Cap • 4

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O dia amanheceu ensolarado naquela manhã em Paris, me levantei com a cara toda amassada, e me lembrei que não tinha achado o banheiro ontem a noite, suspirei e saí do quarto, andei novamente pelos corredores desta vez ignorando a porta que por aci...

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O dia amanheceu ensolarado naquela manhã em Paris, me levantei com a cara toda amassada, e me lembrei que não tinha achado o banheiro ontem a noite, suspirei e saí do quarto, andei novamente pelos corredores desta vez ignorando a porta que por acidente abri ontem, e segui reto, por algum milagre consegui encontrar um banheiro e finalmente me aliviar ali, aproveitei para tomar um banho e me limpar melhor.

Assim como os ambientes da casa, o banheiro também era impecável, possuía uma banheira grande, e detalhes esculpidos nas paredes, tudo bem organizado, foi o meu melhor banho desde que cheguei nessa cidade, aquele lugar era realmente aconchegante.

Saí do local apenas de toalha ou melhor com um pequeno pedaço de pano, já que foi a única coisa que encontrei, andei na ponta dos pés rezando em silêncio para não acordar nenhum deles, contudo, o mundo parece agir contra mim, acabei escorrendo por estar molhado e descalço, fazendo um estrondo no chão ao levar junto um dos quadros pendurados, na tentativa falha de me segurar em algo, a porta um pouco a frente se abriu, revelando um Kim seminu e com cara de sono, tentei me recompor rapidamente colocando o pano de volta, porém seu olhar me flagrou mais rápido que minhas ações.

- D-Desculpe por te acordar assim - Tentei falar sentindo meu rosto queimar pela vergonha de estar daquela maneira diante dele.

- Tudo bem, Macau já tinha me acordado, estávamos apenas deitados, se machucou?

- Acho que n-não, quer dizer acho que sim - Reformulei ao olhar para o filete de sangue que descia pela minha mão, deduzi que tinha machucado quando tentei segurar na moldura do quadro.

- Vem, entra aqui, o Macau pode cuidar disso - Agarrei a toalha grudando o máximo que pude no corpo e um pouco tímido acatei o pedido dele, entrei no quarto encontrando Macau deitado lendo um livro.

Kim chamou sua atenção e ele olhou em minha direção, senti que a pequena toalha não estava servindo de muita coisa, e me encolhi um pouco, seus olhos invadiam meu corpo e aquele quarto se tornou pequeno demais.

- O que aprontou tão cedo Porchay? - Perguntou olhando para o rastro de sangue.

- Foi um descuido meu, aliás desculpe pelo quadro - Falei pensando no quanto deveria custar a moldura e o quadro que foram ao chão por minha causa.

- Não se preocupe com algo tão insignificante, o importante é que esteja bem - Kim disse.

- Mesmo assim, desculpe pelo prejuízo - Pedi ainda envergonhado.

- Não foi sua culpa, Kim vá preparar algo para nós enquanto eu cuido dele - O mais velho se retirou do quarto indo em direção a cozinha, Macau me fez sentar na cama e puxou uma caixa, tirando de lá um frasco de remédio e um algodão.

Permaneci em silêncio observando ele limpar o ferimento, que só agora percebi ser maior do que eu esperava, ele era tão cuidadoso e delicado que não senti dor alguma, após enfaixar olhou em minha direção, flagrando meu olhar o observando, o que me fez por instinto desviar meus olhos.

- Está desconfortável? - Voltei a olhar para ele, colocando uma mecha de cabelo para trás como ato de timidez, era algo que eu fazia com frequência.

- Não, por que acha que estou? - Devolvi a pergunta.

- Não acho, só quero ter certeza de que está aqui porque quer, geralmente as pessoas não gostam de ficar perto da gente.

- Por que são contra todos os representantes de Paris? - Perguntei de forma descontraída o que arrancou um meio sorriso dele.

