Capítulo 26

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Caminho pelo corredor frio e impessoal da prisão, meu coração pesado com a magnitude do que estou prestes a enfrentar. Ao chegar à cela onde Mikail está detido, sinto uma mistura de emoções, desde a raiva até a necessidade de entender o que levou a tal desdobramento.

Mikail está sentado em um banco estreito, seus olhos encontrando os meus quando me adentro a cela. O ambiente é frio e impessoal, mas a tensão entre nós é palpável.

— Antonella... - começa Mikail, sua voz carregada de pesar.

O encaro, buscando respostas nos olhos que costumava conhecer tão bem. A confusão domina meus sentimentos, mas estou decidida a compreender o que o levou a tomar decisões tão extremas.

— Por que, Mikail? Por que atacar o Kremlin? Por que envolver Matteo nisso? - questiono, minha voz trêmula, mas firme.

Mikail suspira, um gesto de resignação que contrasta com a expressão tensa em seu rosto.

— Antonella, eu... eu não sabia como mais chamar a atenção do governo russo para a discriminação que enfrentamos. Sergey e eu estávamos cansados de esconder quem somos. - explica, os olhos fixos em mim.

Me aproximo da grade, olhando-o com incredulidade.

— Você escolheu atacar o Kremlin? Pôr em risco não apenas a sua vida, mas a de Matteo e a nossa família? Por que não falou comigo, Mikail? - pergunto, buscando uma explicação que faça sentido.

Mikail abaixa o olhar, a culpa pesando sobre ele.

— Eu achei que, se o governo russo visse o que estávamos dispostos a fazer, eles teriam que reconsiderar suas políticas discriminatórias. Eu estava tentando criar um futuro em que pudéssemos viver sem medo. - justifica, sua voz carregada de desespero.

Sinto uma mistura conflitante de emoções. A compreensão começa a se misturar com a indignação, mas o núcleo da questão ainda permanece distante.

— Mikail, você escolheu um caminho perigoso, um caminho que afetou a vida de todos nós. Por que não compartilhou isso comigo? Poderíamos ter encontrado outra maneira. - digo, buscando uma conexão que agora parece distante.

Ele levanta o olhar, a tristeza evidente em seus olhos.

— Eu temia perder você, Antonella. Eu temia que você não compreendesse. - confessa, a vulnerabilidade em sua voz revelando a profundidade de seu medo.

Me afasto, processando as palavras e as revelações. A complexidade da situação é avassaladora, e me pergunto como seguir em frente a partir desse ponto.

— Mikail, o que aconteceu foi um erro grave. Agora, precisa lidar com as consequências. - declaro, uma decisão firme em sua voz.

Me viro para sair, deixando Mikail na cela fria. As grades separam não apenas nossos corpos, mas também os caminhos que escolhemos seguir. O futuro, agora mais incerto do que nunca, se desenha diante de mim, exigindo-me a coragem para enfrentar as escolhas que moldarão o destino de minha família.

O portão da prisão se abre, me libertando para a atmosfera fria da tarde. Caminho pelo estacionamento, cercada pela incerteza de meu futuro. No entanto, minha jornada não permanece solitária por muito tempo, pois Alexander Orekhov, até então meu sogro, me aguarda do lado de fora, com uma expressão séria, mas compreensiva.

— Antonella, lamento profundamente por tudo o que aconteceu. - diz, sua voz carregada de simpatia genuína.

Olho para ele, buscando nas linhas do rosto envelhecido uma pista de julgamento. Em vez disso, encontro um olhar compassivo que me surpreende.

A herdeira perdida da máfiaWhere stories live. Discover now