vinho e chocolate.

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Any Gabrielly

Fechei a porta após ver o homem loiro sair por ela, e pilotar sua moto para longe, me deixando apenas com o cheiro de seu perfume amadeirado no ar. Eu ainda estava processando o que havia me acontecido nas últimas horas, e elas passaram tão rapidamente, que mal percebi que já eram 22:36 da noite.

A garrafa de vinho permanecia aberta, e ainda pela metade, já que nenhum de nós dois abusou do álcool naquele jantar. A louça estava no escorredor de pratos após ele mesmo lavar, e tudo parecia mais calmo agora. Flertamos praticamente o jantar todo, e Joshua teve uma ereção na minha frente, como se não fosse impossível ter uma relação além da profissional entre nós. Quero dizer, éramos amigos. Pelo menos é como esta estranha relação me soa. Não somos amantes, muito menos namorados. Flertamos, e é só. Se algo a mais acontecesse, eu posso ter a total convicção que iria ser ruína em ambas as vidas.

Caminhei até a garrafa de vinho aberta, e a peguei, tomando um gole generoso no próprio gargalo, já que odiava vinho gelado, principalmente o tinto. Lambi os lábios saboreando o sabor doce e azedo ao mesmo tempo, e caminhei até o meu quarto, soltando meu cabelo e o deixando cair pelas costas. Avistei uma caixa de bombons praticamente vazia na mesa de cabeceira, e a peguei, mordendo um pedaço de chocolate que foi como morder um pedaço privilegiado do céu, apesar de não merecer. Sou uma pecadora que não merece sequer pensar na possibilidade de estar no paraíso, principalmente quando pensava em pular em cima do meu coreógrafo a noite inteira, até minhas pernas ficarem bambas. Mais um gole de vinho.

Praticamente pulei na minha cama, e mordi o chocolate mais uma vez, acabando de vez com aquele, e pegando o último bombom da caixa, a deixando definitivamente vazia. O cheiro dele estava impregnado nas minhas narinas, era impossível negar este fato, mesmo que eu me odiasse por estar realmente sentindo uma atração estúpida pelo meu coreógrafo onze anos mais velho. Deveríamos ter uma relação profissional, apenas isso. Talvez Sabina pudesse me ajudar, ela já passou por isso. Mas se ela soubesse, Joalin também iria saber, e em alguns dias, Paris inteira também. Adoro aquela loira, mas sua capacidade de espalhar uma notícia - sendo ela boa ou não - me assustava.

Virei meu corpo para frente, ficando de bruços no colchão. Mais um gole de vinho, já o deixando perto do fim. Enfiei o último pedaço de chocolate na boca, e pensei como não faziam já há muitos meses. Para quem eu poderia ligar? Sabina contaria para Joalin, que contaria para todos. Meu pai não me atenderia de qualquer forma, não nos falamos desde que minha mãe entrou em estado grave de câncer. Meus lábios se formaram em um bico quase infantil, e cheguei a conclusão que a melhor opção seria não dizer a ninguém sobre o que eu estava sentindo. Para falar a verdade, não seria apropriado eu falar a alguém que eu estava sentindo tesão no homem que me ensaia para o espetáculo que seria daqui há alguns meses. Aquele que pega no meu corpo todos os dias, seja para corrigir a postura ou para me alongar. Mais um gole de vinho.

Olhei para a garrafa praticamente indignada, pois aquele líquido estava me fazendo alucinar. O homem estava fazendo o trabalho dele, não era como se fizesse apenas comigo, ele fazia com todas. Será que mais mulheres se sentiam assim também? Ou até mesmo alguns homens da academia. Maldito homem gostoso.

Suas mãos eram fortes, e me deixavam praticamente extasiada quando tocavam o meu corpo. Mas então por que eu não conseguia me sentir atraída pelo meu companheiro de palco? Ele me pega no ar, e suas mãos passeiam pelo meu corpo todos os dias, desde cintura até as minhas coxas cobertas pela meia calça. Mas ele não era Joshua Beauchamp. Dei o último gole no vinho, e deixei com que a garrafa caísse no tapete ao lado da minha cama. Mudei de posição na cama, ficando de barriga para cima, admirando o teto como se nunca tivesse o visto antes. Cruzei as pernas ao me lembrar de sua ereção na cozinha, e eu sabia que ele também gostaria de uma relação casual. Transar com alguém extremamente gostoso seria o motivo do meu sorriso constante daqui para frente, eu seria mais feliz. Meu lustre costumava balançar tanto assim?

Sapatilhas Douradas - Beauany Onde histórias criam vida. Descubra agora