Capítulo 14

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Era certo que a experiência da gravidez estava sendo incrível. Maria amava ser acordada de manhã com aquele bom dia tão peculiar (um chute na costela), amava olhar seu reflexo no espelho e ver que parecia um pão de hambúrguer (palavras de Biju, não suas), amava até mesmo os pés inchados.

Cada sensação promovida pela gravidez deixava Maria emocionada, mas tinha que admitir que contava os minutos para que, enfim, desengravidasse.

Ela já não mais andava, mas remava. Ia ao banheiro a cada cinco minutos, e o que falar das intermináveis azias? Sem contar a falta de ar.

A gravidez era linda, mas somente nos contos de fada.

Já era janeiro, e enquanto todos faziam planos para o verão, Maria contava todos os dias quantos dias que faltavam para que o bebê viesse ao mundo.

Estava tudo pronto somente à espera dele, ou dela.

— Boa noite, Estevão.

Quando chegou em casa, lá estava ele do mesmo jeito de sempre: focado em alguns de seus estudos.

Maria nem esperou ser notada e logo despencou no sofá.

— Oi, bailarina – respondeu sem olhá-la. – Pensei que minha mãe viesse com você.

— Hoje é a quinta da  jogatina – explicou com a voz arrastada. – Elas até me convidaram, mas estou extremamente cansada.

Ele a olhou por fim.

— Ultimamente você sempre está extremamente cansada – imitou-a, rindo.

— Mas hoje estou ainda mais.

— Deveria ter ido, assim se distrairia um pouco.

— Ah, não – fez uma careta. – Sua mãe e suas tias são barulhentas demais, ainda mais quando estão no vício do jogo.

Os dois riram.

— Ah, senhor doutor, ando sentindo umas cólicas, isso é grave?

Estevão ficou cheio de si. Gostava quando Maria ia até ele pedir informações médicas. Era por motivos óbvios, mas gostava de saber que ela confiava nele, pelo menos no âmbito médico.

— Não, deve ser só contrações de Braxton Hicks – falou calmamente. – São contrações falsas e muito comuns, não precisa se alarmar. Quantos dias faltam para o parto?

— Infinitos cinco dias – respirou fundo, deixando a cabeça pender nas costas do sofá. – Parece que o carnaval vai chegar e esse bendito dia não.

— Você vai sentir falta desse barrigão – ele comentou rindo do extremo cansaço.

— Duvido muito – revirou os olhos. – Bom, vou subir e tomar um banho relaxante. Vai para o hospital ainda hoje? – indagou quando se pôs de pé.

— Não tem uma hora que cheguei de lá.

Maria riu.

— Perdão, para mim você estava aqui ontem. Quando o jantar estiver pronto me chame para jantarmos juntos.

Com certeza que sim.

— Claro – ele respondeu.

— Acho bom sua mãe não tardar na casa de Ester, parece que vai cair um pé d’água – constatou olhando através da grande janela que dava para o jardim. – Bom, até daqui a pouco.

Maria levou cerca de três minutos para sumir da vista de Estevão, ele cronometrou.

Entendia todo seu extremo cansaço, afinal a gravidez não era o mar de rosas que todos descreviam, mas tinha que admitir que sentiria saudade de Maria grávida.

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