Capítulo 11

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Se tinha uma coisa que Estevão amava mais que a ele mesmo essa coisa era seu trabalho.

Nunca houve dúvidas sobre qual carreira queria seguir. Poderia ter vacilado um pouco quanto a especialidade, mas sempre soube que seu lugar era dentro do hospital, mesmo que fosse para limpar o chão.

O local temido e evitado por todos era sua segunda casa (ou talvez a primeira, já que ele passava mais tempo no hospital do que na própria casa). Era ali onde ele se sentia útil, vivo. Ele devolvia a vida às pessoas (na maioria das vezes, graças a Deus), devolvia os sorrisos. Não havia uma hipótese, por menor que fosse, de ele não amar seu trabalho.

Porém, às vezes, queria se desligar um pouco da rotina caótica – e adorada. Queria chegar em casa e ser apenas um Estevão leigo, sem preocupação com pacientes que ficaram lá, sem querer aprender algo mais para ser o número um, o melhor da sua área, mas ele simplesmente não conseguia.

Quando Maria falou com ele, podia afirmar com certeza de que ela não queria orientação médica, ela queria apenas falar, e então bastou apenas um segundo para que vestisse seu jaleco invisível, pegasse seu estetoscópio e o super médico entrava em ação.

Foi mais forte que ele e quando percebeu, quase esganava a cunhada pela imprudência.

Ao se dar conta que se excedia tentou agir como um ser humano normal agiria. Buscou ser sua mãe naquele momento e fazer o que possivelmente ela faria.

Uma sopa era uma boa opção.

Maria reclamou fazendo jus a maior qualidade das grávidas, mas aceitou no fim, afinal, ela não tinha muita opção.

Enquanto ela subia para o quarto, Estevão foi solicitar a sopa.

— O que vamos ter para o jantar hoje? – perguntou bem humorado logo que entrou na cozinha.

As três mulheres que ali estavam estranharam. Estevão não era daquilo. Não entrava na cozinha, e não era bem humorado.

— Sua mãe pediu que fizesse uma lasanha de berinjela – Cida, a mais velha das três, respondeu, mas o olhava com desconfiança.

— Será que você pode fazer uma sopa de legumes? – pediu ele, dócil, enquanto roubava uma maçã do cesto de frutas.

— Sopa? Mas está um calor danado! – Cida exclamou.

As outras duas concordaram veementemente.

Estevão riu. Maria dissera a mesma frase há poucos minutos.

— É para Maria. Ela não está comendo direito, acho que uma sopa bem leve cairia bem.

Elas assentiram.

Estevão falou mais meia dúzia de palavras e voltou à sala, ainda tinha uma bagunça para tirar do sofá, ou levaria um puxão de orelha de dona Carmen, como acontecia vez ou outra quando ainda era uma criança.

Porém mal chegou ao cômodo e viu algo que tirou sua cor.

Olhou para a escada e lá estava Maria, branca como cera e se bem estava vendo, sem segurança nenhuma nas pernas.

Notou que ela não estava bem e sem perder mais tempo subiu os degraus de dois em dois, chegando bem no instante em que ela sucumbiu em seus braços desmaiada.

— Maria, meu Deus! – gritou ajeitando-a em seus braços.

Ele foi rápido.

Mesmo com o coração a mil diante daquela cena tão incomum, Estevão não se deixou abater, mais que nunca o médico deveria vir à tona e agir como tal, e assim ele fez.

Arde Outra Vez Where stories live. Discover now