Esse não é um conto de fadas.
Nessa história também não existe mocinho e bandido, certo ou errado.
Não é uma história engraçada, nem completamente trágica. Ela é a história de amor de um homem comum, que teve inúmeras vezes seu orgulho ferido. Que...
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Depois daquele dia entendi que como não poderia mudar a vida do meu amante, eu teria que reajustar a minha. É por isso que evitava a todo custo dar tempo a minha consciência para refletir no que havia acabado de aceitar, pois se fosse ser sincero, aquela situação me causava inquietação e temor pelo futuro desconhecido.
A minha vida geralmente tão organizada, se tornou de repente em um redemoinho de emoções. Eu estava ciente que por mais desinteressado que parecesse o amor de um michê, na verdade exigiria bastante de mim, afinal, ficam caros os passeios, os camarotes, as flores e não havia forma de eu negar-lhe ao menos esses pequenos mimos.
Eu não tinha fortuna, pelo contrário, meu pai era cobrador geral de impostos, recebia em média 40 mil francos por ano e foi com esse salário que ele conseguiu guardar, em dez anos, o dinheiro para o dote da minha irmã. Minha mãe quando morreu deixou 6 mil francos de renda, os quais papai dividiu entre Charlotte e eu.
Assim que completei 21 anos, meu pai juntou à esse rendimento uma pensão anual de 5 mil francos, assegurando-me que com 8 mil eu poderia viver sossegado.
Quando jovem ganhei uma bolsa de estudos e me formei em direito e, como muitos dos meus colegas, guardei o diploma na gaveta e fui viver uma vida boêmia, porém meus gastos sempre foram modestos. Gastava em oito meses o meu rendimento anual e passava os quatro meses do verão na casa do meu pai, o que me permitia matar as saudades da família e manter a reputação de bom filho.
Essa era a minha situação financeira quando conheci Harry, porém ele levava uma vida luxuosa e era um garoto que nunca consideva como um gasto desnecessário as dezenas de distrações e passeios que fazia. Então para que pudéssemos passar mais tempo juntos, íamos com frequência a teatros, óperas e restaurantes e, para minha preocupação, no final da noite eu havia gasto muito mais do que poderia bancar.
Compreendi naqueles dias que como nada no mundo teria sobre mim influência para deixá-lo. Eu precisava descobrir uma maneira de ganhar dinheiro rápido. Foi quando Julien me deu a ideia de jogar pocker e sem pensar duas vezes pedi emprestado a um agiota 5 mil francos e lancei as minhas esperanças naquela vida que poderia ser perigosa e destrutiva, no entanto, estava disposto a contrair dívidas altíssimas desde que não precisasse me afastar do garoto dos olhos verdes.
As noites que não passava na casa de Harry, eu sabia que não conseguiria dormir corroído pelos ciúmes, então o jogo ajudava a afastar por algumas horas a insegurança que invadia meu coração e evitava que novamente eu fizesse uma cena pondo em risco o nosso relacionamento.
Era assim que passava meu tempo até chegar a hora de ir para junto dele, e não importava se estivesse ganhando ou perdendo, eu simplesmente deixava a mesa de jogos lamentando por aqueles homens que ainda ficariam por lá, sem ter como eu, a felicidade de correr para os braços de um amante ardente.
Eu era um bom jogador, e embora algumas vezes a sorte não estivesse ao meu lado eu mantinha os pés no chão, só perdia o que poderia pagar, e no final saía do clube sem dívidas e normalmente com três vezes a quantia de dinheiro que havia entrado.
