Capítulo 10

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Àquela altura do campeonato, Maria já tinha dado um jeito de criar anticorpos contra Estevão San Roman. Vira de perto o quanto ele podia ser arrogante e mesquinho, e não queria mudar isso, só não ia permitir se abalar por tamanha falta de empatia.

Jurou que jamais iria se surpreender com qualquer atitude dele, mas dadas as circunstâncias, ela tinha que reconhecer que sim, ele havia a surpreendido de novo, mas para sorte dele, havia sido positivamente.

Maria não conseguiu esconder seu espanto diante das últimas palavras do cunhado. Abriu a boca uma série de vezes antes de falar algumas palavras balbuciadas:

— Eu... Você... – exibiu um sorriso nervoso. – Não estou te entendendo, Estevão – disse por fim, quando se deu conta de que tinha acabado de desaprender a falar.

Estevão sorriu. Havia gostado da sensação de deixar a cunhada sem palavras.

— É isso mesmo que ouviu, Maria. Peço desculpas pela minha falta de modos com você desde que nos conhecemos – havia sinceridade nas palavras e no olhar. – Você estava certa quando me disse que merecia respeito e não devia implorar por isso.

— Pensei que havia feito papel de boba naquele dia quando joguei as fotos em cima de você – riu, se esquecendo por um instante o quanto aquela cena havia sido constrangedora. – Mas pelo visto, fiz você pensar.

Ele assentiu.

— Percebi que não estava sendo o bam, bam, bam, mas sim um grande idiota.

Ela assentiu.

Os dois riram. 

Pela primeira vez riram juntos.

— Será que pode livrar esse pobre homem deste calvário? – tocou seu próprio peito, fingindo-se comovido.

— Pobre homem? Tá bom – riu. – Claro que te desculpo, mas não faço isso por você, faço porque sou uma alma boa e não guardo rancor de ninguém, nem de um cunhado sem noção.

Era certo que existia uma muralha entre Maria e Estevão e, possivelmente, precisaria mais que um pedido de desculpas para derrubá-la, mas, sem que notassem, o primeiro passo havia sido dado e uma boa parte daquele muro enorme começava a ruir.

Os dois ficaram se encarando durante cinco segundos, que mais pareceram cinco horas. Ele estendeu a mão para ela, com a intenção de acabar com o incômodo que se instalou.

— O que é isso? – ela perguntou olhando a mão dele em sua direção.

— Quero selar meu pedido.

— Ah.

A mão de Maria foi de encontro a dele.

Quando a apertou, Maria sentiu algo estranho, como se tivesse levado um choque. Fitou Estevão, mas ele não parecia ter a mesma sensação que ela.

— Bom – pigarreou, recolhendo sua mão – acabei acabando com seus planos de almoço, podemos almoçar juntos, se quiser.

Maria levantou discretamente uma de suas sobrancelhas. Não queria ser injusta julgando Estevão, mas aquele ser humano à sua frente não parecia ser o homem que, até poucos minutos, a odiava sem reservas. Certamente algum extraterrestre havia abduzido o velho Estevão à noite e deixado aquele ali, totalmente diferente do cunhado a que estava habituada.

— Maria? – estalou os dedos na frente do seu rosto, tirando-a do seu transe.

— Oi? 

— E então, quer almoçar comigo?

— Claro – respondeu com um sorriso cortês.

...

A nuvem negra que pairava sobre Estevão e Maria parecia se dissipar.

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