Capítulo 28

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Levada pelo instinto e a própria necessidade física de se levantar, Shuri abriu os olhos e se ajeitou com dificuldade para se sentar na cama. Esticando as pernas para a frente, se permitiu sorrir sozinha, não se lembrava de ter uma barriga enorme assim quando estava grávida de T'hani, ao menos tinha certeza que não eram gêmeos.

Não ficou sozinha por muito tempo, virou-se para trás ao sentir a inconfundível mão de Namor nas suas costas.

-Você está bem? – ele perguntou, claramente preocupado e também sonolento, nem sua longevidade o poupou de olheiras, cansado e preocupado.

-Eu estou bem, só um pouco dolorida – ela respondeu sinceramente, sorrindo para ele, até se aproximar e beijá-lo apropriadamente – obrigada por se preocupar.

-Não há de que, é natural me preocupar, amo você, vocês dois – ele deixou de olhá-la diretamente, para inspecionar sua barriga – sei que está pronta pra isso, mas há algo mais que te preocupa?

-Eu não sei – ela balançou a cabeça – meu lado analítico me diz pra não se preocupar, que eu já passei por isso antes, sei o que esperar, mas tem um lado emotivo que tem medo que alguma coisa ruim aconteça, que está ansioso pra ter esse bebê logo.

-Eu acho que entendo, pelo menos a ansiedade, eu estou sentindo a mesma coisa, mas o que me conforta dessa vez é termos planejado as coisas de uma forma melhor, quero dizer, temos uma data exata, e eu vou poder estar ao seu lado o tempo todo – ele segurou a mão dela e a beijou.

-Isso porque o T'hani se apressou – ela se permitiu rir – o príncipe impaciente, sem dúvida.

-Não passa de hoje, ele vai conhecer seu irmão ou irmã – ele complementou.

-Verdade, o que me lembra das responsabilidades do dia – Shuri assentiu, resolvendo ser prática sobre a situação e usando a razão.

Antes de ser tomada pela razão completamente, ela se jogou contra o peito de Namor e o beijou firmemente, um gesto de apego ao seu amor, que lhe daria forças para passar pelo que estava por vir. Apesar de surpreso pelo beijo, seu marido compreendeu o sentimento que vinha com ele.

-Não se preocupe, amor da minha vida, eu vou estar com você o tempo todo – ele prometeu.

Só então eles compareceram diante do quarto preparado para que a rainha desse a luz mais uma vez. Não houve grandes debates quando o deus serpente emplumado decretou que acompanharia todo o processo ao lado da esposa. Era comum aos talokanis os pais esperarem ansiosamente do lado de fora, mas quando Shuri mencionou uma vez que, na superfície, era muito comum os pais presenciarem o parto, ele fez questão de estar presente. Não era culpa que sentia em relação a perder o nascimento de T'hani, tinha acontecido tudo tão de repente e ele estava longe, mas agora, tendo uma segunda chance, não perderia por nada.

Com as contrações cada vez mais frequentes, o xamã e as parteiras prepararam Shuri para o parto, com tudo que ela se lembrava, com Namor observando aquelas tradições de séculos pela primeira vez.

Por mais que lembranças do parto de T'hani viessem à mente dela, Shuri se focou naquele momento e, por um repentino instante, sentiu algo estranho, como se o bebê estivesse preso, de alguma maneira.

Vendo a expressão de pânico dela e a movimentação das parteiras, Namor se pôs do lado dela, segurando sua mão, beijando sua testa.

-Está tudo bem, você consegue, eu sei que consegue – ele murmurou carinhosamente, antes mesmo de entender por completo o que estava acontecendo.

Shuri respirou fundo, motivada pelo amor, pelo filho que precisava vir ao mundo, de quem a vida dependia dela agora, fazendo um pouco mais de força, o que a deixou exausta.

-Não pode desistir agora, senhora – uma das parteiras disse com delicadeza, apesar da situação difícil – a cabeça está um pouco presa, faremos o que podemos, mas a senhora precisa empurrar mais uma vez.

-Ok – Shuri murmurou, respirando um pouco mais, como se o fôlego a escapasse.

Sentiu seu bebê ser deslocado com a ajuda da parteira, constatando que o peso de dentro dela estava ficando menor.

-Agora, senhora – pediu a parteira e sua rainha empregou as forças que ainda lhe restavam no esforço.

Com alegria e alívio, todos ali ouviram os choros do bebê. Apesar da pequena complicação, o parto tinha sido bem sucedido. Chutando para fora do ventre que a gerou, a princesa exibia seus calcanhares alados, que chamaram a atenção de seu pai.

Lágrimas banharam os olhos de Namor, um orgulho que não esperava sentir o invadiu no momento, a garotinha, sua garotinha, era como ele.

-A princesa está bem, abençoada pelos deuses! – celebrou a parteira, entregando o bebê à sua mãe.

-Uma pequena guerreira, sem dúvida – Shuri a observou em seu colo, a filha estava agitada, a encarando de volta com a mesma curiosidade – Namuri, seu nome vai ser Namuri, uma guerreira como seu pai...

-Como sua mãe – Namor completou, aceitando que a homenagem no nome da filha fosse para os dois.

Beijando as duas na testa, ele deixou que descansassem, até o momento que estivessem prontas para voltar para casa.

Os pais de T'hani o encontraram distraído, conversando com Namora. Apesar do exterior destemido e compromissado, a prima do príncipe tinha criado um vínculo especial com ele ao longo dos anos, e enquanto, a rainha estivesse dando a luz, ela se ofereceu para cuidar do garoto.

Namora interrompeu-se ao ver quem se aproximava, entrando na cabana da família.

-Mãe! – T'hani se virou e olhou para os pais, abraçando suas pernas com força.

-Eu achei que tivesse sentido minha falta também – Namor reclamou em tom de brincadeira, o pegando no colo.

-Eu senti, é bom te ver papai, mas também queria ver meu irmão – ele rebateu – afinal de contas, é irmão ou irmã?

-É uma irmã e cuidado para não acordá-la – Shuri alertou, se aproximando para T'hani a visse de mais de perto – filho, essa é sua irmãzinha, Namuri.

-Namuri, nome bonito, acho que combina com ela – opinou o príncipe, sem tirar os olhos da irmã – ela tem asas também, ela já voa?

-Ah não, não, é um pouco cedo demais pra isso, não acha? – Shuri respondeu a isso.

-Mas no tempo certo, eu vou ensiná-la - Namor se propôs, completamente orgulhoso, e quanto a isso, sua esposa sabia que não havia mais nada que ela pudesse fazer.

-O que todos nós podemos fazer agora é descansar – Shuri anunciou.

Só então Namora se ergueu, saudando a família real apropriadamente.

-Abençoada seja minha rainha, e toda Talokan por ter ganhado uma nova princesa – Namora os cumprimentou – vida longa a Namuri.

-Obrigada, Namora, e obrigada por ter ficado com o T'hani – Shuri agradeceu,

-É sempre bom estar na companhia do príncipe – respondeu ela – eu pretendo visitar a princesa de novo, em um momento mais apropriado, descansem, por favor.

-Nós vamos, você também – Namor se despediu dela, agradecendo mais uma vez.

T'hani se juntou ao seu pai enquanto a irmã e a mãe descansavam. Por enquanto, pelo seu julgamento, tudo estava bem e nada tinha mudado muito por ter uma irmã. Se algo tinha mudado é que agora ele tinha mais alguém na família a quem já amava.

Grãos de Areia à Beira Marحيث تعيش القصص. اكتشف الآن