a apertando, ainda consigo sentir, a sensação é nítida e seu aperto é tão vivo em meu corpo que parecia real, era a mesma sensação de sonhar que você está caindo e seu corpo pula da cama inconscientemente, é perturbador.

– Mas…

– Por quê?

Meus olhos encheram-se de lágrimas, enquanto a água banhava meu corpo apenas ajudando a me livrar da sensação de sujeira, meus olhos se preocupavam em limpar minha alma, mas não adiantava, me sentia cada vez mais sufocada e suja, encostei minha testa na parede do chuveiro, minha garganta estava entalada, um choro preso.

“Poderia ser, saudade? Não poderia. Era saudade. Meu peito doía, como se algo dentro de mim fosse a qualquer momento se rasgar como folha de papel.”

Talvez a solidão que vivia era a maior causadora das minhas crises, não queria aceitar e nem concordar, mas não tinha outra escolha, não havia mais parentes e não tive muitos amigos, e o pouco que tenho está me vigiando constantemente.

– Chega! Você não tem tempo para isso! – Descolei a cabeça da parede e em um momento de fúria comigo mesmo desferi um soco na parede com o máximo de força que podia.

Vi o sangue escorrer do meu punho e finalmente senti o machucado em meu braço latejar, terminei o banho coloquei um novo curativo e saí do banheiro com uma toalha enrolada em meu corpo, no guarda-roupa peguei uma calça de moletom preta, junto a uma regata da mesma cor, a vesti e calcei meu tênis de corrida cinza, coloquei o casaco que fazia conjunto com a calça amarrei o cabelo em um rabo de cavalo, peguei meu celular, fones de ouvido e minhas chaves saindo de casa logo em seguida. Caminhei até o elevador, porém não pude usá-lo já que uma placa avisando que estava em manutenção bloqueando sua entrada, caminhei até a escada já que seria assim a desci enquanto alongava o corpo e me aquecia, quando terminei de descer, coloquei os fones e corri para fora do prédio sentindo o ar fresco da manhã, corri pelos blocos de prédios, entre seus jardins e passando por algumas pessoas apressadas para suas jornadas.

Corri sentindo um pouco da liberdade que tanto sentia falta, o vento batia em meu corpo, o suor escorria e a paisagem passava como um borrão diante dos meus olhos, corria como se aquilo fizesse parte de mim, acho que não precisava de mais nada naquele pequeno momento, era a hora em que esquecia de tudo e apenas corria, queria que fosse assim pro resto da minha vida.

Quando dei por mim havia chegado próximo ao pequeno parque florestal, sem me importar com as pessoas em volta cai no chão com os olhos pro céu recuperando o fôlego não  estava tão longe de casa apenas a dois bairros de distância. A vista ali era mediana, a floresta só estava ali para não dizer que a cidade era completamente uma selva de pedra, mas era melhor que estar presa em um apartamento minúsculo e vazio.

Deitada ali permaneci uns poucos dez minutos já que minha barriga avisava que estava completamente vazia, fazendo barulhos altos e chatos, me levantei e antes de dar um passo ouvi um grito feminino bem próximo dali.

– Há sério?


Ava - VIVER OU MORRERWhere stories live. Discover now