Capítulo 1

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Acordo com o despertador do meu telefone apitando em meu ouvido

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Acordo com o despertador do meu telefone apitando em meu ouvido. Sonolenta deslizo a mão sobre a tela para que pare com o barulho. Olho no visor e vejo que são cinco horas da manhã. Me levanto e caminho para o banheiro para me lavar. Se não fizer isso, chegarei atrasada na faculdade.

Me chamo Antonella Menezes e sou estudante de moda. Moro em Paraisópolis, a maior favela de São Paulo. Vivo com meu padrasto e sua nova mulher. Minha mãe faleceu há três anos, deixando a mim e meus irmãos aos cuidados de Maycon. Olho no espelho e vejo minha cara cansada. Essa rotina de acordar todos dias as cinco e dormir quase a meia noite está acabando comigo. Mas não posso desistir, não agora que estou prestes a realizar meu sonho de conseguir sair desse lugar.

Escovo meus dentes e prendo meu cabelo num coque improvisado. Visto uma camisa e uma calça jeans. Pego minha jaqueta e minha mochila. Procuro fazer o mínimo de barulho para não acordar Vanessa, a atual de Maycon, se isto acontecer sei que terei que ouvir seus despautérios e hoje não estou afim disso, preciso estar com psicológico bom para a prova que terei.

Saio de casa e caminho até a avenida Giovani Gronchi para pegar o coletivo, cerca de meia hora depois estou na estação do metrô, a viagem dura vinte minutos , desço no meu destino e caminho mais alguns minutos até estar na faculdade.

― Nossa Nella! Que cara péssima! – ouço Betina dizer

―Bom dia pra você também. – digo

―Você está acabada. O que aquela mulher fez dessa vez? – pergunta se referindo a Vanessa

―O mesmo de sempre. Sabe Tina, estou ficando cansada de ouvir tantas baboseiras e xingamentos daquela mulher. – digo bufando enquanto caminhamos até a cafeteria

―Já era hora! – Betina fala lançando as mãos para o alto ―Não sei como aguenta.

―Você sabe que ainda não saí daquele lugar porque prometi a minha mãe que cuidaria dos meus irmãos. – falo assim que chegamos a cantina

―Eu sei... eu sei... Mas no seu lugar, falaria poucas e boas para aquela zinha. – completa e sorrio

―Dois pingados e dois pães na chapa por favor. – peço para atendente e nos sentamos numa mesa próxima

― Você está certa. Mas falta tão pouco para conseguir sair daquele lugar, que não quero botar tudo a perder. Se a Vanessa ou o Maycon descobrem sobre isso, sabe se lá o que podem fazer pra me impedir. – digo e logo a atendente traz nosso pedido

― Mas você acha que eles podem tentar fazer alguma coisa? – pergunta com um pedaço de pão na boca

― A Vanessa eu não sei. Mas conhece a fama do Maycon. Melhor me prevenir. – respondo e tomo um gole do café

Começamos a conversar sobre outros assuntos, principalmente sobre a prova que teríamos mais tarde. Por mais que tenha estudado, ainda me sinto insegura.

― Amiga é melhor irmos. Não quero chegar atrasada na aula daquela peste. – fala e começo a rir.

Levantamos e vamos em direção a nossas classes. As primeiras aulas pareceram se arrastar, mas as últimas voaram. Quando dei por mim, a professora estava dizendo para entregarmos as provas.

Assim que olho as horas no relógio, corro para saída porque sei que tenho cerca de quinze minutos de caminhada antes de chegar ao ponto de ônibus. E se perder essa condução, terei que aguardar mais quarenta minutos até a próximo passar e se chegar atrasada na loja em que trabalho mais uma vez posso ser demitida. Ando o mais depressa que consigo e graças a Deus consigo pegar o ônibus. Meia hora depois estou entrando na Rua São Caetano, mais conhecida como a rua das noivas.

―Ainda bem que chegou, Antonella. Nossa cliente das treze horas está para chegar. – minha gerente fala ― Trate de deixar tudo preparado para recebe-la. É uma cliente importante e quero que tudo esteja impecável.

―Claro senhora Bourjois. – respondo

Vou para os fundos da loja afim de fazer o que me pediu. Coloco meu uniforme e deixo preparado o espumante que servimos somente para as pessoas que ela acha importante. Deixo as taças preparadas e vou para cozinha preparar a bandeja com os canapés que serão servidos. Também preparo uma jarra de suco e procuro pela água mineral na geladeira e não encontro.

―Senhora, nossa água mineral acabou. – aviso a gerente

―Então o que está esperando. Vá ao mercado comprar. – responde com rispidez

―Claro senhora. – digo e saio para comprar.

No caminho, encontro alguns conhecidos e aceno cumprimentando-os. Chego ao mercadinho e sou recebida pelo dono.

― Boa tarde seu Luiz. Tudo bem com o senhor? – cumprimento-o

―Boa tarde menina Antonella. Já sei, veio buscar água para aquela megera. – diz fazendo graça

―Não fale assim da senhora Bourjois. Ela não é tão má assim. – digo e ele me olha enviesado ― Tá bem. Mal-humorada quem sabe. Mas não uma megera.

―Menina, você é muito boa para esse mundo. – diz me ajudando a pegar um fardo de água ― Da próxima vez, me mande uma mensagem que levo a água para você.

―Não precisa seu Luiz. Eu gosto de vir aqui. Na verdade, são esses poucos momentos em que consigo sair da loja. – digo entregando o dinheiro para pagar

― Aqui está seu troco. Pois então, invente mais algumas coisas para vir me visitar. – diz

― Vou pensar em alguma coisa. Obrigada seu Luiz e bom trabalho. – me despeço

― Um bom trabalho para você também menina. Que Deus te acompanhe. – ouço o falar assim que saio do recinto

Caminho de volta o mais rápido que posso, não quero ouvir as reclamações da senhora Bourjois. Ando meio desajeitada carregando o fardo de garrafas em meus braços. Apesar das poucas garrafas é muito pesado. Quando estou a atravessar a rua, tenho a sensação de estar sendo vigiada como das outras vezes. Olho para os lados e não vejo ninguém. Deve ser coisa da minha cabeça. Chego ao atelier e começo meu trabalho.

A herdeira perdida da máfiaWhere stories live. Discover now