ansiedade.

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Josh Beauchamp

Era tarde, e o barulho do relógio ecoava naquele ambiente hospitalar vazio e silencioso, o tornando amedrontador e irritante. Já havia perguntado várias e várias vezes para a recepcionista se tinham notícias de Any, mas ela dizia sempre que não.

Quando já se passavam das onze da noite, uma mulher de cabelos brancos e escorridos, pele extremamente branca e olhos avermelhados me chamou no corredor. Percebi ao chegar mais perto que ela era albina.

— Josh Beauchamp? — Assenti — Sou a Dr. Amélia, e estou cuidando de Any.

— Como ela está?

— Agora, bem. Mas precisará ficar em observação até amanhã de manhã, e ficará em repouso absoluto — Pegou uma presilha de cabelo, jogando todos os seus fios brancos para frente e os prendendo — Ela deu muita sorte de ter vindo antes de algo pior acontecer. O estado dela era bem delicado.

— Eu percebi que ela não estava nada bem, fiquei com medo de ser algo sério — Respondi sentindo um alívio tomar conta do meu corpo, sabendo que minha atitude tinha sido boa.

— Fez muito bem. Ela estava sem comer nada há quase vinte e quatro horas, e pelo o que nos contou, vomitou o pouco que tinha ingerido minutos antes de trazê-la para cá, o que resultou em sua fraqueza. Já a febre, e a causa do vômito, vieram de sua ansiedade e nervosismo, segundo ela, de uma situação de hoje mais cedo. Agora está melhor, mas precisamos ficar de olho para ter certeza que devemos liberá-la.

Encarei a mulher à minha frente sem saber muito bem o que falar, ou que palavras usar para tentar esclarecer todas as minhas dúvidas de uma vez. Ela estava acordada? Poderia vê-la ainda hoje? Ela comeu? As perguntas lotavam minha mente sem cessar um minuto sequer, e eu não conseguia dizer nada para a doutora, que esperava alguma reação da minha parte. Abri a boca várias vezes para tentar falar alguma coisa, mas nada saía, e eu sentia um aperto na minha garganta.

— Você pode vê-la agora. Vem, vou levar você até o quarto.

Segui a doutora, ainda atordoado, e andamos um pouco, até pararmos em frente ao quarto de número 20, onde as luzes estavam acesas, porém as janelas fechadas e sendo cobertas por uma persiana. Abri a porta, dando de cara com Any se ajeitando rapidamente na cama. Parecia uma criança que sabia que iria tomar uma bronca do pai.

— Obrigado, Doutora.

Me sentei na poltrona que ficava ao lado da cama de hospital, olhando para a cacheada, vendo se ela iria se tocar que eu sabia que ela estava acordada. Sua pele não estava tão pálida quanto antes, mas ainda sim parecia levemente cansada. Ela tinha um soro conectado ao braço, e uma manta de hospital cobrindo seu corpo.

— Você finge muito mal! — Falei, rindo e ouvindo uma risadinha leve vindo dela.

Ela se virou para mim, e seus olhos escuros encontraram os meus. Any sempre iria conseguir me impressionar com sua beleza cativante, mesmo que estivesse com a maquiagem borrada e o cabelo bagunçado. Tive vontade de beijá-la naquele momento, mas me segurei, pois sabia que ela estava fraca. Me aproximei um pouco, levantando da poltrona, e acariciando seu cabelo enquanto seus olhos se fechavam. A beleza dela era algo incomum, pois ela ficava impressionante fazendo algo tão simples, como fechar os olhos e sorrir de canto.

— O que aconteceu, amor? — Perguntei baixo, vendo seus olhos se abrirem mais uma vez.

Sua boca abriu e fechou várias vezes, mas nenhum som saiu dela. Seus olhos brilharam com algumas lágrimas que brotaram de repente, e eu pude ver seu esforço para não derramar nenhuma. Após respirar fundo e empurrar todas as lágrimas de volta para dentro, me respondeu em um tom muito baixo:

— Você não entenderia.

— E por que não?

— É complicado, Josh. Só isso — Sorriu de canto, tentando soar reconfortante — Desculpe por fazer você ficar acordado até a essa hora. Sei que precisa descansar, e eu…

— Any, Any! Não se desculpe por isso. Fiquei aqui por conta própria, e porque me preocupo com você — Tomei suas mãos nas minhas, sorrindo para ela — Fica tranquila, querida.