- Não, isso é o de menos, na verdade as pessoas não entendem nosso estilo de vida, o modo como escolhemos ser feliz.

- As pessoas que não entendem a felicidade dos outros na maioria das vezes não são de fato felizes.

- Você falou uma grande verdade, sabe muito das coisas, não é?

- Sei pouco sobre as coisas que realmente importam.

- Isso é muito relativo, ninguém pode ditar o que é ou não importante.

- Tem razão - Sorri para ele e percebi que seu corpo se juntou um pouco mais ao meu.

- Você parece querer falar algo desde que chegou aqui, está na casa de estranhos, pode perguntar o que quiser, sabe disso né? - Falou próximo a mim, hesitei um pouco mas minha curiosidade falou mais alto.

- Onde está seu pai? - Questionei aproveitando o momento, era algo que estava martelando minha cabeça desde que cheguei. Até então só sabia que o pai do Kim praticamente havia adotado o Macau quando se casou com a mãe dele.

- Por que eu tenho que ter um pai? - Brincou para maquiar o desconforto que ficou aparente em seu rosto.

- Todo mundo tem um pai.

- Isso é absolutamente verdade, mas o meu não existe mais, pelo menos não para mim, e antes que tenha dúvidas, isso não foi escolha minha, ele que decidiu ser assim.

- Então essa casa...

- É tudo do Kim, na verdade do pai dele, agradeço tanto a ele, nosso convívio não era fácil, é claro, o pai dele era um homem difícil, a minha mãe apesar de mais paciente também tinha suas crises, mas se não fosse o Kim eu não sei o que seria de mim agora.

- É uma bela casa, o pai dele parece gostar de coisas antigas, onde eles estão? Tirando férias ou algo assim?

- Eles se foram - Falou meio melancólico, me senti um pouco invasivo mas ele não parecia se incomodar - Somos só nós dois, ele e eu, eu e ele, e assim vivemos, nunca fomos de nos abrir para outras pessoas, não temos amigos por causa disso, mas por alguma razão gostamos de você.

- De mim? Não tenho nada de especial.

- Isso é o que as pessoas especiais dizem - Sorri pelo seu comentário - Mas estou sendo sincero, você trouxe para nós um novo enigma, nunca encontramos alguém tão diferente e ao mesmo tempo parecido conosco, é como se tudo se encaixasse.

- Posso ser sincero? Também acho estranho o fato de ter simpatizado tão rápido com vocês, estou aqui há um tempo e sem exageros, vocês são as únicas pessoas daqui que falei de verdade.

- Acredito em você, por tocar nesse assunto, eu e Kim gostaríamos de te perguntar algo, estávamos conversando isso ontem a noite. Sabemos que está morando sozinho em uma cidade estrangeira, e não que isso seja um problema, muitos jovens fazem isso em Paris, mas se quiser, pode ficar aqui.

- Está falando sério? - não consegui esconder minha euforia.

- Claro que estou, está em um apartamento alugado, certo? - Concordei - Então, conosco você não precisará de muita coisa, nem pagar aluguel, poderá guardar seu dinheiro e gastar com coisas melhores.

- Estou muito agradecido, de verdade.

- Nós é que estamos, mas para entrar na nossa casa precisará passar por uma pequena iniciação.

- É estranho eu estar assustado com isso? - Ele sorriu com minha fala.

- Na verdade não, somos desconhecidos para você ainda, mas não precisa se preocupar, é uma coisa simples, vista algo e depois que tomarmos café da manhã, iremos ao museu do Louvre.

- Ao museu? Mas o que exatamente faremos lá? - indaguei desconfiado.

- Se realmente é um amante de cinema e filmes antigos, já sabe a resposta - Deixou um olhar sugestivo e com isso saiu do quarto.

Continuei na cama, olhando para aquelas paredes bem decoradas, e me perguntei pela milésima vez, onde eu estava me metendo?

Panopticum • PORCHAY/KIM/MACAUWhere stories live. Discover now