Dix-Sept

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Dois dias depois do meu regresso a Paris, fiquei sabendo por Jean Carlo que haveria uma festa na casa do michê Lestat de Lioncourt e, como supus que Harry estaria lá, não tardei em aceitar o convite do meu amigo para participarmos do evento

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Dois dias depois do meu regresso a Paris, fiquei sabendo por Jean Carlo que haveria uma festa na casa do michê Lestat de Lioncourt e, como supus que Harry estaria lá, não tardei em aceitar o convite do meu amigo para participarmos do evento.

Quando chegamos, já perto das onze da noite, a festa seguia animada. A música soava alta e as pessoas se dividiam entre beber e flertar ou dançar no grande salão.

Assim que coloquei meus pés dentro da casa, para meu martírio, um dos primeiros casais que avistei foi Harry e o conde Pierre. Eles dançavam uma quadrilha e pareciam alegres, especialmente o conde, que carregava um sorriso orgulhoso no rosto e exibia o michê como se fosse um troféu.

Respirei fundo tentando controlar o ritmo acelerado da minha respiração. Com a cabeça erguida, caminhei até o lado oposto da pista, de onde tinha uma visão ampla de toda a festa, e me escorei na parede. O garçom que passava por ali, educadamente me ofereceu champanhe, o qual bebi todo em um só gole antes de pegar a segunda taça.

Por alguns minutos fixei tão obstinadamente os olhos no casal em questão que acabei atraindo para mim o olhar do garoto. Levantei a taça em sua direção, num cumprimento despretensioso, e foi notável o quanto sua postura mudou rapidamente. Seus ombros caíram, o mínimo sorriso que carregava fechou-se, e mesmo não estando muito próximo, percebi que Harry empalideceu.

Devo confessar que minhas emoções entraram em ebulição ao vê-lo. Harry continuava tão lindo quanto em minhas lembranças e meu coração ainda acelerava loucamente apenas por estar no mesmo ambiente que ele, porém a percepção de que no final da festa não seria comigo, mas sim com o imbecil do conde que o garoto iria para casa e, provavelmente, transariam até o amanhecer, fazia meu sangue ferver de raiva e ciúmes. E naquele momento, cego pelo despeito, resolvi começar a colocar em prática o meu plano.

A música acabou, porém, antes que outra começasse, eu fui me apresentar ao dono da casa.

Lestat era um jovem atraente, sua beleza poderia, aos olhos de alguns, se comparar a de Harry. Seu porte era elegante, seus olhos expressivos e ele carregava nos lábios sensuais um sorrisinho atrevido, era certo que o homem que o tivesse como amante poderia se considerar sortudo.

Lestat de Lioncourt, pelo que eu sabia, tinha chegado a pouco tempo em Paris e logo se tornou amigo de Harry. Mesmo a amizade sendo recente, ambos haviam se tornado praticamente inseparáveis. E aquele fato contribuiu ainda mais para a minha resolução.

Eu me tornaria amante daquele michê.

Não demorei para iniciar com os flertes descarados, e para a minha sorte, foram muito bem recebidos pelo anfitrião de olhos amendoados.
Dançamos uma música atrás da outra e eu aproveitava todas as oportunidades para tocar sua cintura enquanto sussurrava palavras provocantes em seu ouvido. O garoto sorria insinuante e retribuía, sem vergonha alguma, as provocações.

Ele era uma boa companhia, devo confessar. Ousado e despreocupado. Da maneira como deveria ser.

Meia hora depois, selei demoradamente o canto da sua boca e foi naquele instante que vi Harry pegar o casaco e abandonar a festa, tão pálido que parecia ter visto um fantasma.

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