Cap • Final •

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Um tempo depois

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Um tempo depois...

Querido diário, essa é a minha última página.

Por Porchay

"A madrugada estava mais gélida do que nunca em Paris, todos fugiram das ruas para se acolher em suas respectivas casas, e procurar algo para se aquecer e tentar passar mais aquela noite de frio, entretanto, uma residência no final de uma rua qualquer abrigava três jovens, onde a única fonte de calor era uma pequena lareira e corpos nus, sim éramos nós ali.

Percebi após um longo período que ás vezes abandonar as telas dos cinemas é algo bom, porque foi por causa disso que pude viver meu próprio filme, minha própria história, olhar não mais para personagens e sim ser um, só que de verdade, com sentimentos reais.

O cinema não voltou mais, ficou inativo, fechado, e preso como um criminoso atrás das grades e cadeados, e isso destruiu uma parcela de sonhadores na grande Paris, mas eu decidi não me entregar a tristeza de perder aquele lugar, não era meu por mais que doa admitir, me acolheu quando eu era um estrangeiro órfão, me mostrou o que era sentir, o que era se emocionar, mas hoje sei que o grande presente daquele grande espaço de cultura não foi necessariamente seus filmes, e sim o aprendizado e as experiências que eu pude tirar dali, me sinto sortudo por ter feito parte da maçonaria dos cinéfilos do seu início até a sua decadência.

É necessário entender que revoluções não são feitas exclusivamente de vitórias e sim de pequenos ganhos, e eu ganhei muito.

Depois que conheci o Macau com todo o seu carisma e mistério e ele me apresentou o Kim no mesmo tumulto de pessoas, sabia mesmo que inconscientemente que as coisas não seriam mais as mesmas, e me surpreendi com todas as mudanças.

Não me lembro de amar verdadeiramente alguém antes, achei que isso era algo fora do meu alcance, e que provavelmente eu só me casaria para tirar os olhares maldosos daqueles parentes desconhecidos, e agora me encontro vivendo o amor da maneira mais única possível, consigo me apaixonar por eles a cada manhã, e até mesmo as brigas são divertidas, me dei conta de que o amor não tem nome ou classificação, você pode acorda numa terça-feira apaixonado pela pessoa que odiava no domingo, no meu caso encontrei o amor no local mais improvável de Paris, e até hoje não sei como o destino foi tão bondoso comigo.

Costumo pensar muito sobre isso, principalmente quando estou deitado no torso desnudo de Macau, enquanto escuto Kim falar de um filme que gosta muito, seus cabelos bagunçados e a pele ainda corada depois de uma noite intensa de amor, ele ainda parece mais lindo a cada vez, Kim era o tipo de pessoa rara que poucos tem o prazer de conhecer na vida, podia sentir Macau sorrir deitado embaixo de mim fingindo estar realmente interessado no que o outro dizia, mas pela sua cara eu via que ele estava prestes a dormir, ele também era a minha pessoa rara.

Nossa rotina era a menos coerente possível, e o mistério do que será o dia seguinte era o que nos mantém vivos, porquê desde que me mudei pra cá nenhum dia foi igual ao outro, a cama se tornou pequena para nós, mas não importa, pois nos permitia dormir mais colados durante a noite.

Macau sempre encontrava filmes novos para assistirmos em nosso próprio cinema improvisado, onde a censura não foi convidada, ele brincava que temia ver todos os filmes do mundo e não sobrar nenhum para descobrir.

Já Kim voltou atrás com sua fala a respeito do meu gosto peculiar por literatura da Era vitoriana e começou a ler os títulos que eu lhe recomendava, inclusive hoje é meu aniversário e ele acabou de me presentar com um dos livros do meu escritor preferido, contando do desafio para fazer o Macau se decidir qual papel de embrulho usaria, rimos muito com toda aquela história e no final do dia fizemos amor na sala.

Tarde da noite quando os dois já tinham pegado no sono, ambos dormindo ao meu lado e deitados nos meus ombros, pudia sentir a respiração bater nos dois lados do meu pescoço e era uma sensação indescritível, peguei sutilmente o livro que me foi presenteado na noite anterior que estava posto na cômoda ao lado, tentando ser delicado para não acordá-los, abri encontrando uma dedicatória escrita que passou despercebida por mim, sorri com as palavras ali postas.

"Para Porchay o cinéfilo mais lindo e teimoso de toda a Europa"
- Macau & Kim.

Junto com o livro havia uma página marcada com um texto escrito, que logo percebi ser Kim o autor daquelas palavras

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Junto com o livro havia uma página marcada com um texto escrito, que logo percebi ser Kim o autor daquelas palavras. Vou colocá-las aqui para deixar isso para sempre registrado.

"Espero que não se importe, gostaria de te escrever um poema decente para soar romântico, mas não sou poeta, só roubo poesias para parecer que sei o que estou falando.
Macau me encorajou a escrever isso porque ele sabe que ele é o homem das ações e eu das palavras, e parando pra pensar é realmente um crime não escrever para a pessoa que ama, por isso estou te escrevendo agora.
Mas como já sabe eu voltei atrás nos meus argumentos, naquele dia em que me deixou que nem bobo naquele quarto após eu falar rudemente do seu escritor preferido, espero que esteja contente, pois toda vez que eu ler as obras do Oscar Wilde vou me lembrar de você e da sua travessura.
Enfim, o que eu queria realmente dizer com tudo isso é que achei um prefácio que resume bem o que somos, acho que nosso romance não é muito diferente da arte incompreendida, desde que conheci o Macau e as pessoas nos julgavam irmãos só porque chamávamos a mesma mulher de mãe e o mesmo homem de pai, nos condenaram pecadores por estarmos nos envolvendo sem pudor, e sabe qual a parte engraçada? Nunca negamos que éramos irmãos, e nunca explicamos nada sobre o que éramos, porque ninguém precisa de explicação sobre como escolhemos viver, então nos considere como uma obra de arte mal compreendida, e quer saber qual a parte mais linda da arte? É que ela é bela independente do que signifique, e pode não significar nada apenas existir, ela não é moral, nem imoral, é apenas arte.
Desde que entrou para nossas vidas você deu a essa obra novas cores, novas sensações e emoções, a deixou mais bonita,
Você é a parte que nos completa."

Senti uma lágrima escorrer teimosa e sorri com as marcações presentes no prefácio, isso era tão eles que meu coração se aqueceu.

Naquele mesmo instante antes de me deitar olhei para ambos inertes no sono, tão calmos e em paz, e fui dormir, me sentindo finalmente, completo"

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Naquele mesmo instante antes de me deitar olhei para ambos inertes no sono, tão calmos e em paz, e fui dormir, me sentindo finalmente, completo".

~fim.

Panopticum • PORCHAY/KIM/MACAUWhere stories live. Discover now