Vingt et un

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23 de agosto

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23 de agosto.

Olá sr. Tomlinson, a partir daqui serei eu, Nina, que darei continuidade a escrita, a pedido de Harry que infelizmente não tem mais condições de fazê-lo. (O mesmo tem me repreendido por chamá-lo de sr. Styles, por isso faço o uso do seu primeiro nome).

Desde o dia em que Harry desobedeceu o médico e foi ao teatro, a tuberculose agravou-se cada vez mais. Ele perdeu parcialmente sua voz e, os movimentos dos seus braços e pernas, estão limitados. O que esse pobre garoto sofre é impossível descrever. Estou transtornada com os horrores que tenho presenciado. Gostaria que o senhor estivesse aqui conosco para trazer-nos um pouco de alento.
Harry quase sempre está inconsciente agora, mas delirante ou não, é sempre o seu nome que pronuncia quando consegue murmurar algo.

Prudency vem poucas vezes lhe visitar, a coitada afirma que não tem condições psicológicas para ver o amigo agonizando. Todos os seus antigos amantes o abandonaram e os ex colegas de profissão, que se diziam seus amigos, lhe viraram as costas. Até mesmo o velho duque Armand veio apenas três vezes.
Os credores estão a espreita, só esperando a morte do garoto para darem início ao leilão, onde serão vendidos os poucos bens que lhe restam. O senhor não pode imaginar no meio de que miséria ele irá morrer.
Seus talheres de prata, os cristais, as jóias, tudo está penhorado ou vendido.

Harry ainda tem consciência do que se passa a sua volta e sofre no corpo, na alma e no coração. Seu maior medo sempre foi morrer sozinho e sem dinheiro sequer para pagar um enterro digno e, pelo jeito, é o que acabará acontecendo. É tão injusto.
Vez ou outra, grossas lágrimas deslizam-lhe pelas faces, tão magras, tão pálidas que o senhor não reconheceria o rosto daquele que um dia tanto amou.
Harry havia me feito prometer que lhe escreveria quando ele já não pudesse, então é sentada na frente dele que escrevo essas tristes palavras, para que saiba que cumpri a minha promessa e isso acalme seu coraçãozinho angustiado.
Quando dirige os olhos para mim, eu não consigo saber se ele realmente me enxerga, pois tem o olhar nublado pela morte eminente, no entanto, quando o vejo dar um mínimo sorriso tenho certeza que está pensando nos momentos que vocês dois passaram juntos.

Raramente alguém bate na nossa porta, porém quando Harry ouve as batidas seus olhos verdes se iluminam, talvez pense que é o senhor quem vai entrar, e quando percebe que se enganou, o seu rosto retoma a expressão dolorosa de sempre, seu corpo se cobre de um suor frio e o vejo ficar agitado tentando, sem êxito, levantar da cama.
Me perdoe sr.Tomlinson, mas as vezes quando o vejo passar horas e horas tossindo e cuspindo sangue, chego a implorar a Deus que tenha misericórdia e lhe dê logo o descanso.

28 de agosto.

Que triste dia foi hoje. Esta manhã, Harry entrou na agonia da morte, o médico foi chamado às pressas e fez alguns procedimentos de sangria, emplastos e administrou um remédio que eu não saberia explicar qual foi, então conseguiu reanimá-lo, todavia, não sabemos por quanto tempo resistirá. Ele tem os olhos fechados e não movimenta nenhum músculo, a única prova de que ainda vive é o chiado alto em seu peito, causado pelo esforço para respirar.

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