Capítulo 19

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Mamãe, quando a gente vai voltar para a casa? – escuto meu pequeno mal'chik perguntar― Em breve meu amor. – ouço Antonella responder. Sei que não deveria estar escutando por detrás da porta, mas não consigo evitar. — Mamãe? Por que algumas pessoas não têm cabelo? - rio da indagação de Matteo— Como assim? - escuto Antonella retrucar e tenho quase certeza pelos sons das risadas infantis, que está a fazer cócegas no filho.― É mamãe. Eu vi um homem hoje que não tinha cabelo. – o pequeno diz e posso notar certa inquietação― Algumas pessoas quando ficam mais velhas, perdem um pouco de cabelo. ― Não quero perder meu cabelo quando crescer. – Matteo reclama e não consigo esconder um sorriso com sua preocupação. Estou para abrir a porta, quando meu telefone apita me informando de acabara de chegar uma mensagem. Checo o aparelho e vejo que é uma mensagem de Sergey. Imediatamente ligo para ele.― O que descobriu? – indago―Temos problemas. – responde―Isso você já me disse. Quero saber o que teremos que enfrentar dessa vez. – digo ríspido―Federico Macri. ― só a menção do nome do homem que traiu minha dorogoy, faz meu sangue ferver― Fique de olho nele. Não deixe esse svoloch' chegar perto de nossa família. – peço e sei que Sergey não irá deixar isso acontecer. Desligo o telefone e me encaminho para o banheiro. Só um banho frio é capaz de esfriar minha cabeça agora. Entro no chuveiro, sentindo o gelo da água cair sobre meu corpo. Só de pensar que Federico pode tentar voltar para a vida de Antonella, começo a ver vermelho. Quem me vê assim pode até pensar que tenho sentimentos românticos por minha esposa, não posso negar que a amo e ao nosso menino, mas é um amor diferente. Antonella é como uma irmã que não tive. Pode parecer estranho eu Mikail Alexey Orekhov, filho e herdeiro de Alexander Vanin Orekhov, neto do grande Dmitry Orekhov, não sentir nenhuma atração por mulher, seria um escândalo em nossa organização. Até tentei me envolver com algumas mulheres russas, mas nunca consegui me entregar completamente, sentia que havia algo errado, já estava me conformando que talvez estivesse fadado a nunca amar alguém, até que conheci Sergey. Sergey Petrov era um dissidente do exército russo que fora recrutado por meu pai, junto com outros homens para fazer o trabalho sujo em nosso nome. No momento em que o vi, senti algo diferente, senti que alguma coisa despertou em mim. Claro que tentei tirar isso da cabeça, mas para minha surpresa e alegria, Sergey sentiu o mesmo. Nos encontrávamos as escondidas, em nosso lugar secreto, tal qual aqueles personagens do filme americano que expressavam seu amor em segredo, enquanto mantinham uma fachada máscula para a família. Estávamos levando nosso romance clandestino da melhor maneira possível, até que meu pai começou a desconfiar e exigiu que arranjasse uma esposa para continuar o legado da família Orekhov. E foi assim que conheci Antonella. Viemos a Itália para firmar um acordo de cooperação no comércio de armas na região comandada por Mattia Nigro, e tanto ele quanto meu pai, acharam que seria interessante unir nossas organizações não somente com um acordo comercial, mas de uma maneira mais definitiva. Foi assim que conheci Antonella. Sergey ficou relutante em aceitar com meu plano no início, e assim que conheceu Antonella e sua história, concordou imediatamente. Mas ainda havia um problema. Meu pai esteva exigindo um herdeiro e jamais dormiria com Antonella, acho que não seria capaz de tal ato nem para salvar minha vida. E quando descobri que esperava um filho daquele sukin syn, foi a deixa perfeita para convencê-la de meu acordo. Sou tirado de meus pensamentos com a vibração do telefone.― O que foi? – pergunto―Temos um problema. Federico Macri está em Riace Marina. E minhas fontes disseram que está atrás de Antonella.―Fique de olho nele. Não o deixe se aproximar dela e nem do menino. ―Entendido. – Sergey diz e desliga E agora mais essa. Não falarei nada para Antonella para não a assustar e tratarei de providenciar nossa volta a Moscou o mais rápido possível.

Observo Matteo dormir profundamente. Il mio piccolo. Vendo-o assim alheio a tudo, não consigo imaginar como será quando vir a descobrir sobre sua história. Me preparo para me deitar ao seu lado, quando vejo a tela de meu telefone se acender. Percebo que é uma ligação de um número desconhecido. Decido não atender, mas a pessoa insiste e acabo sendo vencida pela curiosidade.―Alô. – respondo atendendo a ligação―Mia bella ragazza. Como é bom escutar sua voz. – ouço sua voz grave do outro lado da linha―Acho que se enganou. – digo me preparando para desligar― Não se atreva a desligar o telefone Antonella. Eu já sei sobre o menino. -ouço-o dizer ―Não sei do que está falando. – falo tentando encerrar a ligação― Nem tente me enganar. Eu o vi, e sei que o sangue dos Macri corre em suas veias. Deve ser um engano. Não existe criança nenhuma.―Escute bem Antonella. O que você fez foi imperdoável. – começa a brigar e vejo meu pequeno se mexer na cama― O que você quer? – pergunto―Me encontre amanhã as dez horas no endereço que irei te enviar. – diz e desliga Fico estática segurando o telefone em meu ouvido. Sabia que algum dia isso poderia acontecer, mas não imaginava que seria tão cedo. A notícia de que Federico sabe sobre o meu pequeno é como um peso súbito, um segredo revelado antes do tempo. Olho para o meu filho dormindo na cama, preocupada com as consequências disso.Minha mente começa a trabalhar em um turbilhão de pensamentos. Como fez essa descoberta? Como conseguiu me rastrear tão rapidamente? O que isso significa para nós, para o meu pequeno? A incerteza paira no ar, e a urgência da mensagem recebida aumenta a tensão no ambiente.

Respiro fundo, tentando organizar meus pensamentos. Seja qual for o próximo passo, sei que devo enfrentar essa situação de frente. Amanhã, às dez horas, serei confrontada com a verdade que tentei manter escondida. Preparo-me mentalmente para o encontro, consciente de que a minha vida está prestes a mudar drasticamente.


A herdeira perdida da máfiaOnde histórias criam vida. Descubra agora