Douze

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Passaram-se mais dois meses, o outono se aproximava e Harry e eu continuávamos em Bougival, salvo as raras visitas de Prudency, ninguém mais foi nos ver, coisa que eu agradecia mentalmente

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Passaram-se mais dois meses, o outono se aproximava e Harry e eu continuávamos em Bougival, salvo as raras visitas de Prudency, ninguém mais foi nos ver, coisa que eu agradecia mentalmente.

Seria difícil detalhar nosso dia a dia, porque não nos apegávamos a rotina, também não vivíamos grandes acontecimentos. Andávamos à cavalo ao amanhecer ou íamos pescar no final da tarde. Nadávamos no riacho entre risadas e carícias singelas ou apenas íamos passear de mãos dadas, conversando sobre 'tudo e nada' enquanto explorávamos os recantos daquela cidadezinha pitoresca.

Era o conjunto dos pequenos momentos inesquecíveis que nos fascinava, mesmo que fosse insignificante e pouco glamuroso para quem via de fora.

Harry era uma companhia extremamente agradável e eu poderia passar horas o admirando. Ele apenas se maravilhava, como uma criança, diante das pequenas coisas, seja correndo livremente pelo bosque atrás de uma borboleta ou rolando pelo gramado com um cachorrinho que apareceu por ali, o qual ele nomeou de lou petit, dizendo ser em minha homenagem, em seguida gargalhando descontroladamente ao notar minha cara de incredulidade.

O michê que, no passado, me fez gastar em flores, bombons de cereja e passeios, mais do que uma família inteira gastaria para sobreviver por meses, agora descansava na relva durante horas examinando com admiração as flores silvestres enquanto eu lia para ele um livro de Shakespeare, com o qual eu o presenteei com uma edição especial.

Seus olhos brilhavam emocionados todas as vezes que eu relia um dos seus trechos preferidos que dizia:

"De almas sinceras à união sincera.
Nada há que impeça: amor não é amor.
Se quando encontra obstáculos se altera.
Ou se vacila no mínimo temor.
Amor é um marco eterno, dominante.
Que encara a tempestade com bravura.
É astro que norteia a vela errante.
Cujo o valor se ignora, lá na altura.
Amor não teme o tempo, muito embora.
Seu falange não poupa a mocidade.
Amor não se transforma de hora em hora.
Antes se afirma para eternidade.
Se isso é falso, é que é falso alguém provou.
Eu não sou poeta, e ninguém nunca amou."

— O meu amor por ti nunca irá vacilar, meu príncipe – ele repetia ao final, acariciando meu rosto e encarando fixamente meus olhos. — Mesmo quando enfrentarmos os maiores obstáculos, saiba que eu irei encarar com bravura e a sua felicidade sempre será prioridade para mim – nesse ponto Harry arrastava suavemente seu nariz pelo meu maxilar e inalava com força meu perfume antes de murmurar: — Se um dia o destino nos separar, quero que lembre que o seu lindo sorriso estará guardado em meu coração por toda a eternidade.

Suas declarações me comoviam e me faziam sentir como se o universo me pertencesse, porque de fato aquele belo garoto significava o mundo inteiro para mim.

A intensidade do seu olhar se infiltrava em minha alma de maneira tão profunda que eu poderia me perder facilmente em sua imensidão de mistérios e verdades, de luxúria e inocência.

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