Sabia que em algum momento a bella ragazza a minha frente perguntaria algo sobre mim. Começo a lhe contar a história que venho ensaiando há algum tempo. E um bom segredo ao se contar uma mentira é colocar algo verdadeiro nela.
― Nasci num vilarejo na região de Locri na Itália. – falo
― Nossa! Então você é italiano! Mas nem consegui perceber. Você consegue disfarçar bem o sotaque. – a ouço falar entusiasmada
― Tomarei isso como um elogio. – falo com um sorriso de lado ― Meus pais, principalmente meu pai, fizeram questão de que meus irmão e eu, fossemos versados em outras línguas. E isso incluía aprender a neutralizar nosso sotaque para que pudéssemos passar por nativos. – explico
― Interessante. – diz olhando em meus olhos ― Aprendi um pouco de italiano com minha mãe, mas o sotaque ainda me denuncia.
― Posso lhe ajudar com isso. Claro se você quiser. – digo
― Adoraria. Mas agora, me conte mais. Seus pais ainda são vivos? – questiona e então começo a lhe contar sobre a minha vida.
Claro que omiti tudo o que fazemos, não poderia lhe contar de como podemos ser cruéis e toda a atrocidade que nos cerca. De certa forma, gostaria que minha infância e juventude tivessem sido como na história que acabei de contar.
― Deve ter sido maravilhoso crescer numa família grande como a sua. – fala e vejo seus olhos brilharem.
― De certa forma sim. – minto tentando não lembrar as sessões de tortura e treinamento ao que fui submetido enquanto crescia.
De repente vejo que se dar conta de algo e ficar agitada.
― Meu Deus! Madame Bourjois irá me matar. – diz olhando para o relógio
― Não se desespere. – digo e a vejo se levantar
― Como não. É a segunda vez que me atraso hoje. – responde exasperada
― Calma, Antonella. Eu te levo até o ateliê e converso com ela. – digo para acalmá-la
Saímos apressadamente do restaurante e em alguns minutos estamos no ateliê. Antonella é a primeira a descer e antes que possa fazer o mesmo, a vejo passar pela porta. Saio do carro e entro no local.
― Isso são horas de se chegar, Antonella. Tive que dispensar alguns clientes porque a senhorita ainda não havia chegado. – escuto a mulher esbravejar com seu falso sotaque francês ― Saiba que descontarei esse atraso do seu salário.
― Me desculpe Madame Bourjois. Não irá se repetir. – vejo uma Antonella cabisbaixa falar e sinto meu sangue ferver com a intimidação que essa senhora está fazendo. Pigarreio para que perceba minha presença e ela manda Antonella se afastar, sendo obedecida de imediato.
― Boa tarde, senhor. – diz com um sorriso falso ― Em que posso ajudar?
― Boa tarde, Madame. – respondo polidamente ― Peço perdão pelo atraso de Antonella. Saímos para almoçar e perdemos a noção de tempo. – digo e percebo que a mulher está impactada com a minha figura
― Não precisa defendê-la. Sei como lidar com esse tipo de gente. – esnoba
― Sei que sabe. Mas realmente quero me desculpar por ter feito a bela Antonella se atrasar. – digo e vejo revirar os olhos
― E eu poderia saber quem é você? – pergunta
― Federico Macri. – respondo e ela engole em seco
KAMU SEDANG MEMBACA
A herdeira perdida da máfia
RomansaAntonella Menezes foi criada em meio as pessoas da maior favela de São Paulo. Desde de pequena teve que mostrar ser uma pessoa valente para sobreviver em meio a violência e o preconceito das pessoas. Só não sabe que sua história está prestes a sofre...