Capítulo 7

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Depois que Maria saiu do seu quarto, Estevão ficou durante um tempo considerável pensando e analisando cada afirmativa – e acusação – sua, e chegou à conclusão de que ela poderia ter razão. Mentira, ele só achou que ela fosse presunçosa demais.

Pessoas não eram o tipo de coisas que Estevão gostava muito (com exceção da família, claro), mas após a conversa nada convencional que tivera, se dera conta que estava certo sobre sua repulsa por esses seres. 

Para ele, apenas sua família merecia seu respeito – e crianças também, embora fosse um tanto carrancudo, amava crianças – e como cunhados não podiam se considerar como parte da família, Maria estava na lista oposta a eles.

Mas naquela noite, ela o fez perder o sono.

— Bom dia, Maria – ele cruzou seu caminho propositalmente, sorrindo para ela de modo estranho.

— Bom dia? 

Mesmo não o conhecendo totalmente, ela estranhou aquele sorriso excessivo.

— Queria que me acompanhasse a um lugar – ele se pôs ao seu lado, e ambos passaram a caminhar juntos rumo à garagem.

Maria o encarou com certa desconfiança.

— Fica tranquila – sorriu uma vez mais. – Não pretendo te raptar e te esquartejar, até porque se fizer isso, minha mãe, minha vó, minhas tias e minhas primas fazem o mesmo comigo logo em seguida.

Estevão parecia convincente, pois fez Maria rir de seu comentário.

— E então?

Ela não teve outra saída, a não ser entrar no carro dele.

Não tiveram assunto no decorrer do caminho, então seguiram num silêncio bastante desconfortável. Mas para sorte deles, até que não tardaram em chegar.

— Você me trouxe a um hospital? – se virou de repente para ele quando estacionou o carro.

— Não é um hospital qualquer, é o hospital que eu trabalho – rebateu com orgulho. – Vem comigo.

Mais uma vez o silêncio constrangedor se instalou entre eles.

Caminharam um pouco, subiram alguns andares, e Maria se surpreendeu quando se deparou com um Estevão extremamente educado cumprimentando cada funcionário que via. 

Por fim chegaram onde ele queria.

— Bom – o sorriso estranho ainda se fazia bem presente em seu rosto. – Quero que conheça algumas pessoas.

Maria o seguiu de perto. Não sabia exatamente o porquê, mas havia algo de sombrio pairando naqueles corredores frios.

Pararam na frente de um quarto. Não entraram, mas passaram a observar seu interior da abertura central da porta.

— Aquela ali é a Isabela – olhou para ela; por um ínfimo de segundo, Maria chegou a achar que aquele sorriso poderia ser sincero. – Chamamos ela carinhosamente de Bela. Ela nasceu com um problema no coração e teve que fazer um transplante.

Ele fez uma pausa e durante poucos minutos, ficaram apenas olhando a menininha no quarto, acompanhada da mãe, que parecia muito aflita.

— Ela ficou bem com o coração transplantado durante três meses, – ele continuou, mais sério – mas o corpo rejeitou o órgão e agora ela está ligada a uma máquina enquanto espera outro coração.

— E por que não fazem essa cirurgia logo? – Maria perguntou tão aflita quanto a mãe da menina.

— Não se encontra um coração em cada esquina, Maria.

Arde Outra Vez Where stories live. Discover now