Capítulo 13

95 9 4
                                    

Os vinte dias que passou em casa passaram  da forma mais lenta possível. Queria voltar logo ao trabalho, mas não porque estava morrendo de saudades de pôr a mão na massa, mas porque Maria tratou de ficar a par de sua recuperação.

Queria distância da cunhada, só assim abafaria o sentimento que sentia por ela, sentimento esse que crescia cada dia mais, porém Maria insistia em estar próxima dele sempre que podia.

Estevão sabia que ela só queria ser agradável, contudo ela o ajudaria mais se nem sequer o olhasse nos olhos, pois sempre que isso acontecia, seu coração batia com mais intensidade. Suspeitava que, se continuasse assim, teria o mesmo fim de seu pai.

Mas finalmente era hora de retornar ao trabalho.

Embora ansiasse por esse dia com todas as forças (e até mesmo quisesse um plantão de, pelo menos, uma semana) havia uma tristeza brotando em seu peito.

Não veria mais Maria todas as manhãs. Não jogaria conversa fora com ela. Não receberia suas mensagens dizendo que era a hora do remédio. Talvez fosse meio louco, mas achava que uma das melhores coisas que havia acontecido em sua vida foi ter quebrado o braço.

O amor estava deixando-o indeciso, e essa era uma coisa que odiava: indecisão.

Hora queria estar longe de Maria. Saber que jamais seria sua, que jamais poderia tê-la, o feria da forma mais cruel possível. Tinha certeza que fazer planos ao seu lado era loucura, mas Estevão acabara de descobrir que gostava de sofrer.

Mas ao mesmo tempo a queria por perto. Se era somente um diálogo e alguns risos que teria dela, estava se apegando a qualquer migalha.

— Surreal essa história que você está me contando – constatou Jorginho perplexo. – A cada segundo que passa fica mais difícil de acreditar em você.

Estevão acabara de contar ao colega de trabalho o que acontecera nos últimos dias. Havia tanta leveza em sua voz, que nem parecia que falava do mais absurdo que sobreviera em sua vida.

— Acredite se quiser – disse simplesmente dando de ombros.

— E você fala isso assim, com a cara mais lavada? – protestou. – Custava ter me ligado e me dito isso antes?

— Ah, por favor, Jorginho – Estevão se levantou e se serviu com um copo de água. – Acha mesmo que eu ia ligar para você dizendo que estou completamente apaixonado pela minha cunhada? – o encarou com desdém.

— E qual o problema nisso? – deu de ombros. – Somos amigos, ora.

— Amizade tem limites – afirmou e voltou para seu assento.

Os dois não disseram nada por vários segundos. Jorginho olhava para o celular desligado em sua palma, mas notava-se que sua mente estava longe. Quando começou a rir, Estevão o encarou com medo, como se achasse que estava ficando louco.

— Posso saber o motivo dos risos?

— Sabe, minha filha adora criar romances na cabeça dela, e ela sempre me conta – deixou o celular sobre a mesa que os separava – mas em todo esse tempo ela nunca inventou uma história tão... Tão... – as palavras lhe faltaram.

— Absurda? – ajudou-o Estevão. – Sim, absurda, porque tudo isso não passa de um completo absurdo. Já não aguento mais passar o dia inteiro pensando nela. Acho que estou igual sua filha, criando uma história na minha cabeça que nunca vai acontecer – ele riu, mas sua vontade era mesmo de chorar.

— Já pensou em fazer alguma coisa a respeito?

Ele assentiu.

— Liguei para Paloma, uma namoradinha que tive quando morava na Alemanha, pedi que viesse ao Brasil para nos acertarmos, mas ela cagou para mim. Disse que quando queria vir, eu não queria, e agora é ela quem não quer.

Arde Outra Vez Where stories live. Discover now