Em 1968, um estudante britânico chamado Porchay entra para o mundo dos irmãos Kim e Macau. Os três compartilham o mesmo amor pelo cinema e participam de movimentos revolucionários da época, contudo, a relação deles se funde a sensualidade cinematogr...
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- Esse livro é horrível, como pode terminar assim? Eu quero fingir que nunca li isso.
- Que fúria. Qual é o livro? - perguntei vendo a cara de decepção do Kim.
Ele estava me ignorando desde que Macau saiu, não estamos brigados, pelo contrário, ultimamente estamos bem mais próximos, mas é um péssimo hábito dele esquecer que o mundo existe quando começa uma leitura, me restou apenas ficar deitado no carpete enquanto brincava com as linhas soltas do forro da cama pra descontar o tédio.
- Não quero que saiba, poupe a dor, vou queimar isso - disse balançando o livro no ar.
- Nossa que garoto mal - brinquei vendo ele revirar os olhos - Vai me diz qual é! - persisti.
- Não digo, é horrível eu já disse - protestou escondendo a capa.
- Deixa de ser chato Kim, me mostra agora - ele sentou em cima da capa e isso me deixou revoltado, levantei do chão indo até a poltrona em que ele estava tentando pegar o livro a todo custo.
- Desiste Chay - esse era o jeito do Kim, ele amava me contrariar por qualquer mísera coisa.
- Por que é sempre tão implicante comigo? - cruzei os braços, vendo ele me olhar daquela maneira que me tirava do sério, com aquela expressão desafiadora.
- Porque você é muito irritante Porchay.
Ele dizer isso só me fez querer pegar o livro mais ainda, éramos duas crianças às vezes, era impossível ficarmos em paz por mais de um dia.
Sentei no seu colo fazendo cócegas na esperança dele sair de cima do livro, mas ele acabou segurando meus pulsos para evitar que eu continuasse, comecei a me debater mas ele era mais forte do que eu, me esforcei para morder seu braço na tentativa dele me soltar, mas ele apenas riu de mim.
- Parece um cachorrinho raivoso - disse ainda rindo, fingi indignação e voltei a morder seus pulsos, mas as mordidas pareciam apenas fazer cócegas nele, porque ele não parava de rir.
Me mexi tanto em cima dele pra tentar me soltar do seu aperto que acabei não me dando conta do efeito que aquilo estava causando. Principalmente nas suas partes íntimas
- Porchay para de fazer isso - suspirou arrastado mudando de expressão, só então me toquei do que estava fazendo, sorri para ele, ainda com os braços presos.
- Isso o que? - fiz minha melhor cara de desentendido mas não pareceu ter sido tão convincente.
- Você sabe, não faça essa cara.
- Eu realmente não sei, só quero que me dê o livro - disse "inocentemente".
- Não sabe? Essa face de anjo não me engana mais.
- Se me der o livro agora, eu não conto que acabou de ficar excitado com tão pouco, cadê seu autocontrole Kim? - questionei sarcástico.
- Por que raios você quer tanto esse livro?
- Por que está escondendo? Gosta tanto assim que eu fique no seu colo? - olhei debochado para ele que suspirou derrotado, deu um pequeno solavanco e retirou o livro debaixo de si, me entregando finalmente.
- "De profundis" como ousa chamar esse livro de ruim? Estou decepcionado Kim, pra começar isso não é um romance vagabundo é uma autobiografia - falei indignado.
- É uma obra angustiante, foram as três horas mais mal gastas da minha vida - disse dramático.
- Você leu errado só pode.
- Pode ter certeza de que eu li certo, não aguento leituras assim - rebateu.
- Não critique essa obra prima! Me recuso a deixar você falar mal dela - falei voltando a cruzar os braços, Kim sempre desperta a criança birrenta que vive no meu interior.
- Você está sendo um grande ditador - disse em tom de brincadeira.
- Só estou falando a verdade.
- Suas verdades - Retrucou.
- Você estava tão bonito calado.
- Já devia saber que eu sou uma pessoa difícil de calar - devolveu.
- Não se ache tanto Kim.
Antes dele retrucar novamente tomei seus lábios, ele não relutou em nenhum momento, pelo contrário, colou ainda mais seu corpo ao meu aprofundando o beijo, foi um longo beijo, afundei meus dedos naqueles cabelos tão macios sentindo a textura alisando minha pele, mas infelizmente um hora tivemos que parar.
- Está vendo como é fácil te calar - ele estreitou os olhos para mim.
- Como você é trapaceiro Chay.
- Fala como se não gostasse, mentiroso.
Comecei a sugar seu pescoço levemente e voltei a me mexer em seu colo, dessa vez com movimentos mais precisos sentindo que Kim estava excitado novamente, ele soltava alguns gemidos baixos como se não quisesse se render totalmente, dei um último beijo em seus lábios e sai do seu colo, levando o livro comigo.
- Espere, aonde vai?
- Sair, por que? - respondi simplista, vendo sua expressão indignada.
- Vai mesmo me deixar assim? Você que fez isso - apontou para sua calça marcada, engoli a risada que estava teimando em sair e permaneci sério.
- Se não tivesse falado tão mal do meu escritor preferido eu até iria aí te ajudar, mas veja isso como uma punição. Quem sabe uma próxima vez - pisquei para ele, saindo quase correndo de lá, agora sem conter a risada, mas pude escutar o grito que ecoou pela casa.