Dei um beijo em sua testa, vendo-a fechar os olhos. Óbvio que eu ainda não estava adepto com sua resposta. Mas forçar que ela falasse mais do que gostaria seria ainda pior, então estava aguardando o momento perfeito para perguntar a ela sobre o que realmente aconteceu hoje.

— O que disseram sobre o meu estado?

— Você vai ficar em observação até amanhã de manhã, para ter certeza que você está bem. Mas sendo totalmente sincero, disseram que seu estado era delicado, e que você deu muita sorte.

— Contaram o porquê de eu ter ficado assim? — Mordeu o lábio inferior, provavelmente nervosa. Ela sabia.

— Sim, me contaram. Mas vamos discutir isso outra hora, você precisa descansar — Me aproximei bem do seu rosto, admirando seus olhos escuros de perto — Vou apenas tomar um banho e buscar umas roupas. Passarei a noite aqui.

— Josh… — Coloquei meu dedo indicador na frente de seus lábios, a silenciando antes que protestasse sobre minha decisão — Você não existe, sabia?!

Ri e deixei um beijo longo sobre sua boca, que continuava macia e incrível de se beijar. Uma mão suave tocou meu rosto, e acariciou minha pele. Muito a contra gosto, separei nossas bocas, e sorri para ela, ainda admirando seu rosto lindo. Mesmo fraca, Any fez um esforço e abriu o sorriso mais lindo já visto por mim, e provavelmente o mais lindo já existente. Os olhos escuros estavam cansados, mas pareciam extremamente felizes por alguns segundos. Adorava o jeito que eles se espremiam quando ela sorria.

— Agora descansa — Me distanciei, vendo ela assentir — Vou estar aqui com você em breve.

Saí do quarto, e depois passei pela porta do hospital, entrando no carro e dando partida até a minha casa. Enquanto dirigia, eu pensava sem parar no que Lamar havia me dito, e sobre como eu gostaria de avançar naquela relação. Meu coração dizia para conversar com Any sobre isso, mas minha noção dizia que era uma péssima ideia, principalmente na posição em que estamos agora. Mas eu não ligava muito para aquilo, nesta altura do campeonato. Eu tinha idade o suficiente para não ligar mais para o que os outros diriam sobre nós, principalmente sobre mim. Mas com ela era diferente.

Fazia apenas um ano que havia entrado na escola, e Any é nova. Lidar com toda aquela pressão em cima de si seria difícil, e eu reconheço o seu medo. Mas acho que se realmente gostássemos um do outro, valeria a pena passar por um pequeno inferno até março, onde faríamos nossa apresentação. Apesar de ser um grande espetáculo, a escola que estaria nos patrocinando, preferia ter apenas uma noite de apresentação. Mas seria ainda mais grandiosa, e meu coração palpitava apenas de pensar nesse dia.

Estacionei em frente a minha casa, e peguei algumas roupas para passar a noite, e acordar lá. Escovas de dente, pasta de dente, e uma toalha. Tomei um banho rápido, e troquei de roupa, colocando algo mais confortável e cômodo para passar a noite em um hospital. Passei na casa de Any, apenas para pegar outra roupa para ela. Sei que poderia estar fazendo isso, pois sabia onde ficava a chave, depois de ela ter me contado, caso alguma emergência acontecesse. Aquilo era uma emergência, certo?

Voltei para o hospital, dando o meu nome para a recepcionista e indo até o quarto da cacheada. Quando entrei lá, ela estava dormindo profundamente. Sorri de canto como um idiota, ao obsevar o biquinho que sua boca se formava quando ela adormecia. Me aproximei devagar, não querendo acordá-la e deixei um beijo suave em sua testa, me sentando na poltrona ao seu lado, deixando minhas coisas do meu lado. Tentei ficar acordado o máximo que pude, mas meus olhos estavam se fechando sozinhos. Eu estava cansado, e precisava dormir um pouco. Suspirei, e encostei a cabeça naquela poltrona, sentindo o sono me dominar aos poucos.

Sapatilhas Douradas - Beauany Where stories live. Discover now