Sapatilhas Douradas - Beauany

acerto de contas.

Josh Beauchamp

Eu me sentia muito mais leve depois de falar o que eu sentia para Any. Foi como tirar um peso das minhas costas. E agora que eu sabia que ela sentia o mesmo, me sentia muito mais satisfeito e com muito mais liberdade para expressar meus sentimentos. Falar o quão linda ela é, por exemplo, sem medo.

Sabia que seria difícil arrumarmos um jeito de oficializar em segredo, nosso relacionamento. Mas eu já tenho uma forma mais do que eficaz para tratar isso, e estou apenas aguardando o momento certo para mostrá-la. Mas agora, eu tinha que resolver algo que estava martelando na minha cabeça há muito tempo. Hoje não iriam alunos para a academia, apenas eu e Wiley, pois teoricamente tínhamos uma reunião. Ah, como eu meditei antes de dirigir até lá. Apenas para não quebrar a cara daquele desgraçado até ele pedir por misericórdia. Bom, pelo menos a meditação estava funcionando, e eu só estava pensando nisso, não fazendo. Ainda.

Estacionei calmamente em frente ao prédio, e desci do carro colocando meu casaco, afinal, nevava um pouco e estava um vento bem frio. O carro dele já estava no estacionamento. Cumprimentei o porteiro, e me dirigi até o andar que ficava nossa sala, a qual eu não precisaria ver pelas próximas semanas. Isso seria pouco, considerando o tempo que eu ainda teria que vê-la até o espetáculo. O elevador foi rápido, e eu ouvia apenas meus próprios passos no corredor, pois a academia só tinha uma única turma a este horário, e ela ficava no último andar.

Entrei na sala, tirando o casaco, e avistando Wiley sentado em uma cadeira, enquanto mexia no celular. Fechei a porta, e o olhar dele se dirigiu até mim.

— Olá, Joshua.

Não disse nada enquanto entrava na sala. Apenas me sentei na cadeira que ficava de frente para ele, enquanto estalava os dedos e encarava meus punhos. Estavam com machucados recentes, de tanto que bati nos sacos de pancada nessa madrugada. Suspirei, pensando por onde eu começaria. Talvez ir direto ao assunto e acabar com ele, ou conversar de maneira civilizada? Any poderia ser exposta desta forma? São tantas perguntas, que se tentar achar uma resposta para todas elas, eu ficaria aqui sem falar nada.

— Boa tarde, McKay — Comecei, e seu cenho se franziu, pois eu nunca o chamava assim — Sabe por que eu marquei essa reunião?

— Na verdade, não.

— Pois eu te digo — Me aproximei dele, parando de frente para ele. Como eu queria socá-lo agora — Recebi uma denúncia de abuso sexual dentro da academia, a qual acusava você de tentar beijar uma bailarina contra a vontade dela.

Wiley não esboçou reação alguma diante a minha fala. Apenas ficou ali, me encarando. Mas de repente, começou a rir enquanto se levantava, e eu fiquei tão confuso quanto puto com sua reação.

— Ah, Joshua, qual é. Vai acreditar mesmo em uma bailarina qualquer? Deixa eu adivinhar, foi a Any Gabrielly que te disse isso, não é?

— O nome da bailarina não importa, e sim eu vou acreditar em qualquer pessoa que venha me contar sobre isso! — Aumentei um pouco meu tom de voz, mas percebi que estava me alterando e respirei fundo — É melhor colaborar.

— Aquela garota me provoca todos os dias enquanto estamos no ensaio, mas eu a rejeitei, então inventou essa mentira. Deixe eu te falar uma coisa, Beauchamp — Se aproximou de mim, e diminuiu o tom de voz — Ela é uma puta que abre as pernas para qualquer um. Talvez seja até por isso que conseguiu o papel.

Foi mais forte do que eu. Tentei me controlar, mas meu punho foi muito mais rápido, e eu acabei acertando em cheio o rosto daquele filho da puta, vendo ele cambalear para trás enquanto colocava a mão no nariz. Me aproximei mais dele, pegando na gola da sua blusa e gritando em seu rosto:

— Repete o que você acabou de dizer! Repete, seu merda! — Dei mais um soco em seu rosto, agora soltando seu corpo no chão.

Wiley cuspiu um pouco de sangue no chão, e colocou os dedos no nariz, vendo o sangue que escorria dali. Eu estava fora de mim, e aquilo não era bom. Mas parecia que eu não conseguia me controlar.

— Eu já entendi qual é a de vocês — Riu, e me encarou — Está comendo ela. Eu não te julgo, na verdade, se pudesse, também iria foder aquela vadi…

Chutei seu estômago com toda a minha força, vendo seu corpo rolar uma vez e ficar entre a parede e meu pé. Ele continuava a rir, enquanto colocava a mão na barriga e olhava para mim mais uma vez.

— Se você não sair daqui nos próximos dois minutos, e sumir dessa academia para nunca mais voltar, eu juro com todas as minhas forças, que eu vou acabar com a sua vida. Você não tem noção do quão arrependido vai ficar.

Eu sentia todo o meu corpo queimar de tanta raiva. O ódio ficou ainda maior quando ele não tirou o maldito sorriso cínico do rosto. Aquele maníaco adorava o fato de eu não conseguir me segurar quando o assunto é Any, principalmente quando a insultam daquela forma. Sentia orgulho de ter tocado o corpo dela, mesmo contra a vontade de Any. Como eu gostaria de socar ainda mais seu rosto, mas eu já estava no erro em estar fazendo isso.

— Você ainda vai se arrepender de ter feito isso — Riu com dificuldade.

— Cala a porra da boca, seu filho da puta — Apertei seu pescoço vendo seus olhos azuis se arregalarem, pois a falta de ar começava a dominar seus pulmões — Eu não vou repetir. Sai daqui, antes que eu acabe o serviço aqui mesmo.

Soltei seu pescoço, vendo a marca dos meus dedos ficarem expostas em sua pele branca. Ele respirou fundo, e se levantou com dificuldade, tentando se apoiar nas paredes. Foi em direção a porta, e saiu da sala, mas antes de fechar a porta de novo, olhou no fundo dos meus olhos e deu um sorriso cínico e cheio de ódio. E então ele saiu. Minha ficha caiu. Eu havia acabado de arrebentar um coreógrafo de renome bem aqui na sala, com uma câmera grande e ligada no cantinho da sala.

Coloquei meu rosto entre as mãos, querendo gritar de raiva. Não interessa o quanto eu treine para me controlar, eu sempre vou perder a noção. Absolutamente nada impedia que ele me denunciasse para o diretor da academia, e eu perder o emprego, e principalmente: que Any fosse exposta nessa situação.

Ela me pediu para que eu não fizesse isso. Idiota do caralho!