[Obra original] [Ficção pós-apocalíptica] [+18]
Reorganizando-se após o fim do mundo conhecido, a humanidade segue em sua luta para sobreviver. As Cidades se tornaram os maiores refúgios conhecidos, protegidas pelos Guardiões, guerreiros de elite qu...
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Kai tinha algo para comer pela manhã, e era essa a razão pela qual ele se sentia tão melancólico.
Por mais que tentasse não pensar no passado, sempre que via comida em seu prato, Kai respirava profundamente, sentindo-se grato pelo que tinha. Era pouco, mas era muito mais do que um dia já tivera.
A única coisa que ainda lhe amargava a boca era saber que sua família morreu na miséria. Não tiveram a chance de provar os prazeres de Castelo Forte. Sua mãe e sua irmã morreram ardendo naquela casa podre. Cresceram e viveram com medo, mergulhadas em fome, miséria e desespero. E arderam gritando por socorro. Gritando por ele.
E ainda tinha o garoto. Aquele maldito garoto curioso e mexeriqueiro... se não fosse tão intrometido, não teria sido enterrado vivo.
As frutas amargaram o paladar de Kai ao se lembrar de seu cruel passado. Queria deixá-lo distante, completamente esquecido na memória.
Fora dos muros seguros de Castelo Forte, as pessoas já cresciam acostumadas com o terror e com a morte. Prontas para se despedirem a qualquer instante de seus entes queridos, que provavelmente partiriam da pior forma possível. Embora isso não tornasse as coisas mais fáceis.
— Uh? — Expressou ao escutar batidas à sua porta.
Kai levantou e a abriu, dando de cara com a vizinha que morava ao lado. Uma mulher simples de cabelos grisalhos e olheiras profundas. Tão magra que parecia prestes a quebrar.
— Menino, estão te chamando lá embaixo — ela falou, os olhos baixos exibiam um certo brilho curioso, como se estivesse ansiosa para espiar a conversa.
— Obrigado, senhora — ele agradeceu, mesmo sem se lembrar do nome dela.
Voltou para a mesa apenas para pegar a última fatia de sua fruta, em seguida, trancou a porta e desceu as escadas ainda mastigando.
Estava prestes a murmurar com Lauren. Desde quando ela tinha perdido a mania de tacar pedras na janela dele e pedia para os vizinhos educadamente o chamarem? Isso não fazia o estilo dela.
Entretanto, ao chegar na rua, não encontrou a amiga loira. Algumas pessoas transitavam por ali, mas Lauren não era uma delas.
— Sou eu — o rapaz parado ao lado da porta da entrada do prédio falou.
Kai virou a cabeça e o encarou. Ele não era desconhecido, mas não importava o quanto o rapaz tentasse, não conseguia se lembrar de onde o conhecia.
Ele era magro e tinha a pele muito escura. O semblante entediado combinava com o livro que tinha em mãos. Ele marcou a página com um dos dedos e ergueu os olhos até Kai, fazendo o refugiado sentir um arrepio na espinha.
— O Mestre quer te ver — o rapaz falou, fazendo Kai franzir o cenho.
— Mestre Benjamin? — Ele perguntou, sentindo o coração acelerar um pouquinho.