revelações.

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Any Gabrielly

Josh realmente sabia como me animar. Ele fez uma salada maravilhosa, comprou uma barra de chocolate no caminho para casa, a qual dividimos enquanto vimos Psicose abraçados no sofá.

A sessão de fisioterapia já havia acabado, e foi até bom para que eu relaxasse um pouco. Recebi uma massagem muito boa depois da fisioterapeuta perceber pontos travados nos meus pés e nas minhas costas. Voltamos para a casa de Josh mais rapidamente do que pensávamos.

Ainda estava fraca, mas um pouco mais feliz, e não tendo muitas memórias de ontem. Sempre que eu pensava naquilo, parecia que Josh lia minha mente e me abraçava ainda mais forte. Eu precisava tomar mais um banho, mas estávamos tão aconchegados, que só de pensar em sair daqui, já me sentia dez vezes mais cansada. Minha cabeça estava encostada em seu peito, e eu ouvia as batidas do seu coração, o que me relaxava e me tirava muitas vezes a atenção do filme. Quando os créditos passavam na tela, suspirei e olhei para cima, vendo Josh abaixar sua cabeça e me encarar também.

— Adoro esse filme — Eu disse, e ele riu.

— Eu sei disso.

Tranquei minha boca, tentando não perguntar se aquelas sessões de madrugada aconteciam sempre. Eu estava preocupada, mas também estava curiosa, admito. Acordar praticamente gritando, pedindo para parar e perguntando onde estão seus pais não costumava ser o normal dele. Olhei para baixo, embolando meus dedos, tentando não pensar mais naquilo.

— Vamos lá, pergunte — Franzi o cenho e o olhei novamente — Você é péssima em disfarçar.

— Não deveria me conhecer tão bem assim — Ele riu, colocando a mão nos meus cachos e acariciando levemente — Mas já que deixou… você sempre tem esses pesadelos?

— Vai ter que ser mais específica.

— Essa noite, eu acordei com você falando sozinho. Você gritava por socorro, e perguntava onde estava seus pais. Daí eu fiquei preocupada.

Sua expressão não mudou drasticamente. Mas o quase sorriso que ele tinha no canto dos lábios foi sumindo, e sua boca ficou em uma linha reta enquanto me encarava. Olhou para o lado, quebrou nosso contato visual e suspirou. Nenhuma palavra saiu de sua boca, mas fui paciente e aguardei o que ele tinha para falar.

— Posso te responder depois de tomar um banho. Estou cansado.

Abri a boca para falar alguma coisa, mas a fechei logo em seguida. Apenas assenti, e então me levantei, vendo ele fazer o mesmo e nos guiar para o banheiro. Josh tirou suas roupas e entrou no box, enquanto eu o aguardava do lado de fora. Seus olhos azuis me alcançaram, e então estendeu uma mão para mim, pedindo silenciosamente para que eu o acompanhasse. Tirei meu vestido e minha calcinha, entrando debaixo do chuveiro com ele, sentindo a água quente molhar todo o meu corpo. Respirei fundo, e eu fui puxada delicadamente para um abraço apertado.

Não existia malícia naquele momento. Não estávamos pensando em sexo. Era apenas um momento de conforto, o qual nós dois precisávamos. Eu sabia que tinha muita coisa para acontecer naquele dia, mas não estava focada naquilo. Eu só conseguia pensar em como seus braços fortes são acolhedores e como eu me sinto em casa estando ali.

Estávamos em silêncio, enquanto eu colocava uma blusa dele, e uma calça de moletom que ficou enorme em mim, mas já era alguma coisa. Josh se sentou no sofá e me colocou no meio das suas pernas, sentada no chão, enquanto colocava todo o meu cabelo para trás. Separou uma grande mecha, e então começou a pentear meu cabelo e o finalizar.

Não tínhamos dito nada desde o banho, e eu já estava começando a ficar agoniada, mas respeitava o tempo dele. Quando de repente, ele limpou a garganta e falou:

— Eu tenho esses episódios desde criança. Meus tios relataram que era muito pior, ao nível de eu me debater na cama. São memórias péssimas que aconteceram há muito tempo atrás e que me assombram até hoje.

— Seus pais nunca levaram você num psicólogo? — Perguntei com toda a inocência do mundo.

Josh respirou fundo, e parou de mexer no meu cabelo. Olhei para trás, vendo sua mandíbula trincada e os olhos azuis encharcados com lágrimas, e eu contive a vontade de abrir a boca em surpresa com o que veio a seguir.

— Meus pais morreram, Any. Foram brutalmente assassinados na minha frente pelo o meu próprio tio.

Senti meu estômago se revirar com aquela revelação, e quase ofeguei. Meu corpo inteiro travou, e eu não soube o que falar depois daquilo. Josh é um homem que nunca fala de seu passado ou de seus traumas, então quando aquilo veio na lata sem eu ao menos esperar, parece que eu desaprendi totalmente a falar.

— Eu sinto muito — Foi o que consegui falar depois de muito tempo em silêncio — Pra mim é difícil porque é recente, mas… minha mãe também morreu há um ano atrás. Mentia pra você porque nunca me sentia pronta para contar. Me desculpa.

— Eu já sabia — Franzi o cenho, totalmente confusa — Desde aquele dia, onde eu disse que queria conhecer sua mãe e você esboçou aquela reação. Só estava esperando você me contar.

Josh terminou de amassar o meu cabelo, e então me sentei ao seu lado, pegando na sua mão e sentindo meus olhos arderem e minha garganta fechar. Era difícil pra mim falar daquilo, por mais que não seja tão recente assim. Quando ouvi aquela revelação do loiro na minha frente, senti que aquele era o momento certo para lhe revelar isso. Me aconcheguei a ele, abraçando sua cintura e colocando meu rosto na curvatura do seu pescoço, inalando seu perfume viciante. Seu corpo relaxou aos poucos, e ouvi um baixo fungar vindo de sua parte. Eu não precisava olhar para ele para saber que estava chorando.

— Me desculpa por tocar nesse assunto com você, lindo — Acariciei sua barba com os dedos, sentindo minha voz embargar. Admito que também queria chorar — Podemos esquecer isso, e irmos dormir se você quiser. Ou podemos ver outro filme.

Não queria chorar pela a minha situação, mas sim pela a dele. Imaginava o quão traumático aquilo poderia ser para a cabeça de uma criança, e eu sinceramente não sabia o que dizer para melhorar aquilo. Na verdade, nunca iria melhorar. Josh choraria por suas memórias até o dia de sua morte, e eu não o julgava por isso. Senti uma lágrima escorrer da minha bochecha inconscientemente, e um soluço sair da minha boca involuntariamente quando tentei falar algo para confortá-lo.

— Ei, não chora — Ele pediu, com a voz um pouco mais firme, porém, ainda fraca — O que importa, é que você está aqui comigo.

— Eu também estou aqui com você, meu amor.

O olhei, e mesmo com os olhinhos azuis cheios de lágrimas que não iriam ser derramadas, ele ainda tinha um sorriso no rosto.

— Any, se você soubesse o que estou sentindo agora… — Disse e tomou meu rosto com uma das mãos, secando uma lágrima com o polegar.

Toquei seu rosto com uma mão e o beijei. Suspirei em meio ao beijo, sentindo mais lágrimas caírem de ambas as partes. Eu sabia o que ele queria dizer com aquela frase. E sinceramente, eu sentia o mesmo.

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oi. nem sumi, né?

Sapatilhas Douradas - Beauany Where stories live. Discover now