Capítulo 27

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Sem saber que estava sendo observado por seu pai, T'hani estava atento à sua própria tarefa. Sentado no banquinho e debruçado sob uma mesinha, escrevia suas primeiras palavras em wakandano. Sua mãe tinha decidido ensiná-lo, mostrando as primeiras letras e como o alfabeto funcionava. Ele pediu então, depois de um tempo, para tentar fazer sozinho, mostrando o quão independente ele podia ser. Para Shuri, isso era bom, até um certo ponto, ele seria um ótimo líder um dia, seguindo seus instintos e seu coração, mas por outro lado, a lembrava novamente do quanto ele estava crescendo.

Namor compartilhava do mesmo sentimento, mas também ficava satisfeito, contente, com o orgulho que sentia ao ver o filho tão empenhado. Esperando mais um pouco por um período mais apropriado de interrompê-lo, resolveu se aproximar.

-Como vai, T'hani? Eu vim ver como estava, sua mãe disse que faz um tempo que está concentrado na tarefa - ele se sentou ao lado do menino.

-Estou? É, acho que sim - ele ponderou - eu gosto de escrever, pra mim é muito bom.

-Sim, é bom e importante, como nós guardamos nossas histórias e tudo que nos lembramos do que passamos - ele concordou - o que exatamente você está escrevendo agora?

-Ah estou escrevendo o meu nome e o seu e o da mamãe - T'hani respondeu simplesmente - posso escrever mais coisas sobre Wakanda depois, como as vezes que visitamos o tio T'Challa, tia Nakia e o Toussaint.

-Sim, são boas memórias pra se escrever - seu pai disse - mas quem sabe você também poderia escrever algumas histórias de Wakanda, se lembra de alguma que sua mãe tenha contado?

-Ah tem muitas, você não quer me contar uma? - T'hani propôs, o que pegou seu pai de surpresa.

Ele tinha se inteirado da cultura wakandana nos últimos anos, tanto nas visitas até o país, como tudo que Shuri contava e ensinava, até mesmo a maneira de agir dela. Namor se considerava um bom aprendiz, seu esforço para aprender mostrava o quanto valorizava a cultura e a aliança com Wakanda, além de respeitar os costumes da esposa que tanto amava, que faziam parte de quem o filho deles era também. Assim, com uma das histórias vindo em sua mente, ele decidiu contar a T'hani.

-Eu conto, meu filho - Namor sorriu e depois prosseguiu - Você sabe como Wakanda surgiu? 

-Pelo meteoro de vibranium que caiu - disse T'hani, um pouco incomodado por saber apenas isso.

-Ah sim, verdade, mas depois disso, houve um conflito entre 5 tribos, elas brigavam entre si para ver quem ficaria o poder, até que Bast resolveu mudar essa situação - seu pai prosseguiu - tem alguma ideia do que ela fez?

-Hã, eu não sei, talvez desceu lá e disse para todos pararem de brigar? - deduziu T'hani, achando que se algo assim acontecesse seria bastante épico e empolgante.

-Quase isso - Namor riu - ela escolheu um guerreiro para os liderar, Bashenga...

-O primeiro rei de Wakanda - a voz de Shuri comentou, fazendo os dois se virarem para ela, surpresos.

-Mãe! - o príncipe se levantou e a abraçou, como se tivessem ficado muito tempo separados, o que não era muito verdade - como você está agora?

-Faz tempo que está ai? - Namor se levantou, a inspecionando, verificando se realmente estava se sentindo bem - achei que estava descansando, e você precisa descansar.

-Ah por causa do bebê? Eu sei, meu rei, não se preocupe, estamos bem, eu e o bebê - ela brincou um pouco, até fazendo uma reverência e ficando mais séria depois, tocando e olhando a própria barriga em gestação - foi o bebê que decidiu vir até aqui, estava chutando e eu não encontrei uma posição confortável, então achei melhor me juntar ao resto da minha família.

-Fique à vontade, os dois - Namor sorriu e beijou seu rosto, deixando que a esposa se sentasse ao lado dele.

-Vocês não querem mesmo saber o que vai ser o bebê? A gente nem consegue escolher um nome pra ele assim - reclamou T'hani, mostrando sua indignação sem reservas.

-Ora mocinho, isso foi muito impertinente! - a mãe dele tentou corrigi-lo, mas não conseguiu evitar rir - se acalme, meu amado T'hani, eu sei que a impaciência pode ser impossível de ignorar, mas vai valer a pena, o que me lembra duas coisas na verdade.

-O que? - o príncipe olhou para Shuri, completamente intrigado.

-Você estava estudando tradições com seu pai agora há pouco, não é? - a mãe do menino apontou e ele assentiu docemente, o que a fez acariciar seu queixo brevemente - sobre como Bashenga foi o primeiro rei de Wakanda, essas histórias, nossa história, tudo que aconteceu são coisas que definem quem somos, de onde viemos, tradição é importante.

-Papai sempre diz isso - T'hani comentou, o que fez Namor sorrir orgulhoso para ele.

-Sim, eu sei, acho que aprendi isso com ele também, e com meus pais e meu irmão - ela respondeu, pensando em sua própria família também - é a mesma coisa de você estar aprendendo a escrever em wakandano.

-Onde quer chegar, mãe? Isso tem a ver com meu irmão ou irmã? - T'hani cruzou os braços, claramente um pouco cansado.

-Impaciente, com certeza - foi a vez do pai dele rir - eu tenho uma ideia de onde sua mãe quer chegar, mas vou deixá-la terminar.

-Está bem, garotos, lá vai! - ela deu ênfase, tentando continuar - quando eu estava grávida de você, eu e seu pai debatemos se deveríamos saber o que você seria, mas concordamos que seria melhor esperar seu nascimento, porque era um costume talokani.

-Entendi, se é por isso, eu consigo esperar - o menino compreendeu a importância de tudo que estavam discutindo até então, satisfeito pela mãe ter ao menos terminado o discurso - não demora muito tempo pro bebê nascer agora, não é?

-Depende da sua pressa, meu príncipe impaciente - a mãe dele rebateu - faltam dois meses, isso se o bebê não se atrasar.

-Ele não vai se atrasar, espero que não - T'hani ficou um pouco desconfiado da possibilidade.

-Você pode pedir ao seu irmão que não faça isso - Namor sugeriu.

T'hani, contente com a sugestão se aproximou da barriga da mãe, acariciou e então cochichou ao bebê.

-Eu queria muito te conhecer logo, seria bom se não demorasse - confidenciou o príncipe.

-Vai dar certo, tenho certeza que ele te ouviu - garantiu Shuri.

Enquanto o segundo filho dos soberanos de Talokan não estava ali, restava compartilhar a ansiedade e alegria pela chegada dele em família.

Grãos de Areia à Beira MarWhere stories live. Discover now