Capítulo 23

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Passaram-se alguns dias desde a última vez que troquei palavras com Antonella. O silêncio que se instalou entre nós é como uma névoa densa, pairando no ar, deixando-me em suspense. Sinto o peso da incerteza em meus ombros, mas conheço Antonella o suficiente para entender que ela não é do tipo que foge de suas responsabilidades. Sei que o acordo que temos pendente não será deixado de lado.

O incidente no Kremlin adicionou uma dimensão inesperada a essa espera. O ataque ao coração do poder russo trouxe uma reviravolta inesperada aos nossos planos. Enquanto o mundo está focado nos desdobramentos políticos, eu aguardo, ciente de que Antonella não permanecerá em silêncio por muito mais tempo.

Quando o tão aguardado contato acontecer, antecipo um encontro carregado de tensão. Cada palavra terá que ser escolhida com cuidado, cada movimento será estratégico em nosso jogo de interesses. Eu, Federico, me preparo para esse confronto, sabendo que as negociações não serão simples.

E então, há a perspectiva de conhecer meu filho. Uma semente plantada no passado, agora prestes a florescer. A ideia de olhar nos olhos da vida que ajudei a criar mexe comigo de maneiras indescritíveis. Tenho me perguntado: Como eu, o homem que vive nas sombras, reagirei ao encarar a humanidade e vulnerabilidade de ser pai?

A expectativa se mistura com a ansiedade. Conhecer meu filho é uma revelação que transcende os acordos secretos e os jogos de poder. Será um momento de verdade, um instante onde a frieza do negociador cede espaço à emoção crua.

Independentemente do que o futuro reserva, estou pronto para enfrentar os desafios que se apresentam. Navegarei pelas águas incertas do destino, ciente de que, neste jogo complexo da vida, algumas cartas ainda estão por ser reveladas.

Sentado à mesa do Lido Al Mare, a brisa do Mediterrâneo sussurra segredos enquanto me perco na magnificência da pasta com mexilhões. O coração apertado, ansioso pelos desdobramentos do incidente na Rússia que se desenrolam como um drama sombrio.

A tela do meu telefone ilumina a penumbra do restaurante, e a esperança e o medo se misturam quando vejo o nome de Antonella. Ela, a artífice de tantas fugas, pede um encontro no Anfiteatro de Riace, um palco grandioso para as reviravoltas da nossa história. Às três da tarde, como se o tempo pudesse ser domado.

A visão do Mediterrâneo torna-se um cenário de incertezas enquanto aguardo a visita do informante, minha única conexão com a verdade por trás do véu de mistério. A pasta, antes magnífica, agora é apenas uma distração para a angústia que me consome.

Envio a confirmação da minha presença, um ato de rendição à incerteza que Antonella traz consigo. Meu filho, peça frágil nesse quebra-cabeça, será levado para o palco dessa reunião, e eu me vejo à mercê das marés da sua vontade.

Resta-me esperar, com o coração na boca, a hora marcada no Anfiteatro de Riace. O sol do Mediterrâneo lança sombras sobre minha inquietude, enquanto o destino se desenha no horizonte incerto.

O aroma do mar, misturado com a tensão no ar, cria uma atmosfera densa e imprevisível. Minha mente divaga entre lembranças de momentos felizes com Antonella e a angústia de saber que nosso filho é o peão nesta disputa complexa.

A ansiedade aumenta a cada segundo, até que finalmente avisto a silhueta familiar do meu informante se aproximando. Ele emerge das sombras, um homem sombrio com olhos atentos e uma pasta de couro desgastada.

Buon pomeriggio – o homem diz ao se aproximar e aceno com a cabeça e ele se senta

― Então o que descobriu? – pergunto

― Você não vai acreditar no que descobri. - diz ele, a expressão séria denunciando a gravidade das notícias.

A urgência nas suas palavras desperta minha atenção quando ele começa a relatar o que encontrou nas entranhas do incidente em Moscou.

A herdeira perdida da máfiaDove le storie prendono vita. Scoprilo ora