[Obra original] [Ficção pós-apocalíptica] [+18]
Reorganizando-se após o fim do mundo conhecido, a humanidade segue em sua luta para sobreviver. As Cidades se tornaram os maiores refúgios conhecidos, protegidas pelos Guardiões, guerreiros de elite qu...
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Sentada na própria cama enquanto comia uma maçã e lia um dos livros roubados da estante de Nicolas, Liz aproveitava o silêncio da Casa dos Guardiões.
Sempre que estava na cidade, ela dedicava a maior parte do tempo a ficar sem as faixas corporais e mergulhada no descanso que somente seu quarto parecia ser capaz de oferecer.
Estava focada no romance que lia quando repentinamente uma figura surgiu num pulo em sua janela... em sua janela do terceiro andar. Só havia uma pessoa capaz de dar um susto tão imprudente daqueles.
— YURI! — gritou e arremessou uma almofada nele.
Habilidosamente o rapaz desviou, tombando a cabeça para o lado enquanto se agarrava com as duas mãos no parapeito da janela. Puxou o corpo todo para o interior e ficou de pé, dentro do quarto de Liz.
— Você é uma Guardiã muito imprudente. Aquela almofada poderia ter me derrubado da janela do terceiro andar — o sorriso cínico estava presente no rosto.
— Você não cairia da janela do terceiro andar se não estivesse pendurado nela.
Fechando o livro, Liz encarou o melhor amigo.
Ele era mais alto que ela, mantinha os braços cruzados e a pele amarela estava bronzeada. Com certeza tinha passado um bom tempo no sol. Os fios pretos estavam curtos, mas ainda mantinha um pequeno topete que não precisava de nada para ficar para cima. Os olhos alongados e com pálpebras retas poderiam parecer estar normais quando ele estava de lado, mas o inchaço no esquerdo evidenciava a luta prévia.
— Levou uma surra? — Liz perguntou, com intuito de tirar o sarro dele.
— Acredita que um marinheiro do litoral achou ofensivo eu ter dado em cima da esposa dele? Vê se pode!
Com as mãos na cintura, a garota parecia incrédula sobre o que acabara de escutar. Yuri começou a gargalhar, o que lhe rendeu outra almofadada.
— Eu estava bêbado, ok? E ela não tinha nenhuma aliança — justificou-se.
— Você fica bêbado durante as missões e eu que sou a guardiã imprudente?
— Todo mundo já ficou bêbado durante alguma missão, Liz. A gente passa dias, semanas lá fora... é impossível não buscar pelo menos um pouquinho de diversão.
— Não conta isso pro meu irmão, ele vai baixar um decreto que nos impede de beber.
— E ele vai ir atrás da gente pra garantir?
O olhar de advertência de Liz o fez rir ainda mais. Aquela era uma piada muito errada, mas ninguém escutou, então os dois riram baixinho.
— Tá bom, tá bom. Vou ficar quieto — ergueu as mãos em rendição.
— Chegou na cidade faz tempo? — ela perguntou, novamente relaxando na cama.
— Ontem à noite, mas não vim pra cá. Passei a noite no Bico do Corvo.
