Capítulo 21

151 12 140
                                    

Jungkook abriu os olhos naquela manhã ansiando por vingança. A dor da perda dilacerava-o por inteiro outra vez; era como se fosse seu destino: perder, perder e perder. Não se importaria, entretanto, se a perda fosse material.

O problema se encontrava exatamente na perda de pessoas, e não quaisquer pessoas. Eram todas que amava, começando por seus pais. Não sabia muito sobre a mãe, já que tudo o que lhe fora contado desde criança era, em parte, mentira.

O único irmão que tinha descobriu tarde demais e da pior forma possível, sendo que ele ainda podia ser seu melhor amigo. Seria uma felicidade, talvez a maior de sua vida, descobrir que Hugh era seu irmão em outras circunstâncias.

Quantas vidas teriam sido poupadas se ambos não tivessem sido enganados? Quanto rancor poderia ter sido evitado? Quanto tempo ganhariam juntos ao invés de terem perdido brigando e se atacando?

Os anos haviam passado e muitas coisas continuavam iguais para Jeon. Ele ainda era Jeon Jungkook. Ainda tinha ódio dentro de si, mesmo que numa escala menor. Emma continuava ao seu lado.

Charlie ainda era seu segundo pai e ainda o seguia cegamente. Mas os sentimentos ruins continuavam ali também; pareciam fazer parte de quem era. A vida simplesmente não seguia. Estava estagnada naquilo.

Sua carreira se resumia em polêmicas e atos heroicos; além da quase condenação há pouco tempo. Ainda era visto como o homem agressivo e vingativo. Ainda sentia que era todas as coisas que diziam pelas revistas de fofocas; e sim, ainda era assunto delas.

Ainda era visto com garrafas de cerveja e copos de uísque andando por aí, ainda infringia leis, ainda era considerado ruim; e talvez ainda o fosse. No entanto, ainda amava. De um jeito torto, errado às vezes, mas amava.

Ainda faria qualquer coisa pelas pessoas que permaneciam ao seu lado. Isso, o seu amor, era algo imutável. Seu coração ainda era bondoso, embora deixasse que o medo e a raiva falassem por si; ficava cego quando sentimentos tão conflitantes tomavam-no o corpo.

— Não está pensando em jogar tudo para o alto, está? — A voz calma, porém cansada, de Lisa ecoou pelo quarto vazio e parcialmente escuro, tirando o policial de seus devaneios. — Nós precisamos manter o controle, Jungoo.

— Na verdade, estava pensando em como nada mudou nos últimos anos — respondeu, dando de ombros. — Nós ainda vivemos como fugitivos, ainda nos arriscamos e ainda perdemos quem amamos. Qual o propósito disso tudo? Me enlouquecer? Sinceramente, Lis, eu preferia enlouquecer na cadeia.

— Não fale assim, meu amor — a mulher se aproximou, sentando-se na cama ao lado dele. — Você sempre soube que seu índice de perdas pessoais seria mais alto que o normal. Nada disso é culpa sua, ou das coisas não terem mudado. É apenas a ordem natural das coisas, hoje choramos pelo Jesse, mas ontem era pelo seu pai, pelo Ryan; amanhã pode ser por você, por mim, pela Emma.

— Perda é perda; mas nossas profissões acabam intensificando isso para nós, acabamos nos tornando alvos facilmente e por qualquer mínima coisa que aconteça. Mas nós vamos conseguir resolver, sempre conseguimos.

— Matando todos eles? Porque eu só vejo essa solução.

— Se for necessário, sim. Já te disse uma vez e repito: vamos matar quem for necessário. Não estamos aqui para perder mais, nem para ficarmos de mãos atadas. Vamos reagir, fingir que isso não nos afetou. Hugh sabe que sim, mas ele não espera que ataquemos agora. Só temos hoje para irmos atrás dele e solucionar esse caso, Jungkook.

— Está dizendo que vamos ter que partir para mais uma caçada a Hugh Harris? Ele está a milhares de passos à nossa frente.

— Mas nós somos mais inteligentes e mais fortes. Pare de se colocar para baixo, não suporto vê-lo assim. Sei que está doendo, e acredite: em mim também está. Mas nada do que façamos irá trazer nossos irmãos de volta. Só temos uns aos outros; os poucos que restaram.

Pull Me In - Fire (Liskook) - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora