Capítulo 9

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A coisa mais sensata que Maria fez foi não olhar para trás, pois imaginava que se o fizesse, encontraria um Estevão possesso de ódio com o único desejo de exterminá-la da face da terra de forma bem lenta.

Chegou ao andar de cima em questão de segundos, e por fim pôde respirar, algo que não fazia direito há algum tempo. 

Ela mal teve tempo de se recuperar e Biju, que havia chegado em casa com ela, já estava saltitando ao seu redor, como uma adolescente histérica – tirando a parte do adolescente, era isso mesmo que Biju era.

— Eu. Não. Acredito. Que. Você. Fez. Aquilo. – falou lentamente cada palavra numa euforia fora do comum.

Maria exibiu um sorriso amarelo.

Enquanto Biju falava um monte de coisas que Maria não soube discernir, ambas entraram no quarto de Maria.

— Não sei de onde surgiu coragem para fazer o que fiz – Maria admitiu, rindo. – Nunca agi assim com ninguém, e do nada... – ergueu as mãos ao alto, buscando explicações.

As duas se sentaram na cama, uma de frente para a outra.

— Eu amo o primo Estevão, mas ele bem que mereceu – deu de ombros. – Olha só – estendeu o celular na direção dela – filmei tudo, tudinho.

Enquanto Maria assistia ao vídeo sentiu uma coisa diferente de minutos antes. Era como se todo seu sangue se concentrasse em seu rosto, porque o mesmo estava em chamas. Há dez minutos tivera uma coragem danada para lidar com Estevão, agora se sentia envergonhada vendo aquelas imagens.

— Ainda sem acreditar – um ruído parecido com um riso saiu de sua boca. 

— Que tal se mandássemos esse vídeo para o grupo da família, hein? – encarou-a com os olhos cheios de maldade.

— Pensei que amasse o primo Estevão – tentou imitá-la. – Mas não, não vamos passar esse vídeo adiante.

— Por que não? – os olhos dela saltaram e o queixo caiu.

— Porque não, Biju – colocou uma mecha do seu cabelo atrás da orelha, apenas para ganhar tempo, apenas para buscar dentro de si algo que fosse coerente ao que acabara de dizer. – Quero dar um basta nesse assunto. Estevão agiu errado, mas acabou pagando pelo que fez.

— Você é uma estraga prazeres, viu – fitou-a com os olhos estreitos.

— Me manda o vídeo e depois exclui – exigiu.

— Ah, não, Maria – Biju balançou a cabeça contrariada.

— Sim, senhora – Maria estava implacável. – Vamos logo, não quero que esse vídeo circule por aí e Estevão tenha mais um motivo para me odiar.

O assunto se encerrou ali mesmo. Mesmo contra sua vontade, Biju acatou o pedido de Maria. Enviou-o a ela e o excluiu logo após. Dava para ver os vestígios de dor no semblante dela ao fazer tamanha sandice. Em que mundo se jogava fora algo que poderia envergonhar um membro de sua família?

...

Dias se passaram desde o ocorrido.

Como havia combinado, Carmen voltou a falar com o filho, mas antes disso, deu-lhe uma boa bronca, um sermão longo, interminável, como se ele tivesse dez anos. Ela só o deixou ir quando teve certeza que não agiria daquela forma nem com Maria e nem com ninguém.

A relação de Estevão e Maria continuou como estava: nula, inexistente. Ambos faziam questão de se evitarem e quando não conseguiam, apenas acenavam com a cabeça, e tudo bem.

Mas Maria não era do tipo que deixava as coisas mal resolvidas. Iria mais uma vez até ele, mas dessa vez contaria com a ajuda divina, pois para enfrentar o mal humor dele, era só com força máxima.

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