Deux

247 34 54
                                    

Todas as tardes por volta das 15 hrs eu observava Harry chegar nos Campos Elísios, sempre sozinho em sua carruagem

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.


Todas as tardes por volta das 15 hrs eu observava Harry chegar nos Campos Elísios, sempre sozinho em sua carruagem. Vestido impecavelmente e com um girassol nas mãos, ele andava devagar perdido em devaneios. Vez ou outra algum conhecido o cumprimentava e o garoto apenas dava um sorriso praticamente imperceptível, pois todos sabiam que durante o seu passeio diário, Harry não admitia companhia, era um tempo reservado a si mesmo e as suas reflexões.

Ele andava poucos minutos por ali e em seguida se dirigia ao bosque lateral ao Campos por onde desaparecia por mais ou menos meia hora, envolto em sua solidão. Nunca me senti tentado a segui-lo pelo bosque, porque ao meu ver seria uma total invasão de privacidade, então apenas me recostava em uma árvore ou sentava-me num dos bancos e aguardava pacientemente o seu retorno.

Aos meus olhos era impossível existir beleza mais encantadora do que a dele, e eu tinha necessidade de vê-lo nem que fosse de longe para preencher um pouco o vazio que eu sentia. Um vazio na alma, que me angustiava e que parecia somente diminuir quando o via. Não havia explicação lógica para essa dependência, eu apenas sentia e não conseguia lutar contra.

Harry era alto e esbelto, seu rosto delicado com um par de olhos verdes que se assemelhavam a esmeraldas, contornados por sobrancelhas tão perfeitas que pareciam ter sido desenhadas à mão e com grandes cílios que quando piscavam projetava sombras à suas bochechas rosadas. Sua boca vermelhinha em formato de coração no arco do cupido, cujos lábios se abriam graciosamente sobre os dentes branquinhos e a pele aveludada do seu rosto compunham uma obra de arte.

Os cabelos cor de chocolate, cacheados naturalmente, caiam-lhe sobre os ombros e contrastavam com os caríssimos diamantes que exibia constantemente em suas orelhas. Seu perfume era marcante e sedutor, sua voz melodiosa parecia com um canto de sereia que hipnotizava e chamava para si.

Mesmo levando uma vida profana Harry possuía uma expressão virginal, infantil até e, esse era um mistério que mesmo sem compreender, todos eram obrigados a concordar, o garoto era mesmo o pecado encarnado.

As noites dele eram todas movimentadas, sempre acompanhado de seus amigos e de homens que pagavam quantias exorbitantes por sua companhia. O michê participava dos bailes mais requintados e em uma ou outra ocasião, de orgias, o que fazia meu peito apertar de ciúmes e desgosto.
E sempre que tinha uma estréia no teatro ou na ópera podia-se ter certeza de o ver com seus inseparáveis binóculos, seus bombons de cereja e um girassol.

E assim por seis meses eu o observei à distância, sem ousar me aproximar novamente depois da humilhação que sofri. O via nos braços dos seus amantes ricos e me torturava com o pensamento de que nunca o teria para mim. Foram dias de angústia e auto-comiseração, nos quais eu pedi fervorosamente a alguma força superior que arrancasse de mim aquela paixão sufocante e inexplicável.

Entretanto, chegou uma época que ele sumiu por 15 dias. Eu o procurei por todos os lugares badalados, mas o michê não apareceu sequer para sua habitual caminhada diária nos Campos Elísios. Preocupado fui conversar com Jean Carlo, na esperança de saber notícias dele.

Sunflower Field | l.s Where stories live. Discover now