Em 1968, um estudante britânico chamado Porchay entra para o mundo dos irmãos Kim e Macau. Os três compartilham o mesmo amor pelo cinema e participam de movimentos revolucionários da época, contudo, a relação deles se funde a sensualidade cinematogr...
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Cheguei a frente da grande residência, era exageradamente luxuosa para acolher apenas dois jovens, o que me fez pensar que os pais deles possuíam muitos bens, fui recebido calorosamente por eles no portão de entrada, e ao adentrar o recinto percebi que era tão linda por dentro, quanto por fora, possuía muitos quadros pintados e posters emoldurados de filmes famosos, os móveis eram rústicos e bem cuidados, parecia um cenário de filme, tudo alinhado e de bom gosto.
Sentamos à mesa, acompanhados de velas e alguns pratos decorados, minha curiosidade me martelava o tempo todo, queria perguntar tantas coisas, mas temia ser inconveniente.
- E a cinemateca? - Indaguei no meio da nossa conversa tentando puxar algum assunto - Vocês sabem o que aconteceu depois que a gente saiu?
- Fechou até uma nova notificação - Kim proferiu decepcionado, eu também não gostei da resposta apesar de já esperar algo assim, afinal ali era a minha segunda casa.
- Estamos cercados de mal representantes - Lamentou Macau, concordei sem saber ao certo de quem ele falava, eu sabia muito a respeito da cultura dali mas bem pouco sobre política, não lia jornais ou assistia debates, sequer sabia quem era o presidente, mas de uma coisa eu tinha certeza, não simpatizei com ele - As revistas falam que estamos progredindo, mas o que tem visto desde que chegou a Paris?
- Caos - Respondi rápido - Caos absoluto.
- Essa cidade é uma completa bagunça, o nosso cartão postal é um monte de ferro forjado em formato de pênis ereto que eles colocaram um nome bonito de torre eiffel para atrair um bando de turista idiota, lamento que eu tenha destruído sua imagem de Paris agora - Sorri pela sua fala, percebi que Macau era bem falante e Kim mais reservado, eles se completavam.
- Eu já imaginava esse diagnóstico, os problemas daqui são bem visíveis - Afirmei - Meu pai tentou me avisar.
- Nosso pai dizia que era um ser revolucionário, mas se recusou a assinar uma petição contra a Guerra do Vietnã - Disse Kim despojado na cadeira enquanto apreciava um gole de vinho - E ainda teve a péssima desculpa de dizer "Poetas não assinam abaixo-assinado, apenas poemas" - Debochou.
- Ele era um poeta? - Questionei acendendo um cigarro.
- Não. Ele achava que era, mas nunca escreveu algo de útil - Macau concordou com Kim em silêncio.
Ficamos ali trocando conversas aleatórias sobre cinema e política, já tínhamos jantado e posso afirmar que Kim cozinhava perfeitamente bem, estávamos apenas aproveitando o momento tomando vinhos, que tenho certeza que são bastante caros, mas os rapazes o tomavam como se custasse nada.
- Nós deveríamos dizer boa noite, amanhã teremos um longo dia - Levantou Macau, largando a garrafa vazia - Vem Porchay vamos te mostrar seu quarto - Estendeu a mão para mim, eu lhe encarei confuso.
- Não quero incomodar, não está tão tarde para voltar para casa.
- Tem muitos aposentos aqui Porchay, será uma honra você ocupar um deles, e além do mais, gostamos de ter você conosco - Interferiu Kim.
Aceitei o convite sem muita escolha e andamos pelos longos corredores da casa, estava tudo muito limpo, o que novamente me fez questionar se eles de fato moravam sozinhos, entramos em um dos quartos, que estava prontamente organizado, nele tinha algumas peças antigas e quadros famosos, recebi uma boa noite de ambos antes deles se retirarem, na hora me recordei que não tinha nenhuma roupa de dormir, abri os armários e me deparei com uma coleção de vestimentas das mais variadas, uma delas coube em mim, e acabei usando-a para dormir, me sentindo um pouco inconveniente por isso.
No meio da noite, senti uma imensa necessidade de usar o banheiro mas para minha infelicidade no quarto não tinha, saí pelos corredores procurando um possível lavabo, mas tudo parecia uma infinidade de quartos e bibliotecas, abri uma última porta na esperança de ser um banheiro, me arrependendo rapidamente desse ato.
Era o quarto de um deles, mas o que me chamou atenção era que ambos estavam deitados na mesma cama abraçados, enquanto estavam cobertos apenas por um lençol extremamente pequeno, expondo seus corpos completamente desprovidos de roupa, a pele brilhante de suor fino e os cabelos bagunçados denunciavam um possível pós sexo, senti minhas bochechas queimarem por presenciar tal cena, e sai correndo dali antes de ser pego, voltei para o quarto agora sem vontade de fazer de usar o banheiro após a pequena adrenalina, e deitei para tentar dormir.
Mas um pensamento tomou conta da minha mente, e eu só conseguia me perguntar qual era a relação que eles tinham, e o porquê eu queria está ali.
