Capítulo 6

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Um mês em casa e não tinha o que reclamar, mas claro que ele reclamaria do calor em excesso, das pessoas falando alto demais, da mãe se metendo em sua vida diariamente, afinal, esse era Estevão.

Estava rodeado pela família, a quem tinha muito apreço. Por um momento havia se esquecido o quanto amava todo aquele calor peculiar dos San Roman, até mesmo o grude – que ele sempre julgou desnecessário – se dera conta que sentira falta.

Chegou a achar que sua volta ao Brasil seria um erro, e mesmo que estivesse colocando sua mãe em primeiro lugar, se arrependeria amargamente da decisão, mas aquele mês provou a ele que sua atitude visando a família fora muito bem vista, e as forças do universo resolveram presenteá-lo fazendo-o se sentir em casa, de verdade.

Contudo, se ele pensava que a Alemanha ficaria para trás e passaria a existir somente em sua lembrança, estava enganado.

Depois de um dia de cão (isso certamente não era um dos motivos que o faria reclamar, ele amava os dias de trabalho pesado) no hospital em que trabalhava, voltou para casa satisfeito, tendo a certeza de que ninguém o tiraria do sério. 

Bom, a não ser uma ligação inesperada de uma quase noiva histérica, implorando para que ele tornasse a cruzar o oceano. Isso foi motivo suficiente para Estevão sair bufando em passos largos para o jardim, ignorando completamente a chamada que ainda estava ativa.

Porém as surpresas não pararam por aí.

Se tinha uma coisa na vida que ele odiava mais do que café, era que o equiparassem a seu irmão. Amava Eduardo com todas suas forças, daria sua vida por ele se fosse preciso (e como ele queria que fosse), mas, por Deus, odiava que comparassem os dois  com a mesma intensidade que o amava. O simples fato de trocarem os nomes já o deixava encolerizado.

Mas não foi o que aconteceu naquele dia.

Não odiou a estranha que o agarrou por trás, a estranha que suspeitava ser a esposa do irmão pela forma que o abraçou, e claro, por tê-lo chamado pelo nome dele.

Estevão acabou achando graça da situação. Esqueceu-se do contratempo que tivera com Paloma e riu, o que era algo raro da parte dele.

Sem mais razões aparentes para ficar olhando para o nada no escuro, entrou. Era o mais sensato a fazer, antes que alguém o confundisse uma vez mais e, a não ser que fosse uma morena exuberante, ele não tinha certeza se aceitaria de bom grado que trocassem seu nome.

— Ah, olá filho – Carmen, que ia  passando, parou ao vê-lo tranquilo, mexendo no celular. – Pensei que chegaria mais tarde hoje – se acomodou na outra  ponta do sofá em que ele estava.

— Oi, mãe – sorriu preguiçosamente. – Estava tudo tranquilo por lá então resolvi sair mais cedo.

— E pode isso? – sua feição ficou um tanto confusa.

— Não sei – respondeu ele, dando de ombros – vou descobrir amanhã quando vir meu superior.

Ela gargalhou, ele só elevou um canto do lábio.

— Ah, acabei esquecendo de te falar, Maria, a esposa de Eduardo – maneou a mão no ar, como se explicasse o que era óbvio – está para chegar a qualquer momento. Falei com ela há umas duas horas, e ela disse que já estava saindo da casa mãe.

Mas Estevão não disse nada, apenas ficou encarando-a. Ele quase deixou escapar “o que eu tenho a ver com isso?” mas lembrou-se rapidamente que a mulher que estava à sua frente tinha lhe dado a vida, e podia muito bem tirá-la quando bem entendesse.

— Filho – ela se achegou a ele, com um tom que ele sabia que significava que vinha sermão – por favor, será que você pode ser um pouco agradável com ela? – o sermão virou um pedido encarecido. – Ela não te conhece, talvez não compreenda seu jeito assim...

Arde Outra Vez Where stories live. Discover now