Capítulo 3

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Três meses depois...

Durante toda a vida somos postos diante de escolhas. Escolhas grandes, como qual faculdade cursar, onde morar, aonde ir nas férias. E há também as pequenas escolhas. Morango ou chocolate? Branco ou preto? Quente ou gelado?

Nossa vida é norteada por escolhas e, ao contrário do que todos pensam, elas não vivem à nossa espera, somos nós que estamos à mercê de cada uma delas.

Eduardo sabia bem disso.

Não havia sido um adolescente fácil (não que fosse do tipo que roubava ou usava drogas, mas sua simpatia exagerada deixava sua mãe, às vezes, de cabelo em pé), gostava da vida, vivê-la intensamente era seu lema – mas às vezes levava isso a sério demais.

Certa vez, quando ainda era menor de idade, engravidara uma namoradinha, porém não apenas ela, mas engravidara uma segunda menina (também menor), a quem também intitulava namorada.

Mas as gravidezes não vingaram. A primeira decidiu que não ia seguir adiante, e abortou, sem ao menos consultar o pai. A segunda, que morria de amores por ele, decidiu que teria sim o filho, e os três seriam muito felizes, mas o destino não quis assim, e a criança morreu com duas semanas de vida.

Após o episódio nada satisfatório de sua vida, Eduardo decidiu que era hora de tomar as rédeas e honrar as calças que vestia, e mais, honrar o pai que faleceu quando ainda era um menino. Certamente ele não se orgulharia nem um pouco do papel que o filho fazia.

Então ele escolheu o sossego à farra. Passou a se dedicar aos estudos, seguindo o mesmo caminho do pai, formando-se em medicina, mas diferente dele, que era clínico geral, Eduardo se tornou oncologista.

As coisas pareciam ter se ajeitado em sua vida, que agora era bem pacata. Porém, num dia normal, ele se deparou com um anjo. 

Ela não tinha asas, nem auréola, nem ao menos dedilhava uma harpa, mas dançava lindamente, se movimentava sobre seus pés com tanta delicadeza e encanto que ele fez a melhor escolha de sua vida: se apaixonar.

Decidiu fazer daquela mulher seu motivo de adoração. Decidiu que ela seria sua até o último dia de sua vida. Amou-a incondicionalmente e incansavelmente. Entregou a ela não apenas seu coração, mas cada milímetro de seu ser. 

Talvez ele a tivesse escolhido dentre centenas de milhares de mulheres na face terra, mas preferia acreditar que ela fora feita para ele sob encomenda, como um presente divino. O que havia feito para merecê-la? Não sabia explicar, mas era grato, não apenas isso, se sentia honrado por tê-la em sua vida.

— Bom dia, amor da minha vida! – ele a saudou com um sorriso contagiante, beijando a ponta do seu nariz, como fazia diariamente.

— Bom dia – ela respondeu preguiçosa, resistindo abrir os olhos.

— Sabe que dia é hoje? – se acomodou melhor do lado dela. 

— Hum... – ela ficou a pensar na resposta, mas claro que sabia o que aquele dia significava. – Todas as minhas amigas morrem de inveja de mim, sabia? – se sentou, espantando de vez a moleza.

— Ah, é? E por quê?

— Que marido se lembra todos os anos do aniversário de casamento? – sorriu para ele com paixão, com amor.

— Eu faço questão de me lembrar de tudo que diz respeito a você, meu amor – com a voz rouca, ele tocou seu queixo. – Nosso aniversário de casamento, de namoro, seu aniversário, o dia que nos vimos pela primeira vez. Para mim, são datas importantes, não tem como não lembrar.

Suas palavras baixas e sedutoras saíram como uma deixa para selar o momento com um beijo, mas no meio do caminho, ela deteve os lábios do marido com o indicador. Ele a olhou encucado.

Arde Outra Vez Where stories live. Discover now